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A formação médica: qualidade é detalhe menor?

A cada semestre centenas e centenas de pessoas rece­bem o diploma e passam a ser médicos. As “solenidades” são nababescas e enchem de dinheiro empresas que se especializaram em, desde o ingresso do aluno, cobrar taxas para a “festa” de formatura. Algumas dessas empresas chegaram assim a listagem das mais ricas do Pais. Nestas “festas de formatura” o Juramento de Hipócrates é pronun­ciado ao som de vovuzelas, faixas e gritarias. Hipócrates, coitado, onde estiver, deve rolar de raiva e revolta. Nada contra comemorações, mas misturar gritarias com Jura­mento é demais.

De qualquer maneira estamos falando de formatura, o que é muito diferente de formação. A festa de formatura represen­ta a alegria por uma etapa vencida e é, mais que tudo, uma homenagem aos pais pelo seu esforço e dispêndio.

Formação é coisa bem diferente e quanto a ela pouco há para se festejar. É claro que existem honrosas exceções, mas a regra é muito desanimadora. A maioria das faculda­des não forma muito bem e algumas formam muito mal.

A formação médica está assentada em um tripé: conhe­cimentos, habilidades e atitudes. Grande parte de nossas escolas médicas centra suas atividades na parte cognitiva da formação. No máximo se preocupam com as habilida­des desenvolvidas nas atividades clínicas. Poucas investem em laboratórios de habilidades que mereçam esse nome. Quanto a atitudes, nem pensar…

É mais fácil alegar que elas vem do berço ou que depen­dem do caráter de cada um, ou que não há como “ensinar”. A verdade é que não é fácil ter professores com experi­ência no exercício profissional e formação ética sólida, dispostos a dividir com os estudantes suas vivências e o entendimento de que antes de médico o universitário deve se aperfeiçoar como cidadão. As atitudes tem muito a ver com a Bioética, que não existe de forma organizada em muitas escolas médicas.

Para complicar, as autoridades decidiram, sabe-se lá com que base, que o grande problema é que faltam médi­cos e, apesar da clareza das informações que as provas para Residência Médica e o Exame do Cremesp trazem, mos­trando a séria deficiência na formação médica, abrem um programa para receber médicos estrangeiros, aos montes e, assim, propagam que resolvem o problema. Nada contra médicos estrangeiros, desde que possam demonstrar capa­cidade de dialogar em nossa língua e mostrem, por meio de provas, ter um mínimo de formação, como manda a lei.

Ainda não satisfeitas, as autoridades resolveram au­mentar o número de vagas das faculdades de medicina existentes e escancarar as portas para a abertura de novas faculdades. Não fazem nenhum estudo sério com relação ao número e a qualidade de docentes para formar tantos médicos. Ou seja, parece que qualidade é o que menos interessa, seja dos professores, seja dos alunos.

Que Deus proteja a saúde e a vida dos brasileiros.

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