Apresentados alguns dos principais autores da Literatura Paraguaia, importa esclarecer que, apesar da existência de estudos que a pontuem como pouco divulgada, quase restrita ao seu território, é expressivo o número de autores e autoras dedicados à escrita literária no Paraguai contemporâneo. Nos últimos vinte anos, se analisarmos as antologias publicadas em Assunción e em Buenos Aires, respectivamente, a “Nueva narrativa paraguaya: Antología de cuentos” (2013) e “Los chongos de Roa Bastos: Narrativa contemporânea del Paraguay” (2011), verifica-se que o guarani encontra-se presente, de modo generalizado, na maioria das produções em espanhol. Porém, na produção contística, a insistência em focar as guerras do Paraguai, da Tríplice Aliança e do Chaco, além da terrível ditadura de Strossner, aliada ao exercício de um estilo mais ensaístico que ficcional, inclinado a preocupações políticas, acena com o comprometimento do gênero no país. Por sua vez, a produção poética de Giselle Caputo (1986), Christian Kent (1983), Lía Colombino (1974), Cristino Bogado (1967),Camila Recalde (1992) e Edu Barreto (1978), entre outros, algumas vezes com passagens liricamente ensaísticas e materialidade gráfica dos poemas, à semelhança do concretismo, mostra-se como gênero mais nobre que a narrativa no final do século XX.
Um poema? De Giselle Caputo.
La vida ordinaria es um punto fétido
sobre otra realidad maravillosa,
yo quiero ser una palabra que viaja
lo que duran sus letras,
la respiración decisiva del moribundo,
un aliento cosmogónico o apocalíptico,
un rayo que nos salve de la oscuridad
y nos devuelva el dia, a la três de la mañana,
quiero ser la fuerza intempestiva del mar,
su búsqueda obstinada sobre la playa,
el embrujo de um sonido irrepetible,
el canto de um sauce loco em médio de la noche.
Yo quiero nacer y morir em um instante,
Pero que sea verdadeiro
como el fulgor de un incêndio
que te aniquile por completo.
(de Generación Picnik, antologia bucólica, El Guajhú Ediciones, 2016)
De acordo com especialistas, a construção cultural, social e linguística do Paraguai, decorrente de confrontos, diversidades e hibridismos, como, por exemplo, o bilinguismo oficial que o conforma, apresenta-nos que resistir aos constantes processos de colonização, inclusive contemporâneos, tem sido o desafio que mais marcadamente tem caracterizado o país. Nele, as produções linguísticas e culturais, vias importantes de manifestação destas condições, têm se mobilizado na tentativa de fazer com que a língua guarani transite não só em espaços informais, como é recorrente, mas também em contextos formais. Por adição, explorar e reunir, nas composições líricas, as diferentes sensações oriundas da combinação palavra e instinto, serve, muitas vezes, para explicar o que sente o sujeito lírico em tais produções.
Mostra-se necessário, portanto, que a crítica, a pesquisa e os produtores culturais e editores promovam ampla interação entre os gêneros literários paraguaios, de modo que a literatura desta nação não se restrinja ao debate memorialístico de seu povo, mas, sim, faça deste um veio literário e cultural hispano-americano voltado a ser conhecido, e valorizado, nos quatro quadrantes do mundo.