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A propósito do 5G

O leilão de outorga da nova tecnologia, que permitirá inter­net mais rápida e soluções online ainda não vistas, com mudan­ças radicais nas comunicações, despertou em mim memórias de dificuldades antigas, que os mais novos não vivenciaram. A velo­cidade com que as inovações se espalharam até agora fazem-nos esquecer das dificuldades de comunicação que todos vivemos. E não estou falando de muito tempo atrás.

Na década de 1950, quando, ainda menino e vivia numa Ribeirão Preto de 92.000 habitantes, não havia telefones sufi­cientes para todos. As centrais eram operadas por telefonistas que tinham à sua frente uma enormidade de cabos conec­tando manualmente duas linhas. Os aparelhos tinham uma manivela, bastava girá-la e do outro lado atendia uma das te­lefonistas. “Por favor, me ligue com o número 18”, dizíamos. E a ligação era completada, acionando-se depois outra manivela que fazia tocar uma campainha no telefone chamado. Para os destinos mais conhecidos, não era preciso dar o número, bastava pedir: “Por favor, me ligue com fulano de tal”.

Na nossa casa, não havia telefone, pois a central operante não admitia novos números. Como vivíamos numa residên­cia ao lado da de meus avós paternos, compartilhávamos o número 147: quando alguém queria falar conosco, minha avó abria a janela e tocava um sininho: era sinal de que precisaría­mos ir até a casa dela para atender à chamada.

A instalação de telefones em nossa cidade data do final do século XIX. Depois de várias iniciativas particulares, hou­ve a municipalização dos serviços, com a criação, em 1938, do Serviço Telefônico Municipal, substituído, em 1955 pelo DAET – Departamento de Água, Esgoto e Telefone e, em 1969, pela Ceterp, iniciativa do operoso Prefeito Municipal Antônio Duarte Nogueira. A Ceterp foi fundamental para o progresso da telefonia local.

As ligações locais passaram a ser feitas por centrais au­tomáticas, mas não era fácil a vida de quem necessitasse de ligações interurbanas. Não havia DDD e era preciso acio­nar as telefonistas e não havia como prever quando seriam completadas. Demoravam horas, algumas vezes dias. Havia um serviço pelo qual você podia agendar a ligação com hora marcada, desde que acionado com antecedência. Mas, mesmo assim, não era garantido. Ligações internacionais eram sonho de uma noite de verão.

Esperava-se de três a cinco anos para se obter uma linha e o aparelho, fazendo surgir um mercado paralelo de venda e aluguel de telefones. Um amigo meu aposentou-se, conseguiu comprar no mercado vinte linhas telefônicas e, com o aluguel delas, levava uma vida tranquila.

A Revolução de 1964, por questões de segurança nacional e vendo a necessidade de comunicações rápidas e eficientes que ligassem todo o país, investiu e modernizou a telefonia nacional. Surgiram o DDD e DDI, as ligações se tornaram modernas e o país pode se comunicar entre si e com o mundo.

Em 1990, com vinte anos de atraso em relação aos países mais desenvolvidos, chegou ao país o telefone celular. Inicial­mente só telefone e aparelho enorme, o celular foi se desen­volvendo, até chegar aos smartphones de hoje, verdadeiros computadores portáteis de enorme capacidade. Temos mais de 250.000.000 unidades em uso no país, número maior que nossa população.
Se hoje achamos que nossos telefones são fantásticos, es­peremos para ver o que os mesmos poderão fazer, com o uso da tecnologia 5G.

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