Thiago Pizzo Scatena *.
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Antonio Carlos Morandini e Gilberto Maggioni trouxeram a internacionalização do Aeroporto Leite Lopes como pauta no jornal Tribuna. A exaustiva pauta do Leite Lopes ser capacitado como aeroporto internacional de cargas pode ser datada ainda nos anos 50. A capa do jornal A Cidade, nº 281 de 6 de dezembro de 1956, noticia que o Aeroclube de Ribeirão Preto e o prefeito Costábile Romano enviaram telegramas para Jânio Quadros, Governador do Estado de São Paulo e para o Ministro da Aeronáutica, solicitando estudos e recursos para a internacionalização do Aeroporto Leite Lopes (o jornal se encontra no sucateado Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto).
Em 1997, gestão Roberto Jábali, ocorreu um acordo para a elaboração de estudo para a internacionalização do Leite Lopes desenvolvida através da Trade Development Agency, órgão dependente do Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos da América. Em 2002, gestão Gilberto Maggioni, é outorgada pelo Departamento de Aviação Civil a habilitação do transporte internacional de cargas do Aeroporto Leite Lopes pela portaria nº 998 de 30 de dezembro de 2002, liberando o aeroporto para voos internacionais exclusivos para transporte de carga.
Em 2003 o DAESP abre uma licitação para conceder à iniciativa privada a utilização de área dentro do sítio aeroportuário de 10.000 m² que serviria como recinto alfandegado. A empresa vencedora foi a Terminais Aduaneiros do Brasil LTDA (TEAD Brasil), que não executou os investimentos necessários para a implantação de área aduaneira e de alfândega no prazo estipulado e somente construiu o terminal alfandegado no ano de 2014, fato que gerou uma Comissão Especial de Estudos da Câmara Municipal no ano de 2012.
Ainda no ano de 2012 ocorreu a assinatura do convênio entre o Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, com participação do DAESP, com o objetivo de executar o empreendimento “RAO Internacional”, documento assinado pelo governador Geraldo Alckmin, prefeita Dárcy Vera e deputados federais, Duarte Nogueira Jr. e Baleia Rossi. Em 2014 ocorreu tratativas entre o Estado de São Paulo e a União para que o Governo Federal participasse do projeto RAO Internacional, mas com a mudança de governo decorrente do Impeachment da Presidenta Dilma Rousseff há um novo acordo entre a Secretaria Nacional de Aviação Civil e o Estado de São Paulo no ano de 2017.
Nenhum desses acordos, tratativas ou convênios prosperou. Portanto, avalio que não foi a tal “falta de vontade política” que resultou na novela internacionalização do Leite Lopes. Os fatores podem ter ligação com a complexidade do projeto de internacionalização, porque a região que se encontra o aeroporto está em processo de urbanização desde dos anos 50, e atualmente é limitado por bairros, rodovias, ferrovias e zonas industriais.
Para internacionalizar o Leite Lopes há a necessidade de ampliação da pista de pouso e decolagem, de desapropriação de moradias, comércios e indústrias para ampliar a zona de mitigação de ruído, de investimentos viários e de drenagem, entre outros, que fazem da internacionalização um negócio inviável. Talvez seja a hora de encerrarmos a novela da internacionalização do Leite Lopes e buscarmos alternativas financeiras e localizacionais para um novo aeroporto de cargas, mesmo que fora do Município de Ribeirão Preto.
* Sociólogo, mestre pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU/USP) e membro do Instituto Território em Rede.