Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Meu querido amigo Sérgio Roxo da Fonseca, grande intelectual e professor de Direito, costuma dizer que todos nós, pelo menos uma vez ao ano, devemos visitar uma praia, para relaxarmos com a visão do mar infinito, sentirmos a brisa que sopra de dia do mar para a terra e, à noite em sentido contrário e viver os prazeres que a orla marítima proporciona.
Mesmo os que moram à beira-mar, diz ele, devem partir para outra praia, pois a experiência nova revivencia a vida.
Seguindo o conselho de meu amigo, passei alguns dias no litoral baiano. Mar quente, calor tropical, música, água de coco, muito sossego.
Toda vez que chego na praia coberta de coqueiros gigantes, que lançam suas folhas para receber os beijos do vento, recordo de um trecho do Tratado Descriptivo do Brazil, escrito por Gabriel Soares de Souza, em 1587 : “As palmeiras que dão cocos se dão bem na Bahia, melhor do que na Índia, porque metendo um coco debaixo da terra, a palmeira que dele nasce dá coco em cinco a seis anos, e na Índia não dão estas plantas frutos senão em vinte anos”.
O texto confirma o fato de que os coqueiros não são nativos do Brasil, mas, vierem trazidos pelos portugueses, no início de nossa colonização e se espalharam pelas regiões costeiras da mata atlântica nos cinco séculos seguintes.
São tão adaptados à paisagem litorânea que esquecemos de sua origem asiática. O coco fornece sua água não só para aplacar a nossa sede, como para hidratar as crianças doentes. Sua polpa é amplamente utilizada na culinária regional e sua casca serve para vasos e substrato para orquídeas.
Logo cedo, com o sol nascendo, iniciava minha caminhada nas alamedas do resort onde estava hospedado. Parecia que as suas instalações eram só minhas, pois era o único a caminhar. Mas, havia sempre companheiros de outro tipo: pica-paus de penacho vermelho, fazendo barulho bicando árvores; sabiás-laranjeira, o pássaro símbolo nacional, raramente encontrado em nossa região, muito parecido com nossos sabiás, porém mostrando seu peito cor de laranja e enchendo o espaço com seu canto delicioso; canários-da-terra em profusão, com seu amarelo pintando os gramados de ouro, em busca da semente da grama; cardeais, com seu corpo branco, asas manchadas de preto e seu inconfundível barrete cardinalício; lavandeirinhas, com seu branco entrecortado de preto, disputando as sementes com os canários; e também os pardais, sumidos de nossos quintais e que, no refeitório, disputavam as migalhas caídas das mesas.
De vez em quando, nas alamedas mais distantes, podia-se ver uma espécie de garça azulada, que logo se escondia na vegetação do mangue, bem como macacos pequenos, que, em bandos, fugiam para a segurança do altos coqueiros.
Mas, a grande surpresa ainda estava por vir. Numa das primeiras manhãs de minhas caminhadas, vi o que parecia ser um pequeno cachorro chupando uma manga caída da grande mangueira ao lado da alameda. Aproximei-me devagar e qual não foi minha surpresa ao verificar que era uma pequena raposa, deliciando-se com a fruta. Cheguei bem perto e ela me lançou um olhar de quem estava acostumada com as pessoas.
Depois, em conversa com o pessoal do resort, fiquei sabendo de que o animal vivia há mais de cinco anos nos seus jardins e era considerado uma mascote do hotel.
O encontro com a raposa completou minha alegria de estar na praia.
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras