José Eugenio Kaça *
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O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, e essa desigualdade permite que a maioria do seu povo viva em condições miseráveis, e ainda ser obrigado a agradecer pelas migalhas que sobram dos banquetes de gente que anda de mãos dadas com “Deus”, e por conta disso se julga superior. Gosto de conversar com pessoas que seguem alguma religião, e gostam de expressar a sua fé, e defender os dogmas que os “homens ungidos”, com suas habilidades impingem ao povo pobre e desvalido.A religião cristã se dividiu em diversas facções, e cada uma interpreta a Bíblia de acordo com a linha de pensamento de algum líder, que em algum momento recebeu diretamente de “Deus” as instruções para levar ao povo a sua palavra e cuidar do seu rebanho.
Num domingo de manhã, quando fazia a minha caminhada, passei em frente a uma destas igrejas, e como de costume o estacionamento estava lotado de carros, e muitos fies chegando de ônibus ou a pé – é a doutrina da prosperidade e da individualidade, que os homens ungidos conseguiram com muita habilidade mostrar para o pobre, não de graça, mas se forem fies nos dízimos e nas ofertas, as portas de um mundo de riquezas se abrirão.Avistei no estacionamento um velho conhecido, que é um obreiro fiel desta entidade. A nossa conversa começou pelos assuntos familiares, mas logo chegou na política. Na visão dele, as políticas do Governo Federal são equivocadas, pois não permite que a população pobre tenha liberdade para sonhar e progredir. Na visão dele o Bolsa Família e o Pé de Meia, não trazem benefícios para a população, pois deixam as pessoas preguiçosas e acomodadas. Ele também se mostra entusiasmado com as escolas militarizadas, como solução para a educação da periferia pobre.
Sobre o Pé de Meia, ele achou um absurdo o jovem pobre, de maioria preta, receber R$ 100,00 por mês para frequentar a escola. A vida foi feita para se viver em harmonia com a natureza e entre as pessoas, a natureza tem as suas leis, mas é o ser humano que tem a moral, e a usa para julgar seu próximo. A memoria humana muitas vezes é seletiva, e acaba esquecendo dos sofrimentos vividos. Ele na sua adolescência enveredou pelo caminho do desvio, e isso lhe trouxe alguns problemas com a polícia. Todos sabem que alguns policiais militares agem de maneira arbitrária nas periferias pobres, e durante a ditadura cívico-militar, a coisa era pior. Certa vez ele estava fumando um baseado, e foi abordado pela polícia militar, e cumprindo o protocolo de abordagem para as periferias pobres, o policial o agrediu fisicamente,e fez o mesmo engolir o baseado, coisa naturalizada nas periferias pobres.
Mesmo inconsciente, epor influência da religião, ele acaba defendendo seus opressores, e acha natural a exploração das classes menos favorecidas pelos donos do poder. A apropriação dos poderes da República pela parcela radical e extremista das igrejas pentecostais no Brasil está abrindo as portas do inferno. A pregação da prosperidade encanta o ser humano, principalmente aquele que vive na miséria, e a figura de Jesus Cristo é usada indevidamente para convencer os incautos. Precisamos quebrar os paradigmas e viver incluídos, não podemos continuar a viver dissociados e humilhados.
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação