No Dia Internacional da Mulher, um exercício interessante a todo homem seria ouvir. Sim, exercitar o ato de escuta e reflexão para, respeitando o lugar de fala das mulheres, compreender o que realmente sentem, pensam, defendem e reivindicam. O 8 de março é dia de luta, conscientização e também uma oportunidade para as mais diversas celebrações.
Com esse espírito participei da sessão solene da Câmara Municipal de Ribeirão Preto que concedeu o título de cidadã emérita a Regina Helena Brito de Souza, uma mulher negra cuja trajetória de vida é marcada por batalhas pessoais e, principalmente coletivas. Na homenagem, proposta pelo vereador Marcos Papa, estavam presentes várias pessoas de diversos setores e movimentos, especialmente mulheres, de igualdade racial, saúde, direito e inclusão. São guerreiras e guerreiros que em algum momento se encontraram com Regina em uma frente ou trincheira e tiveram suas vidas impactadas.
Regina Brito sofreu racismo e discriminação e resolveu enfrentá-los de frente. Formou-se Assistente Social e, profissionalmente ou de modo voluntário sempre se envolveu em causas sociais relevantes como a criação do Seavidas (Serviço de Atenção à Violência Doméstica e Agressão Sexual) do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, GAPA (Grupo de Apoio e Prevenção à AIDS), Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e ONG Vitória Régia.
No mesmo dia, a Câmara dos Deputados realizou uma sessão solene alusiva à data onde as parlamentares destacaram que a prioridade da atual legislatura será o combate à violência e à desigualdade salarial. Ponderaram que, a eleição de 91 deputadas no pleito de 2022 é um avanço comparado às 77 eleitas em 2018, mas distante da paridade de gênero já que elas são 51% da população brasileira.
Tudo corria bem até que o deputado mais votado do país resolveu “lacrar” usando a tribuna. Tentando se colocar como defensor das mulheres, o indivíduo colocou uma peruca loira e proferiu impropérios que não serão aqui reproduzidos. Além de ironizar identidades de gênero, desrespeitou e atacou o movimento feminista, as mulheres em geral e especialmente as mulheres trans. Em reação, deputadas formularam pedidos de cassação, o Ministério Público Federal protocolou representação e um abaixo-assinado na internet já conseguiu mais de 150 mil assinaturas.
Especialistas acreditam que no âmbito do legislativo, a pena será apenas uma reprimenda como a realizada pelo presidente da Casa em redes sociais, mas poderá ter consequências na esfera penal, pois a transfobia foi equiparada ao crime de racismo e tratada como crime hediondo pelo Supremo Tribunal Federal em 2019.
No Brasil, enquanto alguns brincam outras morrem. Somente no ano passado 1,4 mil mulheres foram mortas apenas pelo fato de serem mulheres – uma média de 6 por hora. Foi o maior registro desde 2015 quando a lei de feminicídio passou a vigorar. Para piorar, em 2022, pelo 14º ano consecutivo, o país liderou as estatísticas de morte de trans e travestis, foram 131.
Diante de cenário tão violento, cumpre a cada um de nós a adoção de medidas para erradicar as ações e cultura machistas e garantir os direitos políticos e sociais das mulheres e de todo conjunto da sociedade. Que histórias como a de Regina Brito sejam divulgadas e sirvam de inspiração e que nos próximos meses de março possamos celebrar mais vitórias, conquistas e avanços.