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Centro de Ribeirão: A história de Carlos e o sorvete zabaione

FOTOS: JF PIMENTA

Quando Antônio Carlos da Freiria resolveu vender tudo o que tinha para apostar no sor­vete, nascia ali não apenas uma opção de negócio, mas um caso de amor a um produto. A aposta deu certo. Carlos tem hoje um dos melhores sorve­tes do Brasil, reconhecido em concurso especializado, criou a família no negócio e não se vê longe dos ‘gelatos’.

A opção por trabalhar com sorvetes ocorreu em 1992 quando Carlos estava no último ano da faculdade de Direito. “Eu precisava de um negócio que não tomasse meu tempo e que me desse condi­ções de terminar a monogra­fia”, explica. Ele era um fran­queado da Sorveteria Vanesa, uma das mais tradicionais de Ribeirão Preto.

Em 1994, os proprietários da Vanesa resolveram vender a marca e as receitas. Carlos não titubeou. Vendeu tudo o que tinha e entrou com os pés e ca­beça no negócio. “Vendi carro, apartamento e tudo o que ti­nha. Apostei tudo”, lembra.

Mas ele não sabia fazer sor­vete. Foi ali que aprendeu com um dos melhores mestres. O antigo proprietário Antônio De Lucca, o Toni, um mestre que nasceu na Itália, aprendeu fazer sorvetes na Alemanha e desenvolveu seus planos, pri­meiramente na Argentina, an­tes de embarcar para o Brasil.

“O Toni foi gentil. Ele me ensinou tudo. Vendeu as re­ceitas e a marca, mas ficou um ano comigo me ensinan­do todos os detalhes”, lembra com gratidão. “Tem um epi­sódio importante. Eu na von­tade de aprender fui fazer um curso com um mestre italiano em Atibaia, por uma semana. Anotei planilhas, regras, per­centuais de produtos e todo um processo matemático com uso de melhoradores para sor­vetes. Cheguei entusiasmado e fui contar pro Toni. E do jeito dele jogou aquelas anotações fora da mesa e disse que se eu fosse usar aquelas porcarias, ele iria embora e que não era preciso dele. Aquilo me mar­cou forte. E aprendi que não é necessário melhoradores para os sorvetes artesanais”, conta.

O premiado zabaoione
Carlos aprendeu os proces­sos de produção. Aprendeu a diferença de sorvete artesanal, com suas variáveis de corpo, textura, sabor e outras parti­cularidades. Aprendeu a fazer o zabaione (zabaoyne ou zaba­glione dependendo da locali­dade) um sorvete premiado e considerado o carro-chefe da sorveteria.

“É uma receita especial que ele aprendeu na Itália”, re­vela Carlos. O zabaione é um alimento a base de gemada, vinho e outros produtos utili­zado como café da manhã por trabalhadores na Itália, antes da década de 70. Congelado, na França, era uma sobreme­sa. “Mas o Toni aprendeu uma receita antiga de transforma-lo em sorvete e poucos fazem tradicionalmente como na Va­nesa”, fala. Carlos ressalta que a receita é seguida com algumas variações em poucos lugares. “Em alguns países da Europa e na Argentina. É um sorvete que o cliente se apaixona. É nu­tritivo e saudável”, acrescenta.

Ano passado em um con­curso promovido pela empresa Carpigiani, de máquinas para sorvetes, foram selecionados 54 sabores de sorvetes de todo o país. Apenas nove foram para a final. Dos nove, público que visitava uma feira de alimentos e jurados especialistas em culi­nária, escolheram por votação os três melhores. O zabaione da Vanesa ficou entre os três. O processo se repetiu esse ano e se repetirá em 2020. Dos nove escolhidos nas três edições, dois serão selecionados para um concurso mundial. Isso quer dizer que o sabor está en­tre os nove melhores do país.

Carlos diz que o sabor, o cheiro e sua paixão pelo za­baione não o deixaram sair do ramo. “Eu imaginava ficar 5 anos, mas não consigo ficar longe. Tomo sorvete todo o dia. Aqui minha família foi construída”, diz, referindo-se ao fato de seus dois filhos, es­posa e sogro, trabalharem no negócio “É minha paixão, mi­nha vida”, finaliza.

‘O Simples Bem Feito’
Além do Zabaione, Antônio Car­los da Freiria tem outra paixão: escrever sobre gestão. Na Feira do Livro deste ano, em junho, ele lançou “O Simples Bem Feito’. Na obra, ele apresenta sugestões para descomplicar a gestão pública em áreas como meio ambiente, saúde, educação, reforma política e reforma da previdência. Empreendedor nato, ele também dá dicas para quem quer abrir e manter uma empresa.

Carlos diz que transferiu para o papel os conhecimentos e conceitos adquiridos desde a época que co­meçou a trabalhar em farmácia em Santo Antônio da Alegria, chegando a ser gerente com 16 anos. Aos 18 anos, criou seu primeiro CNPJ, com a venda de queijos e doces da cida­de natal. Foi assim que se formou em Direito. Mais tarde, partiu para uma segunda faculdade: Gestão da Microempresa, tema constante das palestras que ministra. “Mesmo não atuando no Direito eu consegui entender muitas situações. Passo isso no livro, finaliza”.

Onde encontrar:
A Sorveteria Vanesa ficou por muitos anos estabelecida nas proximidades da avenida Nove de Julho. Ao ser vendida para Carlos, em 1994, foi transferida para a rua Américo Brasiliense, 1122. Teve franquias por shoppings e no Jardim Paulista. Hoje, além do Centro, há uma loja na avenida Costábile Romano, 2644. Carlos pensa em expandir como forma de franquia para outras cidades em um futuro

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