O Brasil do atraso institucional elegeu a liberdade de expressão como o direito que os apoiadores do presidente de plantão têm de ofender, difamar e cometer crimes em nome desta liberdade, e quando o Supremo Tribunal Federal intervém para que os preceitos constitucionais sejam respeitados, essa gente “de bem”, e sem escrúpulos alega que estão sendo perseguidas apenas por expressarem suas opiniões, mas cometem crime em nome dessa liberdade.
Pregar e exigir respeito pela sua liberdade de expressão, esquecendo-se de respeitar a do próximo é coisa dos regimes ditatoriais. Nos últimos tempos a nossa democracia vem sendo vilipendiada pela ideia fixa do pensamento único, que macula a convivência harmoniosa de um povo. O chão da escola, principalmente das escolas públicas é onde acontece a formação da cidadania, pois é o lugar da diversidade de ideias prevista, que forma a cidadania prevista na Constituição, e em outras leis complementares, no entanto, mesmo sendo leis não conseguem se materializar, e essa “gente de bem” aproveitando este hiato querem impor a ideia do pensamento único neste ambiente para servirem de ancoradouro para estas práticas.
Acontece que em um ambiente democrático estas ideias não prosperam, precisam de rigidez e punições, até físicas para frutificar. Para que estas ideias tenham este ambiente propício para a sua evolução, foram criadas as escolas cívico-militar, baseada na disciplina e na hierarquia das polícias militares, como se este modelo fosse auspicioso e de convivência cidadã, só que não. Uma educação básica de qualidade tem que ser pública, e trabalhar para que o aprendizado seja a apropriação incomensurável das culturas, pois só assim se cria uma Nação.
A ideia deste modelo de escola está sendo disseminado no Brasil, como o modelo que vai solucionar as agruras que temos na educação básica pública, no entanto só vai aprofundar. Uma destas escolas cívico-militar situada no Distrito Federal, que tem como diretor disciplinar um tenente da polícia militar, que se imiscuiu nos trabalhos dos alunos do 8º e 9º anos, pedindo a retirada de cartazes que homenageavam Nelson Mandela, e o dia da Consciência Negra, também retratava a violência policial nas incursões violentas das polícias militares, que ocorrem em favelas e comunidades pobres, compostas por maioria preta – e contra esta atitude antidemocrática se rebelaram os alunos e seus familiares.
O militar responsável pela disciplina alegou que não houve interferência pedindo para que os cartazes fossem retirados, o que houve, segundo ele, foi uma consulta junto à direção pedagógica sobre o tema abordado, que não condiz com a realidade, e que foi tomada de maneira unilateral, sem qualquer dialogo com este diretor. Acontece que o regimento da escola não permite que haja interferência militar nos processos didático-pedagógicos, a diretora ainda propôs que o militar debatesse com os alunos estes temas, mas como debate e democracia não faz parte da sua formação – preferiu levar o assunto para o seu comandante, como se a liberdade de expressão fosse coisa privada.
Uma Nação tem que ser regida pela sua Constituição, que tem que estar presente na vida cotidiana de seus habitantes, mas uma fenda se abre, quando um ministro indicado ao STF diz: “na vida a Bíblia, no Supremo a Constituição”, mostra que o Brasil vai demorar para virar uma Nação.