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A diferença entre Moro e Bolsonaro

Acompanhei nas duas últimas semanas a intensa discussão sobre a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça. Foi mais um round político para muitas pessoas se dividirem nas suas preferências. Mas, logo me veio a pergunta: qual é mesmo a diferença entre os dois para essas pessoas se digla­diarem tanto? Depois de tudo o que aconteceu desde o golpe de 2016, com o afastamento da presidente Dilma, existe mesmo alguma diferença entre eles?

Os dois são como irmãos siameses, parecidos em tudo. Na ambição pelo poder, no autoritarismo, na ausência de escrúpulos, na facilidade para mentir, e por aí vai. Já diz o ditado popular que “os semelhantes se atraem”. É exatamente o que acontece entre os dois. Se atraíram tanto que podemos afirmar que são os maiores responsáveis pela situação desastrosa em que hoje se encontra o país, independentemente da pandemia. Economia e política padecem hoje em nosso país por causa da atuação dos dois.

Foi muito a partir das ações de Sérgio Moro que o medíocre deputado Jair Bolsonaro, admirador de torturadores e odiento em tudo o que fala, conquistou o Palácio do Planalto. Nada mais natural, portanto, que tivesse convidado o juiz de Curitiba, famoso por sua atuação na operação Lava-Jato, para ser o seu ministro da Justiça, com a promessa de indicá-lo futuramente para uma cadeira no Supremo. Todos sabem que houve mesmo esta promes­sa. Não adianta desconversar.

Para mim, agora, não foi nenhuma surpresa como o ex-juiz deixou o cargo: atirando. Depois das tenebrosas revelações do site Intercept Bra­silsobre o seu modus operandi, todos ficamos sabendo que ele é capaz de fazer qualquer coisa para atingir seus objetivos. Ao fazer graves acusações a Bolsonaro, especialmente à sua tentativa de interferir nas investigações da Policia Federal, Moro acabou confessando que foi conivente com as ações do capitão, aprovando-as com o seu silêncio. Moro se autoincriminou. Não resta a menor dúvida quanto a isso.

Só colocou a boca no trombone quando percebeu que, após a demissão de Mandetta, ele, Moro, era a bola da vez. E, como sempre, contando com a cobertura da grande imprensa, em especial da Rede Globo, partiu para a sua performance particular, apresentando-se como herói, defensor da Polícia Federal, da moral e dos bons costumes republicanos. Conseguiu até subir o seu prestígio entre alguns federais quando disse que precisava de uma “causa” para aceitar a demissão do diretor geral da corporação.

O erro do presidente nunca esteve na troca do diretor, mas no motivo da troca. Nisso Moro tinha razão. Bolsonaro ainda quer alguém que lhe seja fiel e o mantenha informado de todos os passos das investigações realizