Recente estudo científico indica medidas factíveis para a descarbonização da economia na Amazônia Legal. Revelador e estratégico, o relatório demonstra que os investimentos necessários à transição energética-econômica de reduzido risco climático seriam bem menores do que os custos de remediação dos impactos provocados pela expansão das atividades intensivas em carbono.
A região amazônica atuaria como catalizadora de uma economia descarbonizada para todo o Brasil, uma vez intenso fluxo de investimentos, insumos e produtos trocados entre as regiões.
Lá fora o Brasil é visto como periferia da Amazônia; o contrário de como enxergamos aqui. Mas, independentemente da ótica, é certo que não há futuro para o país sem a Amazônia Legal (AML).
Esta região recobre 60% do território brasileiro, possui a mais extensa e biodiversa floresta do mundo, o maior reservatório de água doce e o mais importante conjunto florestal de regulação climática do planeta – 120 Gigatoneladas de Carbono (GtCO2) acima do solo, o que equivale a 12 vezes as emissões anuais provenientes das atividades econômicas globais. Além disso, abriga 28 milhões de brasileiros, 198 etnias indígenas e 50 famílias linguísticas.
Intitulado “Nova Economia da Amazônia (NEA)”, o trabalho foi desenvolvido por 75 pesquisadores de várias regiões do país sob a coordenação do WRI Brasil; instituto de pesquisa com atuação em muitos países que procura aliar excelência técnica e governança socioambiental. Por meio da combinação de diferentes técnicas econométricas, foi possível fazer uma análise compreensiva da economia atual da AML e vislumbrar diferentes cenários para seu futuro econômico.
Duas situações principais foram projetadas: uma denominada de “sustentação tecnológica”, onde as emissões estariam limitadas à meta brasileira prevista no Acordo de Paris, ou seja, um teto de emissão de 7,7GtCO2 até 2050; a outra, chamada de “sustentação florestal”, onde o desmatamento seria zerado, forçando a otimização do uso da terra com aumento da produtividade agropecuária.
O resultado demonstrou ser necessário combinar as duas situações citadas, associado ao investimento na descarbonização da agropecuária e da matriz energética, bem como, a restauração de 24 milhões de hectares de florestas.
O estudo revela que não há transição tecnológica capaz de compensar o impacto da devastação da floresta e propõe também a “bioeconomia da floresta em pé e rios fluindo”. Interessante registrar que os métodos convencionais empregados até então não permitiam diferenciar a economia da floresta em pé da economia do desmatamento. Assim, tem-se escondido ao longo de décadas a boa performance da bioeconomia.
Na rastreabilidade de 13 produtos nativos – extrativismo e agroextrativismo – para os quais há dados seguros, detectou-se que no ano de 2015 o valor bruto de produção foi da ordem de R$ 15 bilhões somente na AML. São os produtos: açaí-fruto, açaí-palmito, cacau, castanha, babaçu coco, babaçu óleo, cupuaçu, mel, borracha, buriti, urucum, copaíba e andiroba.
No cenário de transição NEA, a bioeconomia atingiria R$ 38,5 bilhões em 2050, empregando 947 mil pessoas. O impacto seria positivo no setor secundário – processamento artesanal e industrial e no terciário – comércio, serviços e consumo final.
Ou seja, da coleta de cachos de buritis nas veredas amazônicas até à geleia servida em restaurantes franceses; do apanho de cachos de açaís em quintais paraenses até o delicioso creme na boca dos surfistas californianos, toda a cadeia produtiva ganharia escala e os produtos, melhores valores.
Em síntese, seriam necessários R$ 2,56 trilhões de investimentos para financiar a transição, ou 4,5% do PIB brasileiro nos próximos 25 anos. Não fazer a transição ou não contribuir para frear o aquecimento abaixo de 2ºC, poderia custar até 18% do PIB segundo alguns estudos.
Temos ambiente político e capacidade institucional para planificar e executar tal feito?
Consulte o estudo em www.wribrasil.org.br/nova-economia-da-amazonia.