Tribuna Ribeirão
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A lichia 

Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Meu primeiro contato com a lichia foi em San Francisco, na Califórnia. Estava nos Estados Unidos para participar de um congresso e junto com um outro casal, jantamos no elegante restaurante chinês The Mandarin, localizado no Fisherman’s Wharf, naquele tempo ainda não degradado como hoje.

Um bela mulher oriental, com um longo vestido pérola, recebeu-nos oferecendo uma taça bojuda de champagne, com um fruto sedoso e branco dentro.

Senti agradável sensação ao prová-lo e perguntei-lhe como se chamava a fruta desconhecida. “É lichia, senhor”. E assim começou meu encantamento pela fruta e seu sabor exótico de uva com um leve toque de jambo.

Isto tudo me veio à tona quando observava os produtos de um bom supermercado local, que exibia um balcão cheio dos frutos vermelhos da lichia, ainda em seus cachos, chamando a atenção de todos.

Incorporei uma boa quantidade deles em minhas compras e, feliz, resolvi escrever esta crônica.

A lichia é nativa de grande parte da Ásia, notadamente da China e apesar da grande distância física, é prima próxima do brasileiríssimo guaraná e da pitomba, onipresente na Bahia. Começou a ser conhecida há mais de 2.000 anos e é considerada a rainha das frutas chinesas. A China responde por 60% da produção mundial da lichia, que é importante ítem de suas exportações

Os chineses consideram-na portadora de sorte e felicidade.

Em 1810, o Príncipe Regente D. João de Portugal mandou plantar alguns exemplares no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde vegetaram ignorados por longos anos.

Foi só no final da década de 1970 que a fruta passou a ser plantada para uso comercial. A cidade de Bastos,SP, foi seu berço. Hoje, nosso estado concentra a maior produção da fruta.

No quintal da minha casa plantei um pequeno pé de lichia, que demorou algum tempo para produzir. Como as frutas surgem em dezembro e janeiro, era uma alegria ver a alta árvore carregada, seus frutos parecendo decoração de Natal.

Dividíamos a vasta produção entre nossos netos, que adoravam nos visitar para usufruir do sabor da lichia e um bando de maritacas que, com seu alarido se penduravam nos cachos, descascando as frutas com o bico.

Uma querida sobrinha neta, Antonella, era e é fã da lichia e sempre me cobrava os frutos, quando nos encontrávamos para o almoço semanal na casa de minha sogra. Nos seus seis anos, dizia sempre: “Tio, você precisa me trazer milhões de lichias quando vier para o almoço“

Infelizmente, nossa árvore foi atacada por uma epidemia de ácaros, que está comprometendo toda a produção paulista, uma vez que ainda não existe remédio para combatê-la.

Depois de um tempo, restou somente o tronco, hoje cheio de trepadeiras e orquídeas.

Como o tempo de sua colheita é curto, precisamos aproveitar ao máximo a sua disponibilidade, porém cientes de que seu consumo deve ser moderado, pois a lichia ingerida em excesso pode causar distúrbios gástricos.

Para minha surpresa, descobri na internet uma destilaria mineira que produz um licor de lichia. Comprei para experimentar e foi um sucesso num almoço comemorativo da família.

* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras 

 

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