Aproximando-se o final de dezembro de 2019, surgiram as primeiras informações sobre o covid-19, nome empregado para identificar um novo vírus da família já conhecida como corona. O nome foi escolhido para que não se empregasse o nome da cidade onde foi inicialmente conhecido.
Muitos cientistas, pesquisadores e médicos especialistas consideraram, logo de início, tratar-se de um agente que causaria um doença de baixa mortalidade e que seria prontamente afastado por vacinas.
Ao saber que na China fora identificado este novo vírus, no Brasil, o grande médico cancerologista e brilhante cientista Drauzio Varella se adiantou afirmando que também compartilhava do mesmo otimismo, pois o vírus não representava uma maior ameaça.
Recentemente, o respeitado e admirado médico veio a público para reconhecer o seu erro e com clareza disse: “Eu participei desse otimismo e me recrimino por isso hoje”. Comportou-se, assim, como o grande cientista que é, de reconhecido envolvimento emocional e de admirável personalidade.
Era de todo impossível prever, de pronto, o custo humano de uma contaminação por um vírus desconhecido. Era impossível fazer uma estimativa de quantas pessoas seriam contaminadas e de quantas vidas seriam ceifadas.
Em que proporção vírus anteriores da mesma família inundaram o mundo e qual o tempo que levaram as vacinas para serem descobertas e aplicadas? Se as respostas a esses dados foram matematicamente favoráveis, o otimismo, parece ter sido bem razoável e as opiniões, embora hoje consideradas erradas, foram aceitáveis.
O fato, contudo, a ser considerado neste episódio, é que, costumeiramente, muitos cientistas, diante de um prognóstico equivocado, não têm a preocupação de vir a público e, em primeiro lugar, se recriminar pelo erro e depois se revelar como se tornaram humildes.
Mas, no que consiste a humildade?
A humildade é algo diferente do que pensamos habitualmente. A humildade não se revela com palavras ou com sentimentos, mas com fatos. Neste sentido, o reconhecimento de um erro, por si, não revela humildade.
A condição válida para o reconhecimento da humildade e a ocorrência de fatos. Fatos que revelam um esforço para servir os outros, sem qualquer interesse pessoal.
A humildade obviamente não é uma regra de boa educação ou de etiqueta social muito menos de um cálculo sutil para salvar aparências. A humildade também não é falar discretamente de si, ou recuar de determinados comportamentos.
Logo, a humildade não se confunde com deixar de ser prepotente em casa; uma mulher deixar de responder ao marido, ou uma moça não ser vaidosa. Práticas superficiais não tocam o verdadeiro âmago do problema.
Na Itália, Ramero Cantalamessa traçou o caminho da humildade nestas palavras: “A humildade é antes de tudo uma questão de fatos, de escolha de atitudes concretas, não uma maneira de sentir e de falar de si.”
Em relação ao Dr. Drauzio Varella, os fatos que revelam sua humildade se apresentaram assim: aceitou participar da equipe encarregada de administrar vultosa importância doada pelo banco Itaú-Unibanco para realizar o combate à covid-19 e, também passou a ir a programas de TV e dar respostas a inúmeras questões sobre a epidemia, bem como começou a passar oportunos conhecimentos adquiridos em sua atuação como médico. Às questões também relacionadas com a epidemia respondeu em diversos jornais e revistas.
A prática de atos em favor dos outros, em favor da sociedade, constituem os fatos que espelham e revelam a humildade.