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A difícil e corajosa atitude de denunciar o assediador

Na última sexta-feira, dia 04, a atriz e humorista Dani Calabresa publicou um texto em suas redes sociais denunciando os assédios sexuais que sofreu de Marcius Melhem, ator, roteirista, diretor e coordenador do departamento de humor da emissora Globo.

Os detalhes dos assédios foram publicados pela Revista Piauí, para quem Calabresa deu depoimento. Para a reportagem, que pode ser utilizada como de­núncia em processos judiciais, foram ouvidas 43 pessoas em conversas presenciais, virtuais ou por meio da troca de mensagens de texto ou áudio. Entre elas, duas vítimas de assédio sexual de Melhem, sete vítimas de assédio moral e três vítimas dos dois tipos de assédio, o sexual e o moral. Calabresa ainda tem mensagens de celular como provas dos assédios.

A atitude difícil e corajosa de Calabresa motivou outras mulheres, também vítimas de Melhem. Mais cinco mulheres, pelo menos, denunciaram Melhem por assédio sexual. Três delas falaram que ele costumava encostar-se nelas roçando o pênis ereto. “Ele fazia isso até quando me encontrava nos corredores.

Sempre em tom de brincadeira, como se o lugar fosse apertado demais e fosse impossível não encostar em mim”, relatou uma delas. Outra atriz contou que Melhem a visitou em seu apartamento, para onde ela acabara de se mudar, quis conhecer seu quarto e, ao chegar ali, expôs sua genitália. Outra relatou que ele apareceu de surpresa em sua casa, dizendo que, ao passar casualmente pela região, resolveu visitá-la. Enquan­to conversavam sobre a carreira dela na televisão, ele tentou agarrá-la.

Para chegar nesse ponto, no entanto, o caminho foi árduo para Calabresa. Ela denunciou os fatos para sua empregadora (Globo) várias vezes, através de diferen­tes instâncias, e fez isso porque conforme ia denunciando e não recebia retorno da denúncia feita e para não deixar o assunto morrer, buscava novos caminhos.

Calabresa fez o certo ao denunciar e ao não desistir da denúncia, porém, ao fazer isso, a cada vez que tinha que falar do assunto para as novas instâncias da empregadora ela revivia os assédios pelos quais passou, o que se torna mais uma agressão para a vítima, uma revitimização acompanhada da ojeriza de reviver, agora publicamente, a dor e o constrangimento pelos quais passou.

Por cada instância da empregadora Globo que Calabresa passou para denun­ciar os assédios, e segundo ela relatou foram pelo menos três instâncias, ela ficou horas falando, sendo indagada e respondendo, chegando a ficar cinco horas em uma dessas reuniões. A própria legislação já reconheceu o caráter maléfico e de nova agressão desse procedimento, e buscando combater isso a Lei Maria da Pe­nha estabeleceu em seu artigo 10-A, § 1º, inciso III, a não revitimização da vítima com repetitivos depoimentos.

Mas a incompetência e o desrespeito da Globo em lidar com o assunto não parou por ai. Diante das denúncias a empregadora Globo não emitiu decisão e manteve o caso em sigilo, o máximo que fez até agora, após quase um ano da denúncia recebida, foi sugerir a Melhem, como resposta às denúncias de assédio, que ele fizesse terapia. Quase um presente pelos assédios praticados.
E embora a Globo não tenha tomado lado, Melhem, após 17 anos na emisso­ra, não trabalha mais na Globo após as denúncias feitas por Calabresa nas redes sociais e na imprensa. No comunicado público de desligamento de Melhem, a Globo ainda fez elogios a ele e nada falou das denúncias de assédio.

Um chefe assediador deixa para trás, por onde passa, uma terra arrasada no que se refere aos aspectos psicológicos, mentais e emocionais da pessoa perse­guida. São homens que instrumentalizam sua posição de poder hierárquico para assediar sexualmente as mulheres cujas carreiras dependem deles. Precisa de trata­mento uma pessoa assim, para tratar essa mente deturpada e esse caráter covarde e apresender a respeitar que “não” é “não”? Claro, se trata de uma pessoa men­talmente doente e talvez de um psicopata, mas, para além disso, também precisa responder pelo mal que fez, sendo responsabilizada pelos seus atos e praticando, da melhor forma, a reparação dos prejuízos.

E quem se omite diante de uma denúncia de assédio sexual e moral já fez uma escolha; a de ser conivente e tolerante com o assediador e o assédio, do contrário, não fi­caria na omissão. A omissão é uma escolha, a escolha do não-agir e se tornar conivente. A história, por sua vez, é implacável no reconhecimento de quem fez, de quem não fez e do que foi feito. Após a atitude corajosa e das pedras no caminho, Dani Calabresa re­cebeu uma chuva de apoios de personalidades famosas, dentre elas, colegas de trabalho dela e de Melhem. Já Melhem perdeu o emprego, o respeito e a máscara.

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