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A intensa e criativa Dolores Duran

No dia 07 de junho de 1930, na Rua do Propósito, situada no bairro da saúde, centro do Rio de Janeiro, nasceu Adiléa da Silva Rocha, que aos 16 anos, após ser aprovada em um teste para se apresentar na Boate Vogue, cantando em vários idiomas, adotou o nome artístico de Dolores Duran, mais conveniente para o momento, visto que o bolero estava na crista da onda.

Desde os três anos de idade Dolores já cantava e aos cinco, já parti­cipava das festas populares de reisado e do grupo de pastorinhas, onde saia de anjo pelo bairro.

Aos dez anos, incentivada pelo amigo da família chamado Domin­gos, resolveu participar do programa de calouros de Ary Barroso chama­do Calouros em Desfile. A pequena Adiléa escolheu a música “Vereda Tropical”, que interpretou fantasiada de mexicana, com letra em portu­guês e espanhol, tirando a nota máxima, o elogio de Ary e 500 mil-réis.

Após esse êxito, a cantora passou a aparecer em vários programas da época, sempre aos domingos, e depois da morte do pai, a mãe, por necessidade, apressou a sua profissionalização, e ela passou a atuar no Teatro da Tia Chiquinha, programa infantil da Rádio Tupi carioca, mes­mo ganhando cachês baixos.

Dolores gostava de ouvir discos de músicas estrangeiras (inglês, francês, italiano e espanhol), e graças as facilidades que encontrava na pronúncia em vários idiomas, passou a aprender várias músicas para interpretar, recebendo elogios de Ella Fitzgerald, quando interpretou “My funny Valentine” na Boate Vogue.

Sua carreira começou a deslanchar quando se apresentou na Boate Vogue, e o radialista César de Alencar a convidou para trabalhar em seu programa, que ia ao ar nos sábados pela Rádio Nacional e era retransmitido para grande parte do território brasileiro, onde passou a receber um salário mensal de 150 mil-réis e a ser conhecida na noite carioca, se apresentando em várias boates, tais como a Little Club e Casablanca, entre outras.

Dolores gravou o primeiro disco no final de 1951, lançando para o carnaval do ano seguinte os sambas “Que bom será”, de Alice Chaves, Salvador Miceli e Paulo Marques, e “Já não interessa”, de Domício Costa e Roberto Faissal.

Em 1955, compôs a sua primeira música “Se é por falta de adeus”, em parceria com Tom Jobim, gravada por Dóris Monteiro logo em seguida. Em 1956, gravou um de seus sucessos como intérprete, o baião “A fia de Chico Brito”, de Chico Anysio.

História curiosa foi o da composição da música “Por causa de você”, em parceria com Tom Jobim. Em março de 1957, Tom mostrou a Dolo­res uma composição feita há poucos dias em parceria com Vinícius de Moraes. A cantora ficou encantada com a melodia e ali mesmo escreveu outra letra. Jobim tocou no piano a música e ela cantou seu poema. Ao terminarem, a cantora escreveu um bilhete para Vinícius: “Esta é a letra que fiz para esta música. Se não concordar é covardia!”. O poeta sem hesitar, rasgou a sua própria letra, admitindo que a dela era melhor.

A música “Por causa de você” é maravilhosa e tem a seguinte letra: “Ah, você está vendo só, do jeito que eu fiquei e que tudo ficou. Uma tristeza tão grande nas coisas mais simples que você tocou. A nossa casa querida já estava acostumada, guardando você, as flores na janela sorriam, cantavam por causa de você. Olhe meu bem nunca mais nos deixe, por favor. Somos a vida e o sonho, nós somos o amor. Entre meu bem, por favor, não deixe o mundo mau, levá-la outra vez. Me abrace simplesmente, não fale, não lembre, não chore meu bem.”

Para finalizar, cito Rodrigo Faour, biógrafo da compositora: “Só con­sigo compará-la ao Noel Rosa, em termos de genialidade e vivência. O que dizer de uma pessoa que estudou até a quinta série, que cantava em diversos idiomas, era autodidata, intelectual, politizada e que convivia em um ambiente machista e falava o que pensava?”

Aos vinte e nove anos Dolores nos deixou, após uma parada cardíaca, possivelmente motivada por uma febre reumática que teve quando criança.

Salve a querida Adiléa da Silva Rocha, que se transformou na majes­tosa Dolores Duran!

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