Ainda me lembro que uma das frases ufanistas que ouvíamos na época dos governos militares (junto com “Brasil: ame-o ou deixe-o”) era de que “esse é um país de jovens!”, como se isso representasse uma grande vantagem… É claro que quem assim falava não sabia que esse é um indicador negativo. País constituído principalmente por jovens é país onde os jovens não puderam envelhecer: morreram antes disso! A alternativa a essa morte precoce seria que os mais velhos tivessem se mudado para outros países, o que também não seria um bom indicador.
De qualquer forma, no caso do Brasil, o que ocorre é que a população vem envelhecendo de forma acelerada. De 1900 a 1940 a idade média do brasileiro passou de 33,7 anos para 38,5 anos. De 1940 para 1990, foi de 38,5 anos para mais de 60 anos. Mais recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fez publicar o “Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios” onde verificamos que a população de brasileiros com idade igual ou maior que 60 anos chega perto de 15 milhões de pessoas, ou seja, 8,6% da população do País, a maioria (62,4%) sendo constituída por mulheres.
A proporção de idosos no total da população vem crescendo rapidamente podendo chegar, nos próximos 20 anos, a 30 milhões de pessoas, representando perto de 13% da população. Chama atenção o fato de que muitas famílias vivem exclusivamente da parca aposentadoria do idoso responsável pelo domicílio.
Sob o aspecto de Saúde Pública esse envelhecimento da população determina o aparecimento de um maior número de doenças próprias das idades mais avançadas, as doenças crônico-degenerativas. Entre elas, as doenças cardio-vasculares e o câncer. Ao mesmo tempo em que isso ocorria a evolução das atenções à saúde no País não acompanhava o aumento da expectativa de vida.
Assim, por problemas de falta de orientação, falta de cultura, falta de meios diagnósticos adequados que sirvam a toda população (principalmente a de poder aquisitivo mais baixo), e muitas outras “faltas”. Uma importante parte desses brasileiros portadores de doenças degenerativas, malignas ou não, deixa de ser tratada adequadamente nas fases iniciais da doença, quando as possibilidades de cura ou de aumento de sobrevida são maiores.
Por outro lado, sob o aspecto econômico o país não se preparou para dar a seus idosos aposentadorias condignas com uma velhice confortável e esse é também um problema “crônico e degenerativo” que se soma ao das doenças da velhice.
Quanto ao aspecto social e psicológico, faltam estruturas ocupacionais e de lazer, exceto se o idoso tem condições econômicas para pagá-las.
Sem dúvida, o investimento e os cuidados adequados para as pessoas de idade avançada – que, em manifestação que beira o humor negro, algumas empresas comerciais chamam de “melhor idade” – é um dos desafios mais sérios de uma sociedade que pretenda ser ética e responsável.
Trata-se de problema de extrema importância, que atinge um número cada vez maior de pessoas, cada vez mais fragilizadas pela idade, pela doença e pelo baixo poder econômico, e que requer uma política adequada, específica para uma população que ao ir gradativamente envelhecendo deveria poder contar com garantias de dignidade e respeito. Estamos em época próxima de eleições e, particularmente, não tenho visto ou ouvido nenhuma proposta séria e não demagógica para o tema. Você, caro leitor, viu alguma? O que se propõe para aquilo que, hipocritamente, chamam de “melhor idade”?