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A educação tem que ser transformadora

A concepção do processo educacional totalizante passa por quatro estágios: transmissão do patrimônio cultural, despertar das potencialidades espirituais, reflexão do que se vive e capacidade de modificar a realidade. No entanto, a escola básica brasileira estacionou no primeiro estágio, que gera uma educação alijada da criatividade e da reflexão e transforma a formação do educando num processo de domesticação intelectual.

Alguns estudos mostram que a qualidade da educação básica não está diretamente ligada ao potencial financeiro de Estados e municípios. Ribeirão Preto, como uma das cidades mais ricas do País, retrata bem esta realidade. Pela grandeza financeira do município, deveríamos figurar nas primeiras posições no ranque nacional das avaliações da educação bá­sica, mas a cidade não aparece entre os primeiros quinhentos municípios na avaliação do Ideb.

No entanto, os debates sobre a qualidade da educação bá­sica não apontam caminhos consistentes para encontrarmos uma saída que coloque a educação no século 21. O desprezo pela legislação que permeia a educação no Brasil – e particu­larmente em nossa cidade, onde foi criado um sistema ilegal e burocrático cheio de caminhos tortuosos, em que o educando é sempre o ultimo da fila das prioridades, e com isso nossa meninada continua chegando analfabeta ao final dos anos iniciais do ensino fundamental – é inadmissível.

Os avanços científicos e tecnológicos já fazem parte de quase todas as áreas do conhecimento humano, porém, na área da educação básica, que é o alicerce de qualquer país que alcançou o desenvolvimento, ainda não conseguiu desembar­car na maioria das escolas públicas brasileiras por conta de uma educação tradicional jesuítica, reforçada pelo modelo cartesiano, que mantém viva as mesmas práticas do século 19.

Há uma reflexão que retrata bem essa situação: se um cirurgião, que até o ano 2000 estava ativo num centro cirúr­gico, e de lá pra cá nunca mais tenha participado de cirur­gias, se ele chegar a um centro cirúrgico nos dias de hoje, vai conseguir operar normalmente? Claro que não! Ele (ela) mal vai se localizar no ambiente. Mas se um professor do século 19 chegasse hoje a uma escola básica pública, acharia muita diferença? Não! É o mesmo quadro, que era negro e hoje é verde, o mesmo giz e a mesma formação das carteiras, com os educandos um olhando a nuca do outro, apenas com uma diferença – os modelos modernos do mobiliário.

A educação tradicionalista produz dinossauros pre­sos a uma pedagogia que não contemplam as diversidades dos dias atuais, e isso foi de encontro ao pensamento da meninada do século 21, que não aceita mais passivamente essa educação confinadora, onde o decorar é mais importante do que aprender. Os educandos do século 21 perceberam que aprendem mais fora da sala do que durante as aulas, e que não existem verdades absolutas, como as respostas prontas e definitivas dos livros didáticos.

O educando não é gado para ficar confinado por horas olhando o professor, que se alvora como o único detentor do saber – e ainda tem gente querendo ampliar essa desgracei­ra toda. Uma educação libertadora, como propunha Paulo Freire, onde o educando possa participar do seu aprendizado descobrindo suas potencialidades, e serem donos de suas escolhas, é o único caminho.

“Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las. Se a educação sozinha não transforma a socieda­de, sem ela tampouco a sociedade muda”. (Paulo Freire)

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