José Eugenio Kaça *
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Há um consenso nos meios policiais, mostrando que o criminoso sempre retorna ao local do crime. Olhando para os acontecimentos que ocorrem na maioria dos países, e no Brasil sentimos que os crimes do passado estão voltando a cena, com novos personagens, que de novo não tem nada, pois são os herdeiros das velhas atrocidades, que na visão deles não são atrocidades, são apenas os costumes “conservadores”. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento fundamental para tentar construir um mundo mais humanista, vem naufragando no século 21. A Constituição cidadã nos incisos II e III do artigo 1° destacam a cidadania e a dignidade humana como clausulas pétreas, no entanto, o fundamentalismo religioso está tentando levar a Nação brasileira para os primórdios da Idade Média, onde a religião fundada em nome de Cristo, seguia fielmente as leis fundadas no Velho Testamento, onde a violência física e a tortura eram as principais ferramentas usada contra seus opositores.
As tais pautas de costumes, que a extrema direta está tentando impor ao povo brasileiro, mostram que a desumanidade faz parte do âmago dessa gente. Os avanços propostos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foram absorvidos pela nossa Constituição estão sendo vilipendiados por está onda fascista, protagonizada pela bancada evangélica, que segundo o Pastor Ed Rene Kivitz, não é bancada, e sim uma cambada evangélica. Quando eu vejo homens querendo decidir sobre os corpos das mulheres, fica explicito o mal caratismo e a misoginia, de homens que sempre trataram as mulheres como seus objetos de prazer, onde ficam com os bônus, e as mulheres com os ônus.
Estudos recentes mostram que nos primórdios da nossa civilização, as mulheres exerciam a liderança das famílias, e tinham o domínio sobre a procriação da prole, os homens ainda não entendiam a sua participação no processo reprodutivo, portanto, as mulheres tinham o comando em suas mãos. Com o tempo os homens descobriram que tinham uma pequena participação na fecundação da prole, e não podendo competir com as mulheres nas habilidades, intuições e visão de mundo, ardilosamente fizeram desta pequena participação, o mote para dominar o poder feminino, e para isso usaram a força e o sobrenatural, e aos poucos foram tomando o poder das mãos das mulheres. A principal ferramenta para a coerção feminina foi o uso da religião, religião que colocou as mulheres como seres inferiores, e a servidão passou a fazer parte de suas vidas.
A força das mulheres sempre esteve presente, mesmo sendo desprezada pelos homens. A coragem e a intuição feminina mudaram o mundo, e um suspiro de civilidade e humanidade aos poucos foi se consolidando, mesmo através de muito sofrimento. As leis só beneficiavam aos homens, não existia o divórcio, e o desquite era a lei vigente, para o homem mudava pouco, mas as mulheres desquitadas eram marcadas pela sociedade, como mulheres de pouco valor moral. As meninas e mulheres que eram estrupadas, só eram estrupadas por que tinham provocado os homens e dado motivos, e como a virgindade das filhas era a honra da família, eram expulsas de casa, e a maioria ia viver nas casas de prostituição, chamadas de zona, e para socorrer estas meninas e mulheres que engravidassem, a Igreja através das santas casas criaram a roda da misericórdia, para que as mulheres colocassem o fruto do estrupo para a adoção.
A resistência e a luta das mulheres por espaços iguais na sociedade é secular, e muitas vitórias vieram, no entanto, a canalhice da “cambada evangélica”, que atua no Congresso Nacional está criando o movimento fundamentalista “talibangélico”, que quer desumanizar a sociedade brasileira, impondo leis medievais, que coloca os castigos físicos e a eliminação dos que pensam de maneira diferente como sendo lei. Criminalizar qualquer quantidade de entorpecente, e assim obstruir ainda mais os caminhos da juventude preta e pobre, criminalizar as mulheres estrupadas, diminuir a idade penal, se possível no nascedouro, se nascer na periferia pobre, se preocupam com a vida do feto, mas são a favor da pena de morte, que as cadeias sejam o inferno na terra, que o excludente de ilicitude seja a autorização para a polícia matar na periferia pobre. A irracionalidade está tomando conta do cotidiano. É hora de ocupar as ruas contra estes retrocessos medievais! Mais vida e menos violência!
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação