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A radicalização da extrema-direita (Parte II)

Em nosso último artigo, começamos a discutir um texto de David Nemer, publicado no Intercept Brasil, sobre a radi­calização de grupos bolsonaristas na internet, após a eleição presidencial. Nemer faz uma classificação geral, dividindo-os em três grandes grupos que denomina de “propagandistas do governo”, “insurgentes” e “supremacistas sociais”. Já estávamos justamente falando dos insurgentes que já estão na oposição por decepção com o presidente. Embora a maioria fosse de voluntários, muitos deles afirmam que, durante a campa­nha, receberam dinheiro para manter o clima favorável ao candidato nos grupos de WhatsApp. Questionados sobre a origem do dinheiro, eles afirmam que um grupo de empresários, incluindo Paulo Maurinho, financiou a rede.

Eles também mencionaram milícias virtuais chamadas “Mo­vimentos Ativistas Virtuais”, os MAVs, que foram pagas para se infiltrar em grupos de WhatsApp e espalhar desinformação pró­-Bolsonaro. Nemer afirma que Taíse de Almeida Feijó também foi mencionada por ter sido paga para divulgar e disponibilizar as notícias falsas para os MAVs e bolsominions. Os insurgentes não mencionaram que o presidente ou sua equipe de campanha estavam diretamente envolvidos neste esquema, o que é difícil de acreditar. Taíse é atualmente assessora no gabinete do secretário­-geral da Presidência com um salário mensal de R$ 11.081,98.

O terceiro grupo, os supremacistas, é o mais radical e perigo­so. Eles se alinham com o discurso de extrema direita promovido pelo presidente e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro. Este promove sua retórica usando técnicas condizentes com a propa­ganda de extrema direita americana, como sua foto fashwave no perfil do Twitter. Trata-se de uma estética visual de um gênero de música eletrônica que se tornou meme para divulgar ideias extremistas. O fash significa fascismo. Os supremacistas sociais compartilham conteúdo pró-arma, racista, misógino, anti-LGBT, antissemita e anti-Nordeste. Eles levam novos membros para outros canais de discussão que eram frequentados também pelos autores do massacre da escola de Suzano. Esses canais são co­nhecidos pela propagação do ódio e de todo tipo de preconceito.

David Nemer lembra, inclusive, de outro canal: a página chamada “Homens Sanctos” no VK, o Facebook Russo. “Ho­mens Sanctos” é um grupo similar aos incels (celibatários involuntários), no qual o conteúdo pedófilo, racista e antissemita é fortemente compartilhado e celebrado. Eduardo Bolsonaro está conectado com frequentadores desses grupos e é pública a sua relação estreita e permanente com figuras da extrema direita internacional, como o ex-ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, o primeiro ministro húngaro Viktor Orbán e o estrate­gista político Steve Bannon, verdadeiro guru de toda essa gente junto com Olavo de Carvalho, o mais importante ideólogo da extrema-direita do Brasil.

David Nemer adverte que a radicalização pode começar em idade precoce, e os pais precisam prestar atenção no que seus filhos estão acessando na internet. Os filhos podem se tornar radicais devido à forma como os pais trazem os assuntos políti­cos e sociais para dentro de casa. Por isso, é sempre necessário conversar com eles e engajá-los em discussões de assuntos que são complexos por natureza. O Google, o Facebook e o Twit­ter vêm reprimindo os discursos violentos e de ódio com mais firmeza recentemente, mas o movimento é ainda muito lento. O Facebook e o Twitter já baniram de suas plataformas figuras co­nhecidas pelo discurso extremista e teorias de conspiração como Milo Yiannopoulos e Alex Jones, mas que ainda têm milhares de seguidores no Telegram.

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