A corrupção é como a violência, não nos abandona nunca, e se não tivermos desenvolvidos os freios da civilidade e da ética, uma e outra crescem desenfreadamente, especialmente num país onde o maior problema e, portanto, a maior injustiça, é a da desigualdade social.
O corrupto, seja o que afana o direito pessoal alheio ou o patrimônio público, ou aquele que aplica, destorcida e perversamente, a lei, igualam-se.
Um e outro, ou em nome da lei, que assaltam o patrimônio público da legalidade, ou em nome da violência que assalta o patrimônio privado, tratam a ordem jurídica com desprezo, sem tê-la como impositiva de conduta regular e ética para a convivência social.
Pior corrupção é de quem torce e destorce os princípios e as regras que compõem a ordem jurídica do país, propagando que, sem essa exorbitância não haverá combate à corrupção, único mal desse Brasil patrimonialista, na opinião desses ocasionais combatentes, que precisam dessa razão para se manterem no cenário público, em busca da carne podre da falsa ilusão induzida.
A criação dessa ilusão serve de alimento à vaidade pessoal, ambiciosa e sedenta de fama. É a visibilidade pública do falso herói desarmado que propicia palestras, que propiciam empresa de familiares, cuja finalidade é a de arrecadar dinheiro, convertendo discursos da imoralidade dos outros, em objeto desse mercado, que pensa ter a corrupção nascida ontem.
A conveniência se esquece de que o golpe militar de 1964 teve como razão a liquidação da corrupção dos outros. Durou vinte anos, e agora ela é convocada, de novo, para servir aos mesmos interesses econômicos, financeiros, ideológicos, e quiçá os estratégicos de potencia estrangeira?
Mas há uma diferença substancial: naquela época não se liquidaram empresas em nome do combate à corrupção. Qual o prejuízo dado ao Brasil com essa volúpia fundamentalista, que extinguiu milhares de empresas e milhões de empregos?
Os membros da “Lava-Jato” não derrubam a razão jurídica que inventavam para os vazamentos que saiam de seu núcleo. Mas, mesmo não admitindo que era obra de algum espírito do colegiado, apresentavam a justificativa – seu conteúdo é do interesse público.
Então, com o novo rumo do vento, confrontam-se, de um lado, a fonte jornalística que é protegida pela Constituição, e de outro os vazamentos dos tempos de glória de seus membros, que eram absolutamente ilegais e inconstitucionais, porque juiz e promotor devem cumprir a lei, e com uma peculiaridade: a fragilidade da pessoa presa deve ser protegida, e não explorada pela autoridade.
Combate à corrupção é luta diária de cada e de todos os cidadãos. É vigilância permanente dos membros de cada instituição ou Poder, conhecendo a realidade do país, no qual grassa esse vírus: a desigualdade social.
O santuário de Curitiba ficou nu, porque esse padrão de justiça fascista não é aquele traçado pela engenharia institucional do Brasil. Simples assim.
Enquanto o discurso fantasioso da moralidade pública era distribuído, em letra e prosa, o Brasil estava, como está, sendo entregue ao capital estrangeiro aos pedaços.
Tomemos consciência logo ou o Brasil achará que desistimos dele, dando vitória antecipada aos santos do pau oco, agora nus, em praça pública.