Estou sempre contando a história de como essa ou aquela música foi composta, e adoro quando faço uma nova descoberta, como aconteceu nesta semana. Meu amigo Mauricio Bailone, a quem chamo carinhosamente de “meu maestro predileto”, é músico renomado aqui de Ribeirão Preto e líder da Banda Eles e Elas junto com a cantora Vanessa, sua sócia.
Maurício teve uma sacada genial, a de ensinar como se faz a segunda voz. Seu canal no Youtube está fazendo muito sucesso
Na programação tem tudo que ele sabe sobre essa tão criticada segunda voz, muito difícil de se fazer, pois é “outra música dentro da música”, ela vai sombreando a primeira voz, tem momentos em que tornam-se uma só. Confesso que não sou cantor, apenas gosto de cantar e até hoje não sei fazer a segunda voz.
Maurício é quem faz arranjos em minhas canções. Eu até disse a ele que “uma música sem arranjo é como um quadro sem moldura”. Estive em seu estúdio para gravar a música “Bandolins”, de Osvaldo Montenegro, para seu canal no Youtube. Ele faria a segunda voz e eu, a primeira. Ficou show de bola. Na oportunidade, ele contou a história de como Osvaldo Montenegro se inspirou para compor “Bandolins”.
Disse que o cantor José Alexandre, que com Oswaldo Montenegro defendeu esta música no festival da extinta Tupi, há 40 anos, lá em 1979, e ficou em terceiro lugar – Fagner ficou em primeiro com “Quem me levará sou eu”. Pois bem, disse ele que José Alexandre tinha uma irmã ainda menor de idade e que era apaixonada por um bailarino, mas ele teve que se mudar para Paris por motivos profissionais e queria que ela fosse junto.
Ela insistiu com a família, mas os pais não cederam. O casal se amava muito, mas o artista foi para a Europa só. Bastou o amigo lhe contar essa história para que aflorasse letra e música na cabeça genial deste cantor, poeta e compositor. Nascia então “Bandolins” – ouçam a música e vivam a história cantada.
Outra história também me foi passada pelo Dr. José Carlos Augusto Gama, advogado, professor de Direito e de quebra um maravilhoso poeta. Meu querido amigo e futuro parceiro musical, ele me passou um zap contando esta história, e fiz uma sinopse para o leitor.
Vinicius de Morais adorava compor em parceria e um dos mais constantes companheiros era Baden Powell, que havia composto uma melodia para o poeta letrar, só que, na época, ele estava morando em Petrópolis. Lá foi o violonista subir a serra carioca… Levou consigo garrafas de uísque, pois sabia que a parada com o poeta era dura.
Começaram a bebericar e Baden a cantarolar a melodia para o parceiro achar um caminho para dar início a letra. O tempo foi passando, a noite invadiu a madrugada, os dois já haviam derrotado três garrafas e nada do poeta começar a escrever, até que Baden resolveu enquadrar o parceiro: “Vini, o que houve? Já é madrugada e a letra não sai?”
Vinicius estava querendo falar, mas tinha medo de magoar seu parceiro. Baden insistiu tanto que Vinicius resolveu se abrir: “Sabe, Baden, não fiz a letra porque a música é um plágio, imagine a gente gravar um plágio, a crítica vai cair em cima, parceiro, é plágio de uma música de (Johann Sebastian) Bach.
Começava então uma discussão musical: “Não é plágio, é plágio”…
Até que Vinicius acordou a esposa, que conhecia a obra de Bach como poucos, e ela, para a felicidade dos dois, disse: “Baden, que música linda você fez, amigo, não tem nada a ver com Bach, esta música merece a mais linda poesia que se possa imaginar.” A bola agora estava com o poeta, a paz voltou a reinar e Vinicius vestiu a melodia de Baden com lindos versos e poesias, nascendo ali uma obra-prima dos dois, “ Samba em prelúdio”, que por onde vou fazer cantoria, canto com minha primeira-dama e os amigos cantam juntos.
Sexta conto mais.