Feres Sabino *
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Há mais de dez anos, não sei bem se foi na antiga Relojoaria Ferreira ou em frente à famosa esquina da Única, ali na confluência da rua Álvares Cabral com a rua São Sebastião, em Ribeirão Preto, que ouvi, mais de uma vez, uma história de corrupção, que como tal corroía a imagem do presidente Lula e de seu filho Lulinha.
Hoje, essa mentira revogada pode oferecer a cada pessoa honesta, de direita ou esquerda, o bom senso de assumi-la como lição, para se prevenir com cada divulgação atual nessa sociedade cansada de mentiras.
A história era contada por corretor de imóveis rurais, proprietário no Pará, cujo vizinho declarava que tais e quais fazendas da região pertenciam ao Presidente e ao seu filho, cujo nome deles, porém, estariam encobertos por um outro ou outro laranja ou laranjas.
Ele contou, e repetia. Era, e é, personalidade de muita simpatia pessoal, que ressoava a boa-fé, além de uma convivência sorridente, que sempre teve o meu respeito. Ele acreditou e contava, eu o ouvia, como cidadão e advogado, e aguardava as provas desse fato tão retumbante, que não poderiam ficar escondidas, indefinidamente. Afinal, na política a fome vingativa de opositores ultrapassa qualquer limite.
Também, emergiram os adversários que, grosseira e descaradamente, utilizaram-se dos aparelhos do Estado para defesa de interesses pessoais e familiares e milicianos, que poderiam perfeitamente descobrir fato tão óbvio. Um exemplo internacional ilustra a eficiência de uma investigação, pois, em relação ao sanguinário ditador chileno Pinochet, depois de sua morte, descobriram-se cento e vinte contas bancárias esparradas pelo mundo.
Mais ainda, tem-se opositores por preconceito enraizado e elegante, que desprezam o retirante vitorioso que não pôde frequentar escolas e universidades para adquirir a arrogância de um procurador da república ou de um juiz suspeito e parcial de Curitiba, e por isso corrupto, antipatrióticos, eternamente lambuzados pela fraude traidora da lei e da justiça e da pátria. E, ao contrário, o retirante aprendeu, na vida, o que sabe ensinar sobre o Brasil real. Explicar o Brasil Real? Um escândalo!
Hoje mais do que nunca precisamos de recordar essa mentira, porque parte do tempo aderiu ao falso, quiçá provisoriamente, quando a mentira ganhou mais força e mais velocidade, a ponto de paralisar a atuação necessariamente saneadora do Presidente Artur Lira, que atrasa a lei para sanear a internet desses abusos que já estava mais do que discutida na Câmara, há mais de dois anos.
E essa história na verdade se esparrou pelo Brasil. E mesmo que uma vez a Folha de São Paulo tenha publicado reportagem sobre investigação infrutífera da Polícia Federal sobre o filho, que durara 10 anos, ainda assim, a história dessa mentira estava arraigada no imaginário popular. Poucos leem jornal, mas muitos e muitos ouvem o rádio ou assistem televisão, e permanecem com a mentira estonteante da publicidade farta, e não sabem da revogação judicial dela, porque não é veiculada com a mesma força de eficácia pela mesma imprensa. E a Constituição Federal tem como princípio e fundamento o valor ético-jurídico da dignidade da pessoa humana, e assim a densidade jurídica da honra impõe reação máxima contra o crime de difamação, de calúnia e de injuria, praticado contra ela.
No entanto, as desculpas apresentadas por quem injuria, calunia, difama, ou seja, ofendendo a honra e a dignidade das pessoas e de seus familiares, não apagam da lembrança da totalidade das pessoas que ouviram inicialmente as ofensas, pois, a verdade não interessa tanto ao espetáculo da imprensa, que geralmente alcança maior audiência com escândalos, inclusive mentirosos.
O tempo passou. E o cantor popular Amado Batista repetiu a história, só que desta vez houve consequências judiciais. O pai e filho o processaram. E, a Carta Capital, via Google, no dia 22 de junho de 2022, veiculou a matéria sob o seguinte título: “Amado Batista pede desculpas na Justiça por declarações contra Lula”.
O artista apoiador do presidente Jair Bolsonaro, segundo o site The Intercept Brasil, “foi multado em R$1,24 milhão pelo Ibama por desmatamento em sua fazenda em Cocalinho, na divisa de Mato Grosso com Goiás”.
E neste site a retratação está assim redigida:
“O cantor e compositor Amado Batista entrou para a lista — cada vez mais extensa— de artistas que reconheceram ter espalhados Fake News sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família a quem Batista acusou de ter grandes propriedades rurais: ‘Apesar de ter dito que Fábio Luiz Lula da Silva ser latifundiário e dono de cabeças de gado no Mato Grosso e no Pará, reconheço que essa informação chegou ao meu conhecimento a partir de meros boatos irresponsavelmente difundidos na sociedade’”.
A reportagem finaliza dizendo: “Antes desse episódio, outras celebridades já haviam se retratado e pedido desculpas a Lula e a sua família. Foi o caso da atriz Regina Duarte”.
E a repetição dessa retratação é um serviço de interesse público, porque mentirosos e mentiras circulam livremente na sociedade, e precisam ser condenados, por um serviço exemplar de saneamento básico.
* Procurador-geral do Estado no governo de André Franco Montoro e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras