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A mercadoria chamada educação básica

No Brasil o alinhamento entre o setor público e privado, criou uma máxima usada quando os interesses de ambos convergem: “criar dificuldades, para vender facilidades”. Depreciar a gestão pública, escan­carando suas mazelas, para depois como bons samaritanos oferecem suas capacidades administrativas para resolver os problemas que o setor público, segundo eles não têm capacidade para resolver seus problemas, e estão dispostos a ajudardesde que seja por um preço módico – esse é o mantra do capital privado para abocanhar as riquezas que seriam do povo brasileiro.

A verba carimbada da educação básica pública, sempre despertou a cobiça de grupos econômicos, que transformaram a educação básica num grande negócio. Não é atoa que estes grupos trabalham diutur­namente junto às secretarias de educação vendendo ideias e projetos, que vão melhorar o aprendizado dos educandos pobres, que segundo essa gente “qualificada” tem mais dificuldade para aprender, e por isso custam mais caro.

A máxima capitalista, que vê sempre nas tragédias uma oportu­nidade de negócios enxergou na pandemiaa grande oportunidade de abocanhar mais uma fatia da educação básica pública. As redes públi­cas, mesmo antes da pandemia já enfrentavam dificuldades, que eram mascaradas com pequenos avanços pontuais, mas a pandemia escan­carou tudo. O ensino remoto nas redes públicas básicas, não conseguiu entregar aquilo que prometeu, e o aprendizado que já era precário no ensino presencial – naufragou de vez.

E é nestes momentos de dificuldades que aquele velho alinhamento público-privado entra em ação. O artigo 206° da Constituição brasileira garante a liberdade para aprender, a gratuidade em estabelecimentos oficiais, garantindo padrão de qualidade, no entanto atecnologia não desembarcou nas escolas básicas públicas, e com isso o abismo educa­cional entre as redes públicas e privadas que já era enorme – sumiu no horizonte. Como a oportunidade de negócios não perde tempo, inca­pacitar os educados das escolas públicas colocando-os numa situação aviltante vai gerar lucro.

Já começaram a propagandear, que esta pandemia prejudicou de forma catastrófica o aprendizado nas redes públicas, e que vão ser preci­so onze anos para recuperar o aprendizado pré-pandemia – é do arco da velha. Que não havia um planejamento de curto, médio e longo prazo para educação básica pública era público e notório, mas querer voltar ao patamar pré-pandemia é falta de conhecimento ou crueldade mesmo – achar que o educando pobre não tem capacidade para aprender é coisa de gente hipócrita e sem qualidade de ser humano, e querem usar o educando pobre para enriquecer ainda mais.

A educação básica pública brasileira não pode mais ficar reprodu­zindo modelos obsoletos, que não produzem bons resultados. Afirmar que há estudos que demostram que será necessário de onze a quatorze anos para a recuperação dos educandos das redes públicas – é a velha carteirada. Foi preciso acontecer uma tragédia humanitária, com mais de meio milhão de brasileiros mortos, para escancarar a condição de miserabilidade que vive a educação básica no Brasil.

A incoerência é ver que temos os maiores pensadores mundiais da educação básica, portanto, não precisamos importar conhecimentos. Já existem no Brasil modelos de escolas inovadoras, que não são tão ino­vadoras assim, pois se alicerçaram nos conhecimentos destes mesmos pensadores. A transformação do professor tradicional em educador/ mediador, a extinção do isolamento dos educados, e a transformação do aprendizado individual em aprendizado coletivo e harmônico são imprescindíveis, pois o aprendizado só acontece no plural.

A mortandade na educação básica pública brasileira é incomen­surável, pois não há doença ou pandemia que mate tanto, o momento agora é de reflexão e de se abrir para o novo, que não é tão novo, pois as leis para a educação básica, que se iniciaram em 1961, e se completaram com a Constituição cidadã de 1988, e a nova versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. Temos as leis – é só cumpri-las.

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