Perci Guzzo *
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Áreas verdes urbanas são espaços livres de edificação e de construção, ou seja, espaços abertos para o céu, constituídas predominantemente por vegetação e solo permeável. Públicas ou privadas; grandes e pequenas; protegidas ou não por legislação ambiental; todas elas possuem serventia benéfica à cidade e a seus habitantes.
As quatro principais funções das áreas verdes urbanas, são: 1) melhoria das condições ambientais, uma vez que reduzem os efeitos indesejáveis da urbanização; 2) oferta de espaços para o lazer, a contemplação e o convívio social em contato com elementos naturais ou naturalizados; 3) ornamentação e diversificação da paisagem urbana; 4) produção de alimentos e demais produtos de origem vegetal, tais como resinas, madeira, fibras, óleos, flores, raízes e folhas.
A Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto elabora atualmente o Plano Estratégico do Sistema de Áreas Verdes e Arborização Urbana (PESAVAU), sob coordenação da Secretaria do Meio Ambiente. Desenvolve neste momento, entre outras frentes de trabalho, o diagnóstico das áreas verdes públicas (AVPs), com o objetivo de identificar características e vocações, planejar e projetar medidas de requalificação e demonstrar as transformações necessárias na administração pública para alcançar tais objetivos.
Em função do recrudescimento da má qualidade ambiental que se instala na cidade, quer pelas mudanças do clima, quer pelo modo obsoleto de planejar e executar obras públicas e privadas, propõe-se, estrategicamente, que o conjunto das áreas verdesseja tratado na perspectiva sistêmica e também como principal aliado para buscar a necessária resiliência climática urbana.
Assim sendo, trabalha-se com o conceito de qualificação do conjunto deáreas verdes públicas (AVPs), que devem abarcar dois principais objetivos: I) contribuir para a amenização dos impactos negativos das mudanças do clima, ou seja, que possua atributos ambientais e infraestruturais que facilitem a infiltração das águas pluviais no solo e subsolo, que atraia e abrigue variedade de espécies da fauna silvestre, que possua plantas (árvores, arbustos e forrações) que forneçam amplo sombreamento, conforto térmico e melhoria na qualidade do ar; II) ofertar espaço de lazer em suas diferentes modalidades e o desenvolvimento de atividades culturais que atraia, facilite o acesso e a permanência da população nas AVPs.
Para além do planejamento iniciado pelo PESAVAU, que não deve ser descontinuado na troca de governo municipal; pelo contrário, deve ser fortalecido, vislumbra-se as seguintes medidas integradoras, entre outras: a criação de incentivos e subsídios para proprietários e empreendedores privados visando preservar áreas verdes já existentes; a articulação da política de áreas verdes com outras políticas urbanas; a ampliação da fiscalização perante crimes contra a floresta urbananos espaços por ela ocupados; e a veiculação de campanha de valorização do verde urbano.
Dias atrás fui ver a peça “Tio Vânia” do dramaturgo russo Anton Pavlovitch Tchékhov aqui no teatro Pedro II. A história se passa na virada do século XIX para o XX em uma propriedade rural. Um dos personagens é o médico Astrov, amante das florestas que ainda restam naquela região da Rússia. A herdeira da propriedade, Sonia, guarda uma paixão avassaladora pelo homem de meia idade. Descreve sua admiraçãoenumerando infindas qualidades do médico que as atribui ao seu amor pela natureza: sensível, inteligente, vital, generoso, bonito, afetuoso…
Não estaríamos nos embrutecendo justamente pela experiência de viver em cidades que não oferece generosos bosques, belas praças, afetuosos parques e sensíveis áreas naturais?
* Ecólogo e Mestre em Geociências. Autor do livro “Na nervura da folha”, lançado em 2023 pelo selo Corixo Edições