Diariamente dezenas de pessoas fazem o Caminho da Fé, seja a pé ou de bicicleta. Saem de suas respectivas cidades com um único destino: a cidade de Aparecida. Algumas viagens caminhando duram semanas, dependendo do ponto de partida. De bicicleta, cerca de uma semana. Alguns mais preparados fisicamente realizam uma parada. Mas poucos se arriscam a fazer o percurso em um dia, principalmente saindo de Ribeirão Preto, o que dá uma distância de 470 kms. Esse desafio sozinho, então, o número é bem menor.
O técnico em eletrônica e estudante de medicina veterinária André Luiz Borges é um que está nessa relação menor. Por duas vezes ele montou sua bicicleta, deixou Ribeirão Preto e só parou em Aparecida. “Eu acho que toda a peregrinação merece respeito, mas eu queria mesmo é fazer o sacrifício, a penitência”, explica.
A primeira viagem aconteceu no Natal de 2017. André saiu de Ribeirão Preto às 6h do dia 23 de dezembro e chegou em Aparecida no dia 24 às 10h45, cerca de 28 horas. Em 2018 ele tentou, mas esbarrou no cansaço em Porto Ferreira. Na Virada do Ano, nesta semana, ele conseguiu pela segunda vez. Deixou a cidade às 6h do dia 28 e chegou em Aparecida às 13h45 do dia 29, quase 32 horas.
André vai de bicicleta tipo speed pelas estradas de asfalto. Enfrenta calor, frio, vento forte e o perigo das estradas à noite. Se alimenta a cada praça de pedágio, mas nem sempre isso é possível, pois imprevistos acontecem.
“Sempre planejo para a cada 50km o que é a distância aproximada entre as praças de pedágio. Paro, descanso poucos minutos, pego água, me alimento quando é preciso e sigo o caminho”, conta a estratégia.
Mas nem sempre o programado acontece. “Por exemplo, nessa última vez a comida que eu levei estragou por causa do calor”, diz. Nas duas vezes, os alimentos faltaram a mais de 100km do destino. “Eu não levo dinheiro. Levo um pouco e cartão para voltar de ônibus. É proposital. Só para usar em emergência”.
Engana-se quem pensa que a bicicleta utilizada é de última geração. “É uma bike simples. Adaptei uma garupa para levar algumas coisas. Além de pouca comida e água, levo um pneu e algumas ferramentas”.
Ele conta que começou a fazer o Caminho como forma de agradecimento pela vida. “Passei por um problema sério. Consegui tirar um cisto em tempo, mas poderia ter morrido. Então, sempre procuro agradecer a Deus por tudo”, revela. “Na viagem a gente pensa em tudo o que acontece na nossa vida. É uma conversa consigo mesmo o tempo todo”.
Para ele, o preparo físico, a distância, as adversidades de temperatura e os imprevistos com alimentos não são os mais difíceis no trajeto. “Sua cabeça te manda parar sempre, desistir e voltar. É uma guerra psicológica. Esse fator psicológico é o mais difícil”. Ao comentar sobre a chegada, André não esconde a emoção. “Não tenho palavras”, diz após um tempo respirando fundo. “Enquanto eu puder vou fazer, é minha maneira de celebrar e agradecer a vida”, finaliza.