A pedagoga Silvia Helena Seixas tem uma atuação ligada à inserção social e ao combate ao racismo. Presidente do Conselho de Promoção da Igualdade de Ribeirão Preto e responsável regional da Coordenação Nacional de Entidades Negras, ela defende que a escola precisa ser atrativa e produzir pessoas que conheçam e respeitem as diferenças, como as culturais e as religiosas.
Para isso, segundo ela, é preciso ter um olhar diferenciado na formação dos profissionais que lidam com crianças e adolescentes, pois com isso, será possível viabilizar um futuro inclusivo para as futuras gerações.
Tribuna Ribeirão – O Brasil acaba de comemorar a Semana da Consciência Negra. Em sua opinião existe motivo para esta comemoração?
Silvia Seixas – Para comemorar, acredito que não. Mas o importante é utilizar esta data para fundamentalmente homenagear Zumbi dos Palmares e todos os outros negros e negras que colaboraram e colaboram para o combate ao racismo no país. (Zumbi foi um líder quilombola brasileiro, o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, o maior do período colonial brasileiro).
Dados recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que de cada dez jovens negros, quatro – quase metade 44,2 – não conclui o ensino médio. Como mudar esta realidade?
Silvia Seixas – Alterando o processo escolar já na Educação Infantil. A escola precisa ser atrativa e produzir pessoas que conheçam e respeitem as diferenças. Há uma autora chamada Maria Vitoria Benevides, que discute a Educação para a Democracia. Há dimensões de respeito, cidadania, meio ambiente que precisam ser apreendidas por nossas crianças. Não é possível que nossos adolescentes freqüentem a escola durante nove anos de sua vida (referindo-se ao tempo de duração do ensino fundamental), duzentos dias letivos por ano e em muitos casos não aprendam a ler e escrever um pequeno texto. Resquícios de uma abolição inacabada.
Em sua avaliação o racismo no Brasil tem diminuído?
Silvia Seixas – Não. Com absoluta certeza não. O que tem aumentado são os espaços de combate e discussão. Se o racismo tivesse diminuído o quadro seria outro. Para isso, seria preciso termos ministros que respeitassem as religiões de matriz áfrica, deputados que respeitassem a cultura negra e ações continuas no município de Ribeirão Preto. Para exemplificar, no secretariado da Prefeitura de Ribeirão Preto existe apenas uma mulher negra. Já no estado de São Paulo, nenhum secretário é negro e no Governo Federal também não existem ministros negros.
A legislação brasileira tem sido eficiente e eficaz na punição do racismo?
Silvia Seixas – Não. A legislação sozinha não resolve e é preciso sensibilizar os agentes públicos que executam e fazem as leis serem cumpridas. Não é possível admitir que um delegado de policia, por exemplo, não saiba a diferença entre calúnia, injúria e racismo e se recuse a lavratura de um flagrante. É preciso capacitar e sensibilizar.
Como garantir e viabilizar políticas públicas para a população mais pobre?
Silvia Seixas – Com coragem para mudar. É preciso ter um olhar diferenciado na formação dos profissionais que lidam com crianças e adolescentes e conseqüentemente estaremos garantindo um futuro melhor e inclusivo. O que nos faz diferente não pode nos fazer desiguais no acesso a direitos.
A que a senhora atribui o fato de ao longo da história, poucos negros em Ribeirão Preto terem sido eleitos para cargos eletivos ?
Silvia Seixas – Não existe uma política real de inclusão dos negros na política. Além disso, não existe qualquer política pública na Prefeitura de Ribeirão Preto de fortalecimento e inserção deste contingente da sociedade. Leis não são cumpridas, projetos não são realizados. É preciso se sentir representado e para haver representação. É preciso discutir o pertencimento e a identificação dos negros com os governantes por meio de políticas inclusivas.
A senhora tem uma atuação ligada à inserção social. Como classifica a atual administração municipal em relação à reinserção?
Silvia Seixas – A atual administração não tem uma política global de reinserção. Existem ações pontuais na Secretaria de Educação como a que estamos trabalhando para viabilizar que é a implantação de um Centro de Referencia para a educação para as relações étnico-raciais. Há outras ações pontuais sendo feitas, por exemplo, no Conselho Municipal de Educação. Mas na contramão temos uma Secretaria da Cultura, que sequer discute historia de patrimônio imaterial que possui Ribeirão Preto. Se focarmos na política de Assistência Social, existem pequenos municípios que estão na vanguarda de Ribeirão Preto, até mesmo na estrutura física de equipamentos. Um equipamento bem cuidado faz parte do acolhimento de qualidade. O serviço de fortalecimento de vínculos, por exemplo, poderia ser um espaço para a promoção da igualdade construído coletivamente e não com ações sem a lógica do pertencimento.