No início de julho, dez vereadores de Ribeirão Preto aprovaram a abertura de um processo de cassação contra o vereador Ramon Faustino por suspeita de nepotismo e quebra de decoro parlamentar. A investigação foi motivada pela denúncia de que, em 2021, o parlamentar nomeou uma namorada como assessora. Agora, para vereadores de Ribeirão, namorada virou parente. Me lembrei até do saudoso Leonel Brizola quando dizia que “cunhado não é parente, Brizola pra presidente!” para defender sua pretendida candidatura a presidente, questionada pela direita na década de 60. De saída, quero deixar aqui minha solidariedade ao vereador Ramon pelo tamanho absurdo de que está sendo vítima.
Aliás, não é a primeira vez que vereadores bolsonaristas da Câmara de Ribeirão pretendem cassar parlamentares da esquerda. Não foi assim com Duda Hidalgo? Não foi assim com Perla Müller? E o mais interessante é que o autor explícito ou tácito de todas essas iniciativas é o mesmo que tem um projeto para dar o título de cidadão ribeirão-pretano a Bolsonaro! É o mesmo que chegou a ser réu por movimentar um esquema de compra de votos (Operação Têmis), por denúncia do Ministério Público Eleitoral (MPE)! E acabou como réu confesso ao fazer um acordo com o MPE e pagar uma multa de cinco salários mínimos. São os paladinos da moralidade pública que querem cassar adversários políticos com denúncias hilárias!
Parece até que alguns vereadores não têm o que fazer na Câmara de Ribeirão. Só vivem tramando tretas. Sabem perfeitamente que tudo isso não vai dar em nada e só mancha ainda mais a nossa mal reputada edilidade. Eles mesmos acabam engavetando esses desvarios. Como não deu em nada o processo contra a Duda. Como não deu em nada o processo contra a Perla. Puro desvio de finalidade, sempre combinado com algum munícipe que protocola a denúncia para dar início ao processo. Aliás, costumo dizer que essa legislatura é a pior de toda a história de nossa cidade. Mas por que não pensam um minuto sequer antes de cometerem tanta insanidade? Porque estão contaminados pela “guerra cultural”.
Mas o que vem a ser “guerra cultural”? Para entendermos este conceito nos dias de hoje no Brasil e em Ribeirão Preto, é necessário recorrer às publicações e entrevistas do Professor João Cezar Castro Rocha, titular de literatura comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). É um especialista no assunto. Eu mesmo já o citei aqui, de outras vezes, em artigos anteriores. A grosso modo, refere-se ao conflito de valores e visões entre conservadores e liberais, no sentido de costumes e modo de vida, influenciando o debate sobre a história, a ciência, políticas públicas e a outros programas em todas as sociedades. No Brasil, nos últimos anos, a guerra cultural vem sendo levada principalmente pela extrema direita, impulsionada pelo bolsonarismo.
Os instrumentos dessa guerra cultural são a ignorância, a desinformação, o negacionismo, o discurso de ódio e a mentira calculadamente arquitetada. Para Castro Rocha, “sem guerra cultural, não há bolsonarismo.” Para ele, “o tripé fundamental que alimenta a mentalidade desses grupos é constituído pelo discurso revanchista e revisionista sobre o golpe de 1964, que formou o projeto Orvil, o Livro Secreto do Exército; a Doutrina de Segurança Nacional, que traz a ideia do inimigo interno que deve ser eliminado; e a popularização do que ele chama de retórica do ódio, promovida pelo escritor Olavo de Carvalho.” Para entender melhor tudo isso, acesse: https://www.brasildefato.com.br/2021/06/19/quanto-maior-o-colapso-do-governo-maior-a-guerra-cultural-diz-pesquisador-da-uerj. Não há como dissociar as sandices da nossa Câmara com o conceito de “guerra cultural”.
Mas não é só isso. Alguns vereadores querem engalfinhar os eleitores bolsonaristas na próxima eleição. Querem liderar a manada. Não há outro termo. Então, disputam entre si quem é mais bolsonarista. Há um cálculo eleitoral em todas essas armações de cassar vereadores de esquerda. Querem ser mais realistas do que o próprio rei. Deplorável… Autoritarismo. Inoperância. Fundamentalismo religioso. Aporofobia. Higienismo. Homofobia. Lambeção de botas do prefeito. Negacionismo. Incompetência. Desvio de finalidade. Apadrinhamento. Falta de fiscalização. Sexismo. Analfabetismo legislativo. Quer mais? Igual a esta nossa Câmara, está para aparecer outra igual!