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A dura realidade dos idosos em Ribeirão Preto 

Renato Buosi 
renatobuosi@gmail.com 
 
Ribeirão Preto é reconhecida por seu potencial econômico, sua história de trabalho e desenvolvimento, mas esconde em suas ruas uma dura realidade: a vida difícil de milhares de idosos que enfrentam o abandono do poder público e o desrespeito às suas necessidades básicas. 
 
Segundo o Censo do IBGE de 2022, a cidade possui cerca de 115 mil idosos. Um número expressivo que deveria colocar esta parcela da população no centro das políticas públicas. No entanto, o que se vê é exatamente o contrário. 
 
Dados oficiais do governo federal revelam que 70% dos aposentados do INSS recebem até um salário-mínimo. Ou seja, ¾ dos benefícios pagos correspondem ao piso nacional, hoje em R$ 1.518,00. Valor esse que, de acordo com o artigo 7º da Constituição Federal, deveria garantir moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. 
 
Na prática, qualquer pessoa de bom senso sabe que esse valor não atende sequer às despesas básicas de um idoso que precisa de medicamentos, consultas médicas, alimentação adequada e transporte. Isso mostra que o salário-mínimo praticado no Brasil, e sentido de forma ainda mais dura em Ribeirão Preto, se tornou inconstitucional na prática — porque deixou de cumprir a função que a Constituição lhe atribui. 
 
Outro dado preocupante vem do Serasa: no Estado de São Paulo existem quase 3,5 milhões de idosos inadimplentes — o que representa 20% de todos os inadimplentes paulistas. Muitos desses idosos são moradores de Ribeirão Preto, vítimas da dificuldade de se manter com uma renda insuficiente. 
 
O quadro se agrava com a oferta desenfreada de empréstimos consignados. O crédito fácil, com desconto em folha, tornou-se uma armadilha. Os bancos e financeiras encontraram nos aposentados uma clientela vulnerável e lucrativa. Trata-se, lamentavelmente, de um mercado que explora a necessidade e o desespero de quem deveria ser amparado. 
 
Para completar esse triste cenário, o aumento anual dos preços de medicamentos, autorizado por lei federal, corrói ainda mais o já defasado poder de compra dos idosos. Mesmo com a possibilidade de descontos em farmácias, os reajustes muitas vezes superam a capacidade financeira de quem vive com o mínimo. 
 
Ribeirão Preto precisa urgentemente rever sua postura em relação aos idosos. Não basta discursos em datas comemorativas. É necessário um planejamento sério, políticas públicas eficazes, valorização das instituições que cuidam dos idosos e, principalmente, respeito à dignidade daqueles que construíram nossa cidade. 
 
A omissão do poder público tem custo social e humano alto demais. É hora de enxergar os idosos de Ribeirão Preto não como números, mas como cidadãos que merecem viver com dignidade, segurança e qualidade de vida. 
 
* Advogado e presidente da AIPI-SP — Associação de Instituições para Idosos do Estado de São Paulo. 

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