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A mensuração do envelhecimento

Ao longo dos anos, memória, percepção e habilidades para solução de problemas declinam, enquanto que o tempo de reação decai em quase dois terços quando comparamos pessoas de 60 anos com outras de 20. O aumento da idade é também negativamente associado com aprendi­zagem, habilidade espacial, raciocínio e habilidade motora. De fato, a conclusão de um grande número de estudos é que o processo de enve­lhecimento influencia negativamente os processos cognitivos. Por outro lado, o declínio relacionado à idade, observado nos arranjos de labora­tórios, é frequentemente diferente das mudanças associadas à idade nas habilidades da vida real. Um exemplo? O desempenho no emprego não especializado revela pouco ou nenhum declínio ao longo dos anos, ao passo que, em empregos complexos, é realmente possível que ocorra um melhoramento relacionado com a idade.

Há estudos demonstrando que o envelhecimento tem uma relação fortemente positiva para profissionais (psicólogos, médicos, juízes, en­genheiros, etc…) quando comparado ao que ocorre com aqueles que não são profissionais (empregos não qualificados). Esse padrão de resultados vai de encontro à crença comum de que as pessoas mais idosas são, tam­bém, mais sábias, pois, afinal, pessoas seniores regularmente assumem posições de liderança e responsabilidade nas universidades, nas empresas e nos governos, entre outros. Em outras palavras, os estudos envolvendo habilidades na vida real mostram que experiência e conhecimento rela­cionados aos domínios podem apresentar uma maneira conveniente de compensar o declínio associado à idade nos processos cognitivos.

Em estudo recentemente publicado (Psychology andAging, 2015, november 2), os autores, criativamente, investigaram a hipótese de que a idade é mais gentil para as pessoas mais hábeis. Para isso, eles usaram um banco de dados relacionado ao jogo de xadrez, que contém registro de atividades tanto para iniciantes quanto para os internacionalmente conhe­cidos. Importa saber que o início e os padrões de declínio, associados à idade, no jogo de xadrez, combinam processos cognitivos de ordem infe­rior e elevada.

Os efeitos da idade nos processos envolvendo jogo de xadrez podem ser monitorados por várias razões: 1ª) ele é um domínio cognitivo complexo, que engloba numerosos processos cognitivos, tais como, percepção, aten­ção, memória e solução de problemas; 2ª) ele fornece uma medida confiável e objetiva da habilidade, pois há vários bancos de dados que permitem seguir os desempenhos dos jogadores em xadrez ao longo de toda a sua vida; 3ª) os bancos de dados de xadrez também oferecem informação confiável e não enviesada sobre o nível de atividade envolvido dos prati­cantes, algo frequentemente omisso em outros domínios. Isso implicando que, a interação entre idade e atividades relacionadas à expertise possam ser efetivamente monitoradas.

Os resultados desse estudo mostraram que o envelhecimento pode ser mais suave para os mais hábeis seguindo um modelo que supõe três fases da trajetória da carreira: alcance de um elevado pico no início do desempenho, declínio após pico elevado e eventual estabilização do declínio. Particularizando: após alcançar o pico, por volta dos 38 anos, os jogadores mais hábeis deterioraram-se mais rapidamente. Seu declínio, todavia, começou a abaixar ao redor de 52 anos, mais precocemente do que para os jogadores menos hábeis (57 anos). Tanto o declínio quanto sua estabilização foram afetados pela atividade. Quanto mais os jogadores engajavam-se em participar de torneios competitivos, tanto menos eles declinavam e mais cedo começavam a estabilizar. Assim, globalmente, pode-se depreender que os melhores experts podem não ser imunes ao envelhecimento; mas, sua expertise previamente adquirida e a atividade atualmente desenvolvida permitem que os mesmos mantenham altos níveis de habilidade mesmo em idade avançada.

Em outras palavras, a idade pode ser cruel para os processos cogniti­vos básicos (memória, atenção, percepção e solução de problemas), mas há indicações de que expertise e atividade relacionadas a esta, em habili­dades complexas, podem ajudar a prevenir sérios declínios associados ao envelhecimento.

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