Tribuna Ribeirão
Geral

A luta pela vida venceu o câncer

JF PIMENTA

No Brasil, apenas em 2016, foram estimados mais de 590 mil novos casos de câncer, se­gundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). O crescimen­to do número de casos novos e as atuais taxas de sobrevida para o câncer no Brasil, o nú­mero de pessoas que sobrevive à doença tem aumentado sig­nificativamente.

O INCA e o Ministério da Saúde divulgaram recente­mente um estudo, com uma abordagem qualitativa, q u e aprofundou temas ligados à sobrevivência em entrevistas com pacientes e familiares. Uma das principais conclusões é que a maioria dos participan­tes reavaliou seu estilo de vida e muitos optaram por compor­tamentos mais saudáveis.

Pacientes e familiares rela­taram mudanças na alimen­tação com a adoção de dietas mais saudáveis, dentro das suas realidades. Eles também contaram que começaram a praticar exercícios físicos e passaram a fazer exames mé­dicos periódicos.

Os pesquisadores atribuem as mudanças à experiência do diagnóstico e tratamento do câncer que, apesar de causar angústia e sofrimento, conduz a um processo de reformu­lação de valores e comporta­mentos. Além da adoção de um estilo de vida mais saudá­vel, eles relataram que também redefiniram o que e quem, de fato, importam em suas vidas.

Sobre o aspecto emocio­nal, a pesquisa também evi­denciou o estreitamento dos laços afetivos entre pacientes e familiares, após a descoberta da doença. Os sobreviventes relatam ainda que receberam importantes manifestações de apoio e solidariedade vindas de grupos familiares e religio­sos, colegas de trabalho e pro­fissionais de saúde.

A hora da notícia… Geralmente pensam, que vão morrer
Rose Marques, presidente do Hospital do Câncer de Ri­beirão Preto, convive diaria­mente com casos de pacientes com câncer (principalmente de mama) e inúmeras histórias de superação. Segundo ela, um dos momentos mais difíceis é o da hora da notícia. “Ao receber a notícia, a paciente geralmen­te fica muito abalada. Geral­mente pensam que vão mor­rer. Ter um suporte psicológico nesse momento é fundamental para ela e para a família”, sa­lienta Rose.

“Hoje no hospital nós temos uma equipe multi­disciplinar com psicólogos, fisioterapeutas, dentistas, as­sistente social e um volunta­riado que acompanha e aco­lhe essa paciente. Ela percebe que a jornada é possível e que conseguirá vencer essa bata­lha”, acrescenta.

“Quando ela tem alta, con­tinua com acompanhamento, dependendo do caso com fi­sioterapia, ou apenas consul­tas de rotina mesmo. O mais surpreendente nessa história é que as ex-pacientes geralmente se tornam grandes apoiadoras do hospital, ajudando no vo­luntariado, ou nas ações que desenvolvemos, pois, como não recebemos ajuda do Es­tado, nem do município, são pessoas que fazem a engrena­gem acontecer”, completa.

Você tem que ver que foi um tropeção, que passou e que a vida segue
A funcionária pública Kátia Bighetti é uma das que passou pelo câncer de mama e leva uma vida ativa e normal. “As pessoas têm muito medo e tabus. Acho que não é por aí, temos que re­ceber os imprevistos da nossa vida com coragem”.

A funcionária pública Kátia Bighetti é uma das que passou pelo câncer de mama e leva uma vida ativa e normal

Kátia afirma que não en­carou o tratamento do câncer como uma luta. “Eu não digo que foi uma luta. Meu médico que retirou o nódulo disse que a vida segue normal. Ele falou assim: – você lembra quando era criança e ralava o joelho e a mãe vinha com merthiolate? Fazia curativo e aí a gente estava brin­cando de novo? É isso que você tem que ver, foi um tropeção que passou e a vida que segue”.

Também comentou que é necessário ter fé. “Me apeguei a Deus e a Nossa Senhora Apa­recida. Tinha o sonho de visi­tar Aparecida do Norte e o fiz após o tratamento.

Foi tudo um milagre. Nem minha família acreditou como aceitei e passei o tratamento. Foi com fé, calma e mansidão. Digo às pessoas que estão ini­ciando o tratamento que jamais percam a fé. Devem entregar, confiar, agradecer e não ter medo… tudo passa e tem sempre situações piores que a nossa, por isso, agradecer…O que ficou dis­so tudo é que hoje entendo que temos que viver o agora”.

A cabeça tem que estar boa para enfrentar o tratamento
O advogado e jornalista Homero de Oliveira Neto en­frentou um câncer na garganta quando era jovem. Para ele, o importante é estar preparado mentalmente para lidar com o tratamento. “Ter fé ajuda, acre­ditar no tratamento e no mé­dico também, mas vejo como essencial acreditar que pode dar certo. A cabeça tem que estar boa para enfrentar o tra­tamento, as restrições e contra indicações que ele causa. Você também deve procurar as pes­soas que você gosta e fazer as coisas que você gosta. Enfim digo que tem que acreditar que as coisas podem dar certo”.

Atitude mental positiva nem que seja com acompa­nhamento profissional.

