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A força da superação

FOTOS: DIVULGAÇÃO

No dia 6 de agosto de 2011, o triatleta Sérgio Buo­narotti saiu para pedalar com amigos no Anel Viário Sul, em Ribeirão Preto, quando um grupo de assaltantes, um deles armado, se aproximou dos ciclistas, e anunciou o assalto. Na confusão, Sérgio levou um tiro que transfixou o tórax. Ele foi socorrido à Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas de Ri­beirão Preto e a partir daí, a vida do empresário foi per­meada de desafios.

Seis anos depois do coma, Sergio participou do Iron Man, prova de 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e mais 42 km de corrida

Depois de quatro meses de internação – três deles em coma – inflados de 64 cirur­gias para a retirada de órgãos afetados pelo disparo, como o baço e um rim, Sérgio deu a volta por cima. Em 2017, seis anos depois, participou de uma das provas esportivas que mais exigem resistência e preparo do atleta: o Iron Man. Realizada em Florianó­polis, a prova teve 3,8km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida.

A história de superação do triatleta amador e profis­sional do mercado financeiro Sérgio Buonarotti acaba de ganhar o vídeo na primeira obra produzida pela novata Grattitude Filmes, dos rotei­ristas/jornalistas Lucas Bre­tas e Samuel Prisco. Foram meses de trabalho na cons­trução do longa-metragem que remonta por meio de de­poimentos, imagens e ence­nações, o drama vivido.

Sessenta e quatro cirurgias e retirada do baço e um rim

O documentário 1538°C – The Iron Human é o primeiro trabalho da Grattitude e pro­mete emocionar ao misturar entrevistas, imagens da época do incidente e simulações. O longa também promete im­pressionar pela riqueza deta­lhes e pela captação de senti­mentos de cada personagem envolvido no resultado do fatídico assalto aos ciclistas.

“Esse roteiro me propor­cionou uma profunda retros­pectiva de tudo que minha família e amigos viveram junto comigo, depois daque­le assalto durante o treino de bicicleta e me ajudou a en­tender onde está a minha real força e resistência”, afirma o Buonarotti.

O nome do documentário não foi escolhido ao acaso. Conforme explica o coor­denador executivo, Samuel Prisco, essa é a temperatura de fusão do ferro, um dos componentes sólidos mais resistentes da natureza. “O tí­tulo remete ao nome da pro­va Iron Man (homem de fer­ro em português) e também ao fato de que o protagonista teve a resistência e a resiliên­cia para suportar condições clínicas extremas, como se fosse realmente alguém feito de ferro”, enfatiza.

O desfecho dessa fasci­nante e dramática história será lançado em novembro de 2021, em Ribeirão Preto e já se prepara para a participa­ção em festivais pelo país e no exterior. “Nossa expectativa é uma boa avaliação e repre­sentarmos bem nossa cida­de em festivais nacionais e o Brasil em eventos externos”, finaliza Prisco.

O diretor, Lucas Bretas

O esporte como instrumento de motivação
O diretor e roteirista Lucas Bretas conta que o filme se preocupou em mostrar, além do drama vivido pela família Buonarotti, diante de um país extremamente violento, e da belíssima história do personagem, o esporte como ferramenta de moti­vação e superação. “O personagem é um exem­plo vivo do triunfo sobre as desventuras e nos proporciona a lição de que na vida precisamos ter resiliência para superar o adverso. Sérgio poderia ter padecido caso tivesse se entregado, mas em vez disso, foi determinado a virar o jogo”, afirma.

Tribuna Ribeirão – Como surgiu a ideia de produzir o documentário?
Lucas Bretas – Já conhecia a história do Sérgio Buonarotti desde 2011 quando, ainda como repór­ter de TV, cheguei a cobrir o caso da tentativa de assalto onde ele foi baleado. E em maio de 2017 eu estava em Florianópolis para assistir e torcer por três grandes amigos que disputariam o Iron Man América Latina que, por coincidência, era exa­tamente a prova de retorno e redenção do Sérgio, após 6 anos de luta para se recuperar. Casual­mente, e por mais uma dessas boas coincidências, ainda cheguei a encontrar com ele na areia da praia, antes da largada, dei um abraço desejando boa sorte e tudo mais. Ali, naquele momento, eu ainda não sabia que queria contar essa história em um filme. Mas já era a história, por si só, dando um jeito de se apresentar para mim de uma forma que eu, no ano seguinte, 2018, me sentisse na obri­gação de levar esse conto de superação ao maior número de pessoas possível.

Tribuna Ribeirão – O roteiro se desenrola a partir de uma história ocorrida há dez anos, onde houve cobertura da imprensa, desdobramentos e uma sequência de vida. Como foi produzir esse longa metragem, as filmagens, a coleta de dados, de imagens e arquivos?
Lucas Bretas – São quase 100 horas de mate­rial captado. Mais de 30 entrevistas e as cenas gravadas em Ribeirão Preto, São Paulo e Florianó­polis. Investimos num trabalho muito próximo ao Hospital das Clínicas e à equipe médica da época, que nos forneceu todos os dados e informações necessárias para que pudéssemos construir um roteiro com riqueza de detalhes técnicos e clínicos. Eu mesmo, como repórter de TV na época, cobri o caso do Sérgio. Mas a busca pelos meandros da história em uma produção cinematográfica nos encarrega de outras demandas muito maiores e mais profundas, até para que haja uma condução mais fidedigna do fato. Fizemos uma série de mais de 50 reuniões de pré-produção, com amigos e familiares, para que todos pudessem contar suas versões e visões do ocorrido e só então, a partir desse trabalho intenso e volumoso de bastidores, definimos quem seriam os entrevistados e quando começaríamos as gravações.

