Mais de duas mil pessoas invadiram o calçadão da rua General Osório, no coração de Ribeirão Preto, nesta terça-feira, 8 de maio, em busca de uma oportunidade de trabalho. Divulgado nas redes sociais, o Feirão de Empregos do Centro Brasileiro de Curso (Cebrac) movimentou a região central da cidade com a oferta de 120 vagas em 47 áreas diferentes de atuação. Foram distribuídas 420 senhas entre as nove horas da manhã e duas da tarde. A fila chegou a quatro quarteirões.
Apesar do número limitado de senhas, todas as pessoas que estavam na fila puderam entregar seus currículos. No entanto, menos de 10% serão chamados para admissão. Muita gente chegou à sede do Cebrac na segunda-feira (7) – como as irmãs Raissa Calixto de Almeida e Rafaela Calixto de Almeida, que armaram acampamento às 15 horas de anteontem e passaram a madrugada desta terça-feira acordadas.
Abraão de Oliveira, de 28 anos, chegou ao local às seis horas da manhã. Ele aguardava na fila para entregar o currículo, mas passou mal por volta do meio-dia. Foi levado para o escritório do Cebrac e atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Bruna dos Santos Ricardo Mica, de 22 anos, procura emprego como secretária. Ela também chegou cedo e aguardava sua vez sentada em um banquinho cedido por um comerciante.
Segundo a agente de empregos Kelly Delino, representantes das empresas acompanharam o evento, que previa entrevistas e palestras voltadas ao comportamento, postura e dicas aos candidatos. Segundo o Cebrac, mesmo que não haja interesse imediato, as empresas contratantes ficaram com o cadastro das 420 pessoas que conseguiram senhas e guardaram os demais currículos para análise e seleção futura. Não foi cobrada taxa de inscrição. O Cebrac é uma agência empregos que oferece treinamento gratuito e auxilia os candidatos na busca por colocação.
Gestora da empresa, Adriana Rodrigues Delgado diz que os anúncios foram feitos em redes sociais e que a procura não surpreendeu. O índice de desemprego no Brasil atingiu em 13,1% no primeiro trimestre de 2018, o equivalente a 13,7 milhões de pessoas, segundo o pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Uma ampla pesquisa realizada pelo Núcleo de Inteligência da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), coordenado pelo economista Gabriel Couto, mostra que nos últimos dez anos, entre 2007 e 2017, a cidade acumula déficit de 5.217 empregos formais. De acordo com o estudo, a geração de postos de trabalho com carteira assinada não acompanhou
o crescimento da população economicamente ativa – pessoas com idade entre 20 e 64 anos.
A pesquisa considerou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) – Ministério do Trabalho –, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), do IBGE e da própria Acirp. Entre 2007 e 2017, Ribeirão Preto registrou superávit na abertura de vagas, com saldo de 65.911 postos.
No entanto, 71.128 pessoas ingressaram no mercado de trabalho, gerando o déficit de 5.217 vagas. No ano passado, a cidade tinha 368.829 pessoas na faixa etária da população economicamente ativa, 1,18% acima das 364.508 de 2016, acréscimo de 4.321 trabalhadores. Segundo o último levantamento do Caged, divulgado em março, Ribeirão Preto fechou o primeiro trimestre deste ano com superávit de 2.029 vagas formais, resultado da soma dos resultados de janeiro (1.299), fevereiro (524) e março (206). O superávit na cidade no período é 17 vezes superior ao déficit de 126 postos fechados nos três primeiros meses do ano passado, acréscimo de 2.155.
No entanto, a geração de empregos formais desacelerou e quatro dos cinco principais setores da economia local fecharam março no “vermelho” – comércio, construção civil, indústria e agropecuária. A prestação de serviços impediu que o saldo fosse negativo. O saldo de 206 carteiras assinadas de março é 60,7% inferior ao de fevereiro (524), retração de 318 novos postos de trabalho.