Hoje penso mais em mim, na minha qualidade de vida, em passar mais tempo com a família e amigos queridos

A empresária Sofia Abrão Angerami recentemente curou um câncer de mama. “É mui­to difícil, a hora que você tem a notícia parece que o mundo vai desabar”, diz. “Minha famí­lia foi fundamental neste mo­mento e principalmente meu marido que me acompanhou em tudo”, completa. Com a cura, Sofia diz que muita coisa mudou na sua vida, “hoje pen­so mais em mim, na minha qualidade de vida, em passar mais tempo com a família e amigos queridos”. “Eu digo para as pessoas que estão ini­ciando o tratamento que nun­ca pensem o porquê eu, mas sim fazer o que precisar ser fei­to, ter fé que vai dar tudo certo, lutar e jamais pensar em desis­tir, tudo passa, não podemos perder as esperanças nunca”.

A empresária Sofia Abrão Angerami recentemente curou um cân­cer de mama: ter fé que vai dar tudo certo, lutar e jamais pensar em desistir, tudo passa, não podemos perder as esperanças nunca

Foi o momento mais triste, dolorido e mais rico da minha vida.
A empresária da 7Flow So­luções, coach e especialista em gestão de pessoas Gislaine No­vembre diz que a luta contra o câncer foi dolorosa. Mas que “foi o momento mais triste, dolorido e mais rico da vida”.

Ela afirma que foi um pro­cesso de amadurecimento e de dar valor à vida e às pessoas. “Foi um período em que eu precisei ser muito forte. E é nessa hora que descobrimos a força que temos.

A empresária e coach Gislaine Novembre registrou todo o tratamento em um diário que depois a ajudou a seguir seus planos de vida

Quando ia realizar a qui­mioterapia eu tinha certeza de que estava indo para um lugar onde eu ia passar mal e essa certeza dói demais. No hospi­tal eu vi tanta coisa… crianças, adultos e idosos. Vi alguns de­les morrerem. Eu via o olhar de cada pessoa, cada familiar no seu desespero e eu pensa­va: Meu Deus, como eu vou aguentar passar por tudo isso? Além da dor física, que muitas vezes me impossibilitava de ir ao banheiro sozinha, existia a dor mental.

Estimativa do número de casos novos de câncer
O INCA estima a ocorrência, em 2019, de 68.220 novos casos de câncer de próstata, 59.700 de mama, 16.370 de colo do útero e 10.800 de leucemias. A sobrevida mediana estimada para estas doenças para o período de 2010-2014 foi de 92% para o câncer de próstata, 75% para mama, 60% para colo do útero e 66% para LLA na infância.

Números em 2018

  • Em homens, Brasil, 2018

Localização Primária Casos Novos %
Próstata 68.220 31,7 %
Traqueia, Brônquio e Pulmão 18.740 8,7 %
Cólon e Reto 17.380 8,1 %
Estômago 13.540 6,3 %
Cavidade Oral 11.200 5,2 %
Esôfago 8.240 3,8 %
Bexiga 6.690 3,1 %
Laringe 6.390 3,0 %
Leucemias 5.940 2,8 %
Sistema Nervoso Central 5.810 2,7 %
Linfoma não Hodgkin 5.370 2,5 %
Pele Melanoma 2.920 1,4 %
Glândula Tireoide 1.570 0,7 %
Linfomas de Hodgkin 1.480 0,7 %
Todas as Neoplasias, exceto pele não melanoma 214.970
Todas as Neoplasias 300.140

  • Em mulheres, Brasil, 2018

  • Localização Primária Casos Novos %
    Mama feminina 59.700 29,5 %
    Cólon e Reto 18.980 9,4 %
    Colo do útero 16.370 8,1 %
    Traqueia, Brônquio e Pulmão 12.530 6,2 %
    Glândula Tireoide 8.040 4,0 %
    Estômago 7.750 3,8 %
    Corpo do útero 6.600 3,3 %
    Ovário 6.150 3,0 %
    Sistema Nervoso Central 5.510 2,7 %
    Leucemias 4.860 2,4 %
    Linfoma não Hodgkin 4.810 2,4 %
    Cavidade Oral 3.500 1,7 %
    Pele Melanoma 3.340 1,7 %
    Bexiga 2.790 1,4 %
    Esôfago 2.550 1,3 %
    Laringe 1.280 0,6 %
    Linfoma de Hodgkin 1.050 0,5 %
    Todas as Neoplasias, exceto pele não melanoma 202.040
    Todas as Neoplasias 282.450 Fonte:
    MS / INCA / Estimativa de Câncer no Brasil, 2018 MS / INCA / Coordenação de Prevenção e Vigilância / Divisão de Vigilância e Análise de Situação

Dia de Combate ao Câncer é no início de abril

O Dia Mundial de Combate ao Câncer, lembrado em 8 de abril, foi criado pela União Internacional de Controle do Câncer (UICC) para marcar o combate à doença.

De acordo com o Ministério da Saúde, frutas, legumes, verduras e cereais integrais, por exemplo, são alimentos que ajudam na preven­ção do câncer, quando incluídos em uma dieta variada e equilibrada. Assim como a prática de exercícios físicos, seja fazendo caminhadas ou aulas de dança, trocando o elevador pelas escadas ou mesmo cui­dando da casa ou do jardim. Esses dois hábitos também contribuem para evitar um fator de risco importante para o câncer: a obesidade.

Parar de fumar (ou nem começar) é outro fator primordial na preven­ção do câncer. O fumo libera mais de 4.700 substâncias tóxicas e cancerígenas no organismo e isso faz com esse hábito seja um fator de risco para o câncer na cavidade oral, laringe, faringe, esôfago e mama. Você também deve evitar a ingestão de bebidas alcoólicas – o consumo dessas substâncias, em qualquer quantidade, aumenta o risco de desenvolver câncer. Se você misturar bebidas com cigarro, as chances de o câncer aparecer são maiores ainda.

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