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A potência que não pode acontecer

A compreensão dos militares no palco da política oficial brasileira ou escapa à compreensão ou oferece poucos elementos para um caminhar seguro, institucional, político e social.

Essa neblina, associada à aspereza do presidente, que diariamente gera um atrito, ou novo ou repetido, com pessoas ou instituições, desvia o que precisa de debate aprofundado. Perdeu-se um sentimento de nação, que não se recupera só cantando o hino nacional, já que seu forte adviria de um Brasil organizado, que soubesse exatamente qual o Estado de que necessitamos para gerir essa generosa população, que habita esse imenso e rico território.

A desossada do Estado de bem estar pelos que pretendem substituí­-lo pelo chamado Estado mínimo, que nunca existiu, necessita do exercício do preconceito do vira-lata, para imputar aos brasileiros a pecha convenien­te de incapacidade de gestão, por forte tendência à corrupção, e com isso aproveitam para alienar justamente o que dá lucro. O requinte desse espírito alienado chega ao ponto de querer que a população pague para ver seu patrimônio público ser alienado, como é o caso da Eletrobrás.

Nesse cenário de instabilidade, militares ocupam à máquina do Estado aos milhares, impassíveis à politica de alienação do patrimônio nacional, como também à desestabilização ocasional dos Poderes da República, como se a deslegitimação de cada um servisse à um plano de anarquia.

Internacionalmente, o país perdeu não só o protagonismo latino-a­mericano, como é alvo de desprestigio crescente, inclusive pela inércia diante do emagrecimento da fiscalização e defesa do meio ambiente, como pelo disfarce do incentivo à invasão de terras indígenas, que destroem as florestas e os rios com a mineração. E, ainda e gravemente, a desfaçatez do negacionismo da ciência e da vacina, do isolamento e da mascara, que atrasou a defesa da vida de milhares de brasileiros mortos.

As Forças Armadas parecem viver a ideologia da guerra fria, na qual a oposição interna é tratada como inimiga, e como objeto da disseminação do chamado gabinete do ódio. Não se pode generalizar com a expressão “forças armadas”, mas com certeza os que estão no poder dirigem Bolsonaro.

Retrocedeu-se na política externa, dedicando-se à simples vassala­gem, enquanto que no âmbito interno instala-se o ódio calculado.

Eis o resumo do Brasil, “a potencia que não pode acontecer”, frase de um jornalista.
Entretanto, fontes civis e militares dão a pista da nova realidade, tal como a compreensão do antropólogo social, Piero Leirner, da Univer­sidade Federal de São Carlos, que há trinta anos pesquisa a relação dos militares com a sociedade brasileira, e com os quais mantém o que ele denomina de “desconfiança mútua”, sendo que essa sua compreensão coincide com a revelada pelo coronel da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza, elucidando o beco em que entramos e estamos, ou a bitola estreita em que circulamos.

Para o coronel, em entrevista à UOL, “Bolsonaro obedece o Parti­do Militar”, que é dirigido pela turma de 1970, formada na Academia Militar de Agulhas Negras, próxima do presidente e que chegou ao generalato. Foi “um cavalo de troia para os militares tomarem o Poder”.

Enquanto para o antropólogo, na sua entrevista ao TheIntercept, ele diz “Não haver uma oposição entre setor militar e o bolsonarismo ideológi­co, representado pelas bobagens de Olavo de Carvalho e as fake news de Carlos Bolsonaro”. E prossegue: “Bolsonaro Presidente é um projeto bem sucedido do alto comando militar”. Finalmente, “Bolsonaro tem papel de causar explosão para permitir ação “reparadora” de militares”.

De acordo com Pimentel “é intenção do Partido Militar fazer crer que há um conflito, entre duas “alas”, a “racional” composta pelos mili­tares, e uma “ideológica”, feita pelo chamado “gabinete do ódio, coman­dada pelo filho do presidente”. Para ele, não haveria risco algum de golpe por parte dos militares porque eles já estão no poder. “Os que sempre deram o golpe no Brasil já estão no poder”.

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