Devido às implicações teóricas e sociais do treinamento cognitivo ou cerebral, o mesmo tem sido um dos tópicos mais influentes na psicologia e neurociência nos dias atuais. A suposição subjacente ao treinamento cognitivo é que a habilidade cognitiva geral ou, mais prosaicamente, a inteligência pode ser enriquecida praticando-se tarefas cognitivas ou atividades intelectualmente demandantes. Mas por que é importante enriquecer a inteligência? É um fato amplamente aceito na literatura científica que a inteligência, um dos construtos mais bem estabelecidos na psicologia, é positivamente associada com um grande número de resultados socialmente relevantes, tais como, renda, mortalidade, saúde, desempenho profissional e educacional e, até mesmo, longevidade. Obviamente, pessoas inteligentes constituem um recurso fundamental para a sociedade, especialmente se elas podem preservar suas habilidades por toda a vida.
Dado este destaque, tem havido, nas duas últimas décadas, um substancial esforço para delinear e implementar programas de treinamento cognitivo para enriquecer a inteligência, reduzindo seu declínio na velhice. Não obstante a isso, os resultados têm sido inconsistentes. Pesquisadores não alcançaram ainda um consenso e isto tem sido chamado “a controvérsia do treinamento cognitivo” Para resolver estas discrepâncias, inúmero estudiosos têm realizado várias meta-análises, ou seja, considerando estudos experimentais publicados em diferentes quadrantes e em boas revistas, cujos controles experimentais são amplamente aceitos na comunidade científica, com as análises estatísticas permitindo derivar a contribuição de inúmeras variáveis estudadas em separado ou em conjunto.
Uma dessas meta-análises, publicada em 2018 no Trends in Cognitive Sciences, após considerar mais de uma centena de trabalhos, mostrou que praticar programas de treinamento cognitivo ou atividades cognitivamente demandantes não enriquecem a inteligência, no mínimo, tais intervenções conseguem melhorar o desempeno de alguém em tarefas similares às tarefas treinadas. Tais resultados sendo altamente consistentes entre todos os domínios revisados: efeitos mínimos sobre as habilidades cognitivas de domínio geral. Por outro lado, a variabilidade observada entre estudos é explicada pela qualidade do delineamento experimental e artefato estatístico.
Importante esclarecer que a impossibilidade de enriquecer a inteligência geral por treinamento, ou qualquer outra intervenção, não implica que a cognição humana não seja maleável ao treinamento. Pelo contrário, deve ser reconhecido que os benefícios associados com o treinamento são limitados às tarefas treinadas e, algumas vezes, às tarefas similares.
Assim considerando, e tomando junto inúmeras meta análises até então publicadas, o que se sabe é que os programas de treinamento cognitivo não têm revelado qualquer benefício apreciável, e, portanto, outras intervenções mais plausíveis de enriquecimento similar devem ser perseguidas.