Tribuna Ribeirão – Quais são os momentos em que você acredita que deve prender mais a atenção dos espectadores?
Lucas Bretas – Evidente que os maiores momentos de tensão e apreensão ficam por conta da tentativa de assalto onde Sérgio é baleado e do quadro clíni­co grave e extremamente delicado de um paciente em coma que, dia após dia, só piorava e parecia muito próximo da morte na visão e interpretação da própria equipe médica. Mas a narrativa respeita uma sequência cronológica de evolução do perso­nagem principal que faz com que o roteiro tenha um crescimento gradativo aos olhos do público: primeiro explicamos tecnicamente como, quando e porque o Sérgio se aproximou muito de perder a vida. Assim que está clara a gravidade de toda a situação, o filme ganha impulso pela propulsão natural da história singular de alguém que, sim­plesmente, se recusa a morrer e ainda busca no esporte novos significados para a vida.

Tribuna Ribeirão – Quem é o Sérgio Buonarotti depois de toda essa história vivida. Vocês conse­guem falar por ele, depois dessa produção?
Lucas Bretas – Sérgio se tornou um grande amigo, assim como toda sua família. A equipe de pro­dução do filme esteve por dezenas de vezes na casa dele, sem contar as externas de captação em outras locações. A execução e finalização desse longa-metragem não teriam sido possíveis sem toda a ajuda e a gentileza de todos da família Buo­narotti. Tudo que aconteceu naquele intervalo de quase 6 anos, entre o disparo do revólver e a prova do Iron Man como símbolo de redenção, todo esse cenário, fez do Sérgio um ser humano melhor. Ele mesmo costuma dizer que teve que quase morrer para nascer de novo… Só que desse renascimento, surgiu alguém mais evoluído, alguém mais íntimo do altruísmo e da generosidade.

Tribuna Ribeirão – The Iron Human é o primeiro trabalho de vocês, diante de tudo o que viveram para produzir essa obra, como você avalia o atual cenário do cinema brasileiro e como acredita que vai ser daqui para frente?
Lucas Bretas – O apoio ao cinema brasileiro, à arte e à cultura em geral está longe de um patamar aceitável. Entendo que ainda falte visão a atitude do próprio mercado e até mesmo do grande públi­co para enxergar que a indústria do entretenimento é uma indústria como qualquer outra e merece tanto respeito e credibilidade quanto outros setores da economia. Não fazíamos ideia de que passaríamos por tantas dificuldades, mas o pro­cesso nos fortaleceu e hoje podemos afirmar que estamos preparados para os próximos desafios, independentemente de quais sejam.

Tribuna Ribeirão – Entrar de cabeça no mundo do cinema e de cara apresentar um longa-metragem não deve ter sido uma tarefa fácil. Quais foram as dificuldades para a produção desse filme?
Lucas Bretas – Os profissionais envolvidos na pro­dução do filme têm seus empregos convencionais na rotina do dia a dia, portanto tenho o costume de dizer que esse longa-metragem foi feito aos finais de semana, noites, madrugadas e feriados. No começo não havia sequer um orçamento final para o projeto, apenas uma ideia na cabeça com a vontade de fazer virar realidade e, então, simples­mente saímos gravando e buscando alternativas ao longo do processo.
Eu tinha a ideia e a vontade de fazer, mas não tinha dinheiro para pagar a força de trabalho para uma produção desta envergadura. Mas como bons amigos, eles gostaram da ideia, acreditaram no projeto e abraçaram a produção como se fossem os profissionais mais bem pagos de Hollywood, quando na verdade não estavam recebendo um centavo sequer.

Tribuna Ribeirão – Onde o público interessado poderá assistir ao documentário após seu lança­mento?
Lucas Bretas – Estamos em negociação para deixar o filme em cartaz na sala de cinema do Cineclube Cauim por pelo menos um mês após a Avant-Pre­mière que será em novembro. Mas, de qualquer forma, o objetivo maior é fazer com que o nosso longa-metragem tenha um contrato firmado para a distribuição em alguma plataforma de streaming.

Tribuna Ribeirão – Quais são os seus próximos projetos?
Lucas Bretas – Temos um contrato já assinado em Araraquara para contar a história comovente e singular de uma moça de 32 anos que se tornou mãe de uma senhora de quase 70 anos de idade. A Grattitude Films também acabou de ser convi­dada para fazer parte do projeto de produção do documentário de 100 anos da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e, além disso, temos um roteiro original já finalizado para uma produção que sai do formato de documentário e entra no mundo da dramaturgia.

Serviço
1538°C – The Iron Human
Ficha Técnica
Direção e Roteiro: Lu­cas Bretas; Coordenador Executivo: Samuel Prisco; Produção Executiva: André Castro e Marcos Castro (Gê­meos do Cinema); Direção de Fotografia: Alexandre Sá; Edição/Finalização: Júnior Pieshko
O diretor, Lucas Bretas

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