Após quase dois anos fora das salas de aula, a maioria das crianças e adolescentes já retomou as atividades presenciais, porém o que seria motivo de alegria se transforma em uma grande preocupação, tudo por causa dos inúmeros registros de violência dentro das escolas. Chamadas por alguns de “pandemia emocional” as marcas deixadas pela triste realidade experimentada com o advento da covid-19 são evidentes.
O que muitos adultos não perceberam é que crianças e adolescentes também não estavam preparados para vivenciar as dores das perdas, das ausências e medo do futuro. Em quase toda família existe um exemplo de morte, desemprego, tristeza, angústia e preocupação e quem sente mais?
É importante frisar que o problema é antigo e agora foi potencializado. Há muito tempo os educadores já alertavam para a situação. Registros policiais e denúncias nos Conselhos Tutelares e Rede Protetiva já eram constantes, pois depois do lar, a escola é o primeiro e principal local de proteção aos menores.
Lamentavelmente muitos banalizam o bullying e desconhecem que ele é caracterizado por qualquer procedimento que pode acarretar a exclusão social, entre os quais, subtrair coisa alheia para humilhar; perseguir; discriminar; amedrontar; destruir pertences; instigar atos violentos, inclusive utilizando-se de meios tecnológicos. Ele é a porta de entrada para outras violências, até mesmo as que atentam contra a vida.
Não podemos minimizar a questão, devemos entender que a vida em sociedade é marcada por valores e normas de conduta que orientam o comportamento individual e coletivo. É na infância e na adolescência que se moldam os humanos e como será seu relacionamento com outros humanos.
Então se as referências de autoridade como pais, familiares, professores, governantes e até policiais são violentos, agressivos, incompreensivos e desrespeitam a lei e o próximo, possivelmente estas atitudes serão entronizadas e reproduzidas pelos menores.
Além das agressões entre os alunos, existe a violência contra os profissionais da educação. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em conjunto com a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) em 2019, apontou que 54% dos professores da rede pública estadual de São Paulo disseram já ter sofrido pessoalmente algum tipo de violência dentro da escola.
A violência escolar merece um debate qualificado, desapaixonado e não pode ser eleitoreiro. Não existem soluções mágicas, mas existem atitudes possíveis e efetivas. Em nossa passagem pelo legislativo municipal, além dos amplos debates pela Comissão de Educação e nas audiências públicas para elaboração do Plano Municipal de Educação, deixamos dois importantes dispositivos legais: a Comissão de Mediação de Conflitos e o Pacto Municipal Social visando o combate ao “bullying”.
A Comissão tem por objetivo atuar na prevenção e resolução de conflitos que envolvam alunos, professores, familiares e servidores da comunidade escolar e seu entorno. Já o Pacto Social tem por finalidade precípua a inclusão de medidas de conscientização, prevenção e combater a prática do “bullying”. Esclarecendo aspectos éticos e legais, orientando os envolvidos para recuperação de autoestima, pleno desenvolvimento e convivência harmônica no ambiente escolar. Além de não serem implementados agora alguns buscam alterá-los ou dar nova roupagem.
Gestores públicos e parlamentares precisam envidar esforços, aplicar devidamente os polpudos recursos financeiros disponíveis e acima de tudo, devem acreditam na causa. As famílias precisam se envolver no processo de percepção, acompanhamento e crescimento da solução conjunta.
Além da educação formal, o ambiente escolar deve estimular a cultura de paz fomentando a amizade, a solidariedade, a cooperação, o respeito, o diálogo e o companheirismo, coibindo atos de agressão, discriminação e humilhação e qualquer outro comportamento de intimidação, constrangimento ou violência.