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A lição do Chile

Não se sabe o porquê de o presidente Piñera do Chile não ter convocado a dupla Bolsonaro-Guedes para revisitar o Chile, diante do “poderoso inimigo” para o qual o presidente teve que pedir desculpas, depois que sua vocação aristocrática percebeu que o inimigo poderoso era o povo sublevado, que general do Exército se recusará a repelir.

Lá, o símbolo miliciano da espingarda, já enferrujada pelo desuso, depois de tanto anos de vida parlamentar sem nada a apresentar de útil, haveria um minuto de silêncio, para que ele falasse dos benefícios da tortura no apaziguamento dos rebeldes e não rebeldes. Seguramente, ele diria que a prisão do ditador Pinochet, por aquele juiz espanhol, não lhe deu tempo de exterminar os rebeldes, que hoje se reconhecem como o povo empobrecido, com suas aposentadorias magérrimas, no melhor exemplo da falência do sistema neoliberal que ataca o Brasil, nesse momento solene, com a vulgata de privatizar o pai, a mãe e o espírito santo.

Um milhão de pessoas ouvindo esse papo furado seguramente não ficaria no cochicho, nem no murmúrio. Um helicóptero da CIA (agencia de inteligência norte-americana), vovó de tantos golpes na América latina, já estaria, ali, soltando suas cordas, para trazer de volta nossa dupla.
Mas, quem disser que nosso presidente é mal observador deverá ser des­mentido, pois, na renúncia do presidente da Bolívia, esse país que deu o trágico exemplo de crescer 5% ao ano, durante tanto tempo, nosso presidente, que sempre colocou em dúvida o voto nas urnas eletrônicas, retirou da crise da Bolívia um argumento contra ela. No entanto, ele sempre foi eleito pelas urnas que ataca. Durante anos e anos.

Em matéria de fraude nós podemos oferecer milhões de fake news, e mais, um cidadão fantasiado de juiz, agindo com a autoridade de um cabo eleitoral para ser ministro, e o esquadrão de procuradores, dedicados à desmoralização do siste­ma de justiça brasileira, de empresas nacionais, de instituições e partidos políticos, e de quebra aproveitando-se para tirar algum para o bolso, com palestras, que sugeriram até empresa familiar para espezinhar, lucrando, a dignidade alheia. Mas essa não é a questão desse artigo.

A questão é a lição que nosso presidente pode tirar da realidade do Chile, o primeiro país visitado, quebrando a tradição, que levava antes o nosso eleito à Argentina, como nosso maior parceiro comercial.

Entretanto, há, primeiro, e talvez, uma ligação sentimental de Guedes com o Chile, já que ele foi convidado pela universidade para passar uns tempos por lá, justamente durante a ditadura de Pinochet. Afinal, seus colegas da Escola de Chi­cago estavam lá, aplicando na prática o neoliberalimo desenfreado. É uma ligação afetiva muito forte com os colegas dirigindo a economia de um país.

Destroçaram a previdência social e construíram esse protesto gigantesco do povo na rua, que quer tudo, até uma nova Constituição. Pois é. O Chile era o exemplo proclamado pelo ministro Guedes, como a vitória do neoliberalismo, do estado mínimo, que é o estado nenhum, na América do Sul.

Está pegando fogo. Com certeza a melhor ilustração está na entrevista que o membro do conselho editorial do The New York Times, Binyamin Appelbaum, deu ao Suplemento do Jornal Valor de 8 de novembro, páginas 4/6, mostrando a criação da “economia da desigualdade”, quando os economistas da Escola de Chicago, depois de 1960, surgem como formuladores de políticas públicas.

E para situar um país que hoje explodiu com a indignação popular, lê-se o que ele declara :“A experiência de Friedman e de seus discípulos da Universidade de Chicago chegaram até o Chile. Segundo Appelbaum, o país sul-americano é um exemplo de como o livre mercado pode trazer prejuízos à sociedade. O sistema de previdência do Chile com o regime de capitalização tira dos pobres para dar aos ricos”.

Se o exemplo esboroou-se lá, é bom não querer repeti-lo aqui. Não tem jeito. O ministro Guedes deve ir para casa.

Um Estado desossado não tem receita para fazer frente às necessidades sociais e culturais e econômicas de seu povo, especialmente esse que vive em oito milhões de quilômetros quadrados.

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