O nome podia ser de quatrocentona, mas sua verdadeira vocação era a liberdade, que encontrou nos palcos. A paulistana Maria Alice Monteiro de Campos Vergueiro, mais conhecida por Maria Alice Vergueiro, morreu aos 85 anos, em São Paulo, nesta quarta-feira, 3 de junho, deixando um legado precioso nos palcos e fora deles.
Ela estava internada no Hospital da Clínicas, para tratamento de pneumonia, e seu corpo será cremado nesta quinta-feira (4), em Itapecerica da Serra, segundo sua filha Maria Silvia. Pedagoga, professora, atriz e diretora, ela formou alunos como Cacá Rosset, com quem fundou o irreverente Grupo Ornitorrinco (ao lado do ator, já falecido, Luiz Roberto Galizia).
Participou de montagens históricas, como “O Rei da Vela”, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, e pode ser definida como a maior atriz experimental de sua geração, no sentido de estar sempre aberta a novos autores e linguagens. Foi intérprete de clássicos (Shakespeare, Molière), modernos (Brecht, García Lorca) e contemporâneos (Jodorowsky) com a mesma paixão.
E com a mesma dedicação com que entrou no teatro pela primeira vez, em 1962, para participar de uma montagem de “A Mandrágora”, sob direção de Augusto Boal. Em mais de meio século de teatro, Maria Alice trabalhou com grandes diretores, além dos nomes já citados, de Gerald Thomas a Felipe Hirsch, contracenou com os melhores atores brasileiros (Paulo Autran, entre eles), mas isso não a transformou numa diva.
Exemplo da radicalidade de Maria Alice Vergueiro foi o espetáculo em que encenou o próprio velório, “Why the Horse?” (2015), em que a atriz encarou a própria morte ao lado do ator que a acompanhou em todos os últimos espetáculos, Luciano Chirolli. Já limitada pelas sequelas do mal de Parkinson e numa cadeira de rodas, Maria Alice, em 2015, queria morrer no palco, mas não foi atendida.