É nossa tradição é de celebrar a solenidade com Missa, ultimamente introduziu-se também o ritual da celebração ecumênica. É minha opinião, senhor presidente, que se alternassem as celebrações e que as decisões fossem tomadas a partir dos desejos dos participantes.
Páscoa festa judaica, festa cristã, festa de Cristo Cósmico.
A Páscoa é o memorial de fatos épicos narrados no antigo testamento, que se completam e realizam no novo testamento.
Trata-se da celebração da aliança, ou esponsais, entre Deus e o povo.
Na antiga aliança, através dos Patriarcas, Abraham, Isaque e Jacó, Deus toma iniciativa de estabelecer aliança com o povo de Israel e através dos dez mandamentos, garantir prosperidade e felicidade para seu povo.
O povo de Javé devia manter-se fiel ao monoteísmo e afastar-se da influência dos povos que adoravam ídolos feitos de barros que tem olhos e não enxergam, orelhas e não ouvem. O povo, porém, é infiel e, muitas vezes, opta pela idolatria e até oferece a Deus sacrifícios humanos repudiados pelo Deus dos patriarcas, que não quer a morte, mas a vida.
Se o povo rompe aliança que gera escravidão, o Deus de Jacó, porém, é fiel e continua a amar seu povo de afeição sem limites.
A riqueza das demonstrações do amor de Deus gera estupor pela diversidade das manifestações afetivas que se tornam esponsais e até eróticas.
“Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Quanto mais eu o chamava, mais ele se afastava de mim e oferecia sacrifícios aos ídolos”.
“Fui eu quem ensinei Efraim a andar, tomando-o nos braços; fui eu quem o curei. Eu o conduzi com laços de amor e me inclinei para alimentá-lo.
“Pode uma mulher esquecer-se de seu filho? Ainda que se esquecesse, eu, todavia, não me esquecerei de ti”. Oséias 11.1 – 7
Desposar-te-ei comigo para sempre com benignidade e misericórdias. E conhecerás ao Senhor. (Oséias 2:19,20).
No Cântico dos Cânticos o amor de Deus se expressa em maneira até sensual: “Como és bela, minha amada, como és linda! Os teus olhos, são viçosos como os olhos das jovens pombas de Israel”.
“Ah, se ele me beijasse, se a sua boca me cobrisse de beijos…
Sim, as suas carícias são mais agradáveis que o vinho
Você fez disparar o meu coração, minha irmã, minha noiva;
fez disparar o meu coração com um simples olhar”. Cânticos 4,1
Apesar de tantas demonstrações do amor, o povo é infiel e rompe com a aliança que gera infelicidade, guerras, escravidão e exílio na Babilônia. Neste quadro se insere o livro do Êxodo, provavelmente escrito no exílio de Nabucodonosor (VI século a.C.)
O Êxodo é a narração da Páscoa hebraica. É a epopeia do povo da primeira aliança. Javé é o principal protagonista. É Ele, Deus, que, do alto do céu, vê sofrimento do seu povo cada vez mais pisoteado pelo Faraó. Convoca Moisés para comandar a saída do Egito. Protege seu povo em mil maneiras. O sangue do cordeiro liberta da morte os primogênitos do seu povo. Javé caminha com seu povo no deserto e o protege do sol escaldante com uma nuvem.
Encurralado entre o mar e a cavalaria do poderoso exército do Faraó, abre-lhe o caminho no mar. No deserto alimenta o povo com o maná. Milagrosamente sacia a sede com água cristalina que faz surgir da rocha.
Estes acontecimentos épicos são constantemente citados na Bíblia e devem ser lembrados sempre, especialmente nos rituais da Páscoa que inclui comer pão ázimo e o cordeiro, sem lhe quebrar os ossos “E quando o teu filho, amanhã, te perguntar: ‘Que significa isto? Tu lhe responderás: ‘O Senhor tirou-nos da escravidão do Egito, com mão forte.
Esta é a Páscoa judaica.
Na última ceia Jesus realiza os rituais conforme esta tradição e estabelece a nova e eterna Aliança. Nos brinda com o novo mandamento de nos amarmos como Ele nos ama. Não mais olho por olhos, mas o perdão até para os inimigos. E é o primeiro a dar exemplo. Oferecer-se livremente à morte. Não mais sacrifícios de cordeiros, pois é Ele o verdadeiro e único cordeiro de Deus que liberta da escravidão do mal e da morte. Morrendo e ressuscitando abre-nos as portas para a Páscoa eterna. Não mais a aliança com um só povo eleito, mas toda a humanidade, em Cristo, torna-se um único povo escolhido, pelo qual Jesus oferece sua vida.
Aqui gostaria de abrir um parêntese: nosso Conselho é reflexo do contingente dos nossos sócios que tem pessoas de todos os credos e deve ter até ateus. Então é natural que surgem perguntas: “Tudo isso não seria poesia? Jesus Cristo realmente existiu? Não seria uma criação fantasiosa de piedosos religiosos? Os evangelhos são autênticos?
São perguntas importantes que exigem mais tempos de resposta. Tentarei de ser objetivo e rápido.
A história se faz com testemunhos e documentos. Quanto aos testemunhos, os evangelistas Mateus e João conviveram com Jesus. Marcos e Lucas foram contemporâneos de Cristo.
Acerca da autenticidade dos Evangelhos, no ano 1947, nas grutas de Qumram, perto do Mar Morto, foram encontrados papiros do primeiro século contendo versículos do Evangelho. Estes papiros atestam a autenticidades dos evangelhos.
Só para ter uma ideia o código mais antigo do “De bello gallico” de Júlio César, é de 500 anos após sua composição. Rejeitar a autenticidade dos Evangelhos e a existência histórica de Cristo é rejeitar a ciência.
Cristo é único no mundo que tem sua biografia escrita entre oitocentos e mil anos antes do seu nascimento: Ele é o messias prometido e esperado. Deveria nascer em Belém, seria o servo de Javé, da descendência de Davi. É traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas chagas somos curados. ( Isaias, 52)
Derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu. ( Isaias 52)
Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca. Isaías 53:7
A profecia do salmo 22 de Daví chega a detalhes que só se realizaram em Cristo: “Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançam sorte”Tudo isso não se verifica na vida de Daví, masapenas na vida de Jesus! João, presente no Calvário, narra: “Os soldados, que tinham crucificado Jesus, tomaram as suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma parte para cada soldado. E quando se aproximaram de Jesus e viram que Ele já estava morto, não lhe quebraram as pernas. E todas essas coisas ocorreram para que se cumprisse a Escritura: “Nenhum dos seus ossos será quebrado. ” João 19: 33 e 36.
Assim como não se podia querar os ossos do cordeiro no ritual da Páscoa!
A Páscoa judaica é o memorial da épica passagem a pé enxuto pelo mar vermelho que marca a conquista da liberdade da escravidão do Faraó através da aliança com Deus.
A Páscoa cristã é da morte para a vida! Com sua morte e ressurreição, Cristo nos liberta da morte e nos dá a certeza da vida eterna. A Ressurreição de Cristo, fundamento do cristianismo, marca a epopeia do novo povo de Deus a caminho de uma nova sociedade.
O Cristo histórico que caminha na Palestina anunciando o Reino de Deus, com sua ressurreição torna-se Cristo cósmico, vivo na humanidade, vivo em cada um de nós a conduzir a história para o reino do amor e da paz do seu e nosso Pai.
Cristo continua a trabalhar, sofrer, morrer e ressuscitar em todas as pessoas que lutam, sofrem e morrem para distribuir paz, vida e vida em abundância.
É Cristo é a força dos mártires. Através da renúncia de si mesmos se colocam a serviço do próximo e são capazes de doar até a própria vida.
Cristo caminha com seu povo, rumo à uma nova sociedade onde deve reinar o amor. A ressurreição dele é também a nossa, quando trabalhamos por mais justiça, paz e amor.
Nós da Associação dos funcionários públicos constituímos ressurreição, quando lutamos para dar mais vida aos associados.
Assim fazendo, preparamos nossa Páscoa eterna, quando Cristo transformará este nosso corpo mortal em corpo imortal, não mais sujeito a doenças, dores e corrupção e finitude, mas glorioso e esplendoroso como o corpo dele.
A ressurreição de Cristo é a nossa ressurreição e fundamento da nossa fé. Como diz São Paulo:
“Se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. É necessário que este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade, e este corpo mortal se revista de imortalidade. (1Coríntios 15:12-23)
Esta é a fé cristã: Creio na ressurreição da carne.
A Páscoa cristã marca a nova aliança de Deus que quer tornar a humanidade um único povo de Deus, onde não há distinções entre gregos e romanos, escravos e livres, homem e mulher e todos à serviço do amor.
Na missa fazemos memória da paixão, morte e ressuscitado de Cristo. Na missa, Cristo nos une ao Pai na síntese de toda a epopeia divina de um Deus apaixonado por nós que se doa em alimento com seu Corpo e Sangue, nas espécies do pão e do vinho.
Como funcionários públicos, recebemos do Cristo ressuscitado e vivo em nós a missão e a força para a difundir mais vida aos nossos associados, pois Cristo se identifica com eles: “ Tudo que fizerdes a um destes pequeninos, é a mim que o fareis”! ( Mt 25:40)
E mais.
No deserto do dia a dia do nosso trabalho de servidores do Estado e não de governo algum, encurralados pelo mar da nossa fraqueza, espremidos pela ferocidade dos nossos governantes, a Páscoa nos confere o legado de atravessar o mar revolto, a pé enxuto, defender a liberdade do nosso trabalho, pois só esta autonomia poderá garantir ao Brasil progresso e vida plena. Sozinhos nada podemos, Cristo, novo Moisés, caminha conosco. Com Ele somos livres e venceremos os novos faraós!