Há tempos venho refletindo sobre a estreita relação entre saúde e qualidade ambiental. Creio ser muito importante sabermos que nossa saúde é diretamente influenciada pelo meio onde vivemos. Recentemente me deparei com uma breve publicação do Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA)onde são citadas sete ações humanas no ambiente que prejudicam a saúde coletiva. Discorrerei sobre elas e adicionarei uma oitava ação.
Respirar ar poluído. Estima-se que apenas 12% das cidades do mundo possuem qualidade do ar compatível com os padrões de qualidade previstos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Doenças cardiorrespiratórias, pulmonares, vasculares e cancerígenas são disparadas e agravadas em cidades com índices elevados e constantes de material particulado, óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono, ozônio, óxidos de enxofre e hidrocarbonetos.
Beber água contaminada. Após a utilização em nossas residências, nas indústrias, nos serviços e no comércio, as águas residuais são lançadas nos ecossistemas sem qualquer tratamento. Somente 20% da água usada pelos humanos passa por algum tipo de descontaminação antes de retornar à natureza. Assim, os mananciais que abastecem milhões de pessoas perdem qualidade e criam condições favoráveis à proliferação de doenças. Os exemplos clássicos são: cólera, hepatite A, tifo, giardíase, amebíase, síndrome respiratória aguda grave e infecções gastrointestinais.
Consumir alimentos com valor nutricional comprometido. Os segmentos de alimentos muito processados e conservados por longos períodos, como por exemplo, margarinas, maioneses, óleos refinados, atomatados e leite longa-vida, não asseguram valores nutricionais necessários à nossa saúde. Esses alimentos, em sua maioria, são provenientes de longas cadeias produtivas que impactam negativamente o meio em suas fases de produção e distribuição. Valorize alimentos locais e regionais vindos de cadeias produtivas curtas.
Consumir substâncias nocivas, leia-se “agrotóxicos”. A agricultura comercial de exportação tem sido irresponsável quanto ao emprego de pesticidas em suas extensas monoculturas. Há inúmeros estudos que comprovam a intoxicação de agricultores e consumidores com essas substâncias.Também há inúmeras evidências de poluição de toda cadeia de seres vivos em ambientes aquáticos e terrestres. Quantos litros de agrotóxico você bebe por ano?
Exposição a doenças zoonóticas. A destruição e alteração de hábitats – área de vida de espécies animais – através do desmatamento, da super exploração de recursos naturais e da invasão de espécies exóticas reduzem as barreiras naturais perante vírus, bactérias e outros patógenos.
Animais comercializados em situações sanitárias impróprias também expõem a população a zoonoses. Alguns exemplos: covid-19, sarampo, dengue, leishmaniose, ebola, aids e coqueluche.
Resistência a medicamentos antimicrobianos. O uso indiscriminado de antibióticos nos humanos, nos animais domésticos e em rebanhos de animais confinados enfraquece a eficiência dos tratamentos da medicina perante novas e velhas doenças.
Redução da diversidade de medicamentos naturais. A ameaça de extinção de aproximadamente 15.000 espécies vegetais que contém princípios ativos que dão base a inúmeros medicamentos alopáticos e fitoterápicos é uma perda em curso absurda para a humanidade! Outras milhares de espécies vegetais estão desaparecendo sem que saibamos seus possíveis usos na farmacologia. Desconhecemos a grandeza do que estamos perdendo. Um verdadeiro atestado de…
Uma natureza inóspita não dará belos poemas. À medida que poluímos e alteramos bruscamente o meio ambiente comprometemos nossa saúde mental e emocional. Em algum momento do passado recente houve uma cisão entre homem e natureza. Essa é a causa original de todos os dissabores na atualidade. O comprometimento do funcionamento da natureza compromete nossa qualidade de vida. Não há vitrine que faça remediar esse mal dos tempos.