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A herdabilidade dos comportamentos humanos complexos (4)

Todos nós somos similares de vários modos. Com poucas exceções, temos uma altura média de 1m70, dois olhos na frente da face, que nos permitem ver em três dimensões, e a capacidade de aprendermos a falar. Todavia, apresentamos, também, grandes diferenças físicas, fisiológicas e psicológicas. Psicólogos e cientistas estudam centenas de traços, os quais nada mais são que rótulos coletivos para as diferenças entre nós que se tornam consistentes ao longo do tempo e entre situações. Esses traços incluem dimensões de personalidade, tais como, nível de energia emocional, e outros, tradicionalmente considerados desordens mentais (depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar). Nesse conjunto, também são estudados traços cognitivos como, por exemplo, a habilidade cognitiva geral, conhecida como inteligência, e as habilidades mentais específicas, tais como, vocabulário, escrita e memória, e as incapacidades ocasionadas pela falta dessas habilidades.

Ao longo de quase todo século XX, assumiu-se que os traços psicológicos foram causados por fatores ambientais, chamados, então, de “criação”, pois, desde os tempos de Freud, eles tiveram suas origens no ambiente familiar. Pelo fato de esses traços serem transmitidos nas famílias, era razoável assumir que o ambiente familiar era responsável por esses traços. Ora, a genética também se transmite nas famílias. Há cinquenta anos do atual conhecimento so­bre DNA, sabíamos, através de estudos de parentesco de primeiro grau (pais, crianças e irmãos e irmãs) que eles eram geneticamente similares em cerca de 50%. Desse modo, como os traços psico­lógicos eram transmitidos nas famílias, também poderiam ser influenciados pela genética e pela criação (ambiente). Todavia, era muito mais difícil acreditar na natureza pelo fato de o DNA ser silencioso, ao passo que a natureza familiar emitia seus ruídos para o bem e para o mal.

Assim considerando, qual é a importância relativa da natureza para os traços psicológicos? Uma maneira de decompor o papel da natureza e da criação, em conjunto, seria encontrar parentescos que compartilham a genética e não a criação, a fim de testar o papel da genéti­ca. Adoção é um experimento social que permite alcançar este propósito. Em outras palavras, podemos ver quão similares são as crianças aos seus pais biológicos ou genéticos quando elas são adotadas logo após o nascimento. Esses pais compartilham a genética, mas não a criação, com suas crianças. Se é a natureza que mais pesa na transmissão familiar de algum traço em particular, as crianças adotadas se assemelhariam a seus pais genéticos, e não aos seus pais adotivos.

Por sua vez, estudos de adoção também fornecem um teste direto da criação ou ambiência. Se a criação é transmitida dentro das famílias, as crianças adotadas se asseme­lhariam a seus pais adotivos, que são seus pais ambientais. Tal como os pais que criam a genética das crianças, os pais adotivos forne­cem um ambiente familiar às crianças, neste incluindo os alimentos que eles comem e os estilos de vida saudáveis e não saudáveis.

No caso de a ação ser um experimento social separando os efeitos da natureza e da criação, estudos com gêmeos consti­tuem um experimento biológico. Onde for possível verificar mais claramente a here­ditariedade em ação? Nos gêmeos idênti­cos. Estes, originando-se do mesmo óvulo fertilizado, ou zigótico, apresentam o mesmo DNA herdado, sendo chamados, na terminolo­gia científica, de gêmeos monozigóticos (MZ, na sigla em inglês). Aproximadamente 1 entre 350 indivíduos é um gêmeo idêntico. Assim, é alta a probabilidade de conhecermos um par de gêmeos monozigóticos.

O teste mais dramático da influência genética é estudar gêmeos monozigóticos separados por adoção no início da vida. Eles compartilham a genética completamente, mas não a criação no todo. De modo que, sua similaridade é um teste direto da influência genética. Empregar o método de comparação entre gêmeos monozigóticos e dizigóticos é uma maneira robusta de investigar a contribuição da hereditariedade e dos ambientes na variabilidade dos traços humanos. Deste modo, podendo decompor, e ponderar, o peso do genótipo e dos fenótipos na estabilidade e na mudança de diferentes traços humanos complexos.

A análise do DNA certamente será o ponto culminante de quase um século de pesquisa genética investigando o que nos faz o que somos e porque somos diferentes uns dos outros.

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