Tribuna Ribeirão
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A palavra é ação 

Feres Sabino * 
advogadoferessabino.wordpress.com 
 
Se as palavras não fossem ação, os aprendizes da ditadura, ou os próprios ditadores, não falariam aos seus adeptos ou devotos, repetindo desbragadamente seu amor à democracia tóxica, para a qual pede para que a aceitem, conforme sua formulação pervertida, especialmente quanto àquele dístico da “Morrer pela liberdade”, quando essa sua liberdade extravasa os limites da normal convivência, da razoabilidade, o natural respeito necessário ao convívio da comunidade.  
 
No direito penal, a compreensão do acusado no contexto da ação criminosa, tem como princípio o da verdade real, através do qual você examina a personalidade, as circunstancias de vida, o que marcou sua vida anterior e próxima, sua vida familiar e como agiu nela e em relação a ela. Princípio é princípio, amor à verdade é amor à verdade, nem sempre seguido pela justiça ocupada com o volume de processos, a ânsia antecipada de magistrados com sua longínquo aposentadoria, e a preocupação de toda dia, que o ocupa para tantos afazeres, inclusive dar aulas na universidade, o que é permitido pela Constituição, mas que, exemplarmente, em Portugal era proibido de receberem salário ou remuneração, se frequência houvesse. É a preservação para que a dedicação exclusiva seja realmente exclusiva para a realização do dever máximo e sagrado de julgar.  
 
A palavra é ação. 
 
Nos centros religiosos, tal como nos palanques ou tribunas políticas, a inflexão da palavra tem o efeito de introduzir-se na mente e na consciência de quem esteja presente, fazendo a pessoa agir de acordo com aquela promessa discursiva para o bem e para o mal. 
 
A palavra é ação. 
 
Se o Brasil já teve Presidente que encantou o Brasil, a ponto de inspirar esperança de novos tempos de soberania e paz, que foi o Presidente Juscelino, seu otimismo esparramou-se pelo país inteiro, significando nova era de desenvolvimento social, despertar cultural, e de lambuja aquele sorriso alegre, que também foi uma marca de sua época. O Presidente bossa-nova. 
 
A palavra é ação. 
 
Mas o Brasil tem também uma época de sombra, de espírito do ódio que deseja destruir o Poder Judiciário, através do abastardamento do Supremo Tribunal Federal, querendo fazer crer que o mal do país está concentrado ali, quando na verdade sua função é estabelecer freios e limites a atuação do pregador da ditadura, que durante quatro anos destilou ódio, mais ódio, e que agora, escreveu o “Aceitem a Democracia”, cujo teor é um hino de libertinagem e de violência disfarçada. 
 
Não teria necessidade de prova alguma da ligação  do inelegível com a estupidez coletiva daquele 8 de janeiro, que a desfaçatez quer dizer que só “velhinhas” dele participaram, como se não houvesse as provas documentais, fotos, filmes, daquela vergonha, histórica e nacional, que não se pode esquecer, simplesmente porque não pode ser repetida. São fatos e atos públicos e notórios, independem de prova. 
 
O inelegível acertou seu desligamento, que não foi a passagem para a reserva, como acertaram depois, ele presidente, para sua filha entrar na Escola militar, sem concurso.  Ele deputado federal, por trinta anos, nada fez de importância positiva, mas agraciou homenageou, tal como fez seu filho em outra casa das leis, o capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, matador de fazer inveja, Adriano da Nobrega, que morreu fuzilado na Bahia, como queima de arquivos, e cujo corpo teria vindo oco para o Rio de Janeiro, para que não se descobrisse o roteiro das balas assassinas. Em entrevista veiculado à época na TV, ele, deputado federal, corajoso, declarou que se fosse Presidente da República fecharia o Congresso Nacional e mandaria matar 30.000 (trinta mil) brasileiros, como início da redenção nacional. É um cultor da morte, e muito depois celebrou a memória do torturador-mor do Brasil, general Ustra. Na sua continua provocação, escarrou o câncer cívico, no busto do deputado cassado Rubens Paiva, único parlamentar desaparecido pela ditadura militar. 
 
Sob o disfarce dos locais de treino de tiro ao alvo, liberou a compra de armas pesadas, armando verdadeiras milicias, para a hora “h” do golpe longamente preparado como projeto do seu governo destemperado. 
 
A palavra é ação. 
 
8 de janeiro, a palavra decretou o absurdo. Caminhão de gasolina, próximo do Aeroporto de Brasília, ataque anterior ao prédio da Polícia Federal, destruição dos prédios símbolos dos Poderes da República. Duas torres de energia, que ninguém falou delas, e de uma terceira que sofreu uma tentativa de derrubada. 
 
Quem deu a palavra dessa ordem? Como a palavra é ação, não existe ação sem palavra. 
 
A palavra é ação. 
 
Agora, o candidato a vereador em Santa Catarina, coincidentemente do mesmo Partido político do inelegível, ouviu as ordens que circulam no espaço sideral, e obedeceu ao seu tutor mental, agindo em favor da “liberdade de todos”, porque “Deus está acima de tudo”, e explodiu uma bomba na própria cabeça e outras tantas ficaram no próprio corpo, e outras lá na garagem do Congresso. 
 
A palavra é ação. Tal como a diz também o sacerdote do ódio. 
 
* Procurador-geral do Estado no governo de André Franco Montoro e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras 

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