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A família continua de bruços!

A minha infância não foi nada fácil, mas não a trocaria por nada deste mundo. Meu pai faleceu aos 27 anos de idade, quando minha mãe tinha 25, meu irmão mais velho 6, eu 4, o mais novo 2 e minha irmãzinha que com 5 meses faleceu no dia do enterro de meu pai. Fomos morar com os avós pater­nos. Minha mãe optou por educar-nos, e dedicar seus 73 anos de vida por nossa manutenção sozinha.

Com 5 anos de idade, junto com meus irmãos, dividíamos as tarefas do lar; estudávamos gratuitamente num bom Colé­gio da Congregação das Irmãs de Santa Catarina de Alexan­dria em Novo Hamburgo (RS). Mais ou menos gratuitamente. Enquanto nossos coleguinhas de escola iam para suas casas almoçar, meus irmãos e eu limpávamos a Escola. Só depois de tudo em ordem éramos dispensados para andar a pé 4 km até chegarmos em casa e então almoçávamos.

Limpávamos a casa, cumpríamos as tarefas de escola e só então íamos brincar. Enquanto meus irmãos juntavam seus amigos para uma “pelada de futebol” num campinho em frente de nossa casa, eu convidada outro bom grupo de vizi­nhos, para brincarmos de “rezar missa” no curral de vacas. Era a estrebaria mais limpa da vizinhança. Quando uma de nossas “artes” era descoberta, apanhávamos com relhos de animais, já que nosso avô era veterinário e fazia os arreios para carroças e animais como cavalos e bois.

À noite, antes do jantar, nos reuníamos em torno da mesa e rezávamos o terço, em família. Em cada quarto havia uma es­tampa emoldurada com a Sagrada Família e em volta um terço, com a frase: “A família que reza unida, permanece unida!” Aos sábados, juntamente com nossa avó e nossa mãe, passávamos o dia lavando a Escola das Irmãs, deixando-a um “brinco”.

Assim, segundo a pedagogia das irmãs, aprenderíamos a dar valor ao estudo que parecia ser gratuito, mas que pagáva­mos com nossos serviços braçais, o que hoje daria um bom processo, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, e a proibição de crianças e pré-adolescentes trabalharem.

Imagino que muitos discordarão, mas confesso que o trabalho só nos edificou. Quando passamos a trabalhar com carteira registrada, entregávamos o salário todinho para a mãe, que administrava o caixa comum da família. Depois dos 18 anos de idade, pagávamos uma chamada “pensão” deter­minada pela mãe, para ajudar nas despesas da casa.

Isso acontece até os dias de hoje em muitas famílias, até que os filhos deixam a casa dos pais. Nos dias atuais os filhos nem sabem quanto se gasta para manter uma casa. Quando trabalham, utilizam o salário para gastos pessoais. Quando não trabalham, contam com os pais para manterem seus gas­tos, nem sempre modestos.

Não me contenho em testemunhar que sou uma pessoa muito feliz, e profundamente agradecida pela educação que recebi, tanto de minha mãe, uma heroica e corajosa mulher, como de meus avós paternos. Penso que se tal cultura fos­se cultivada, não constataríamos que a família continua de bruços!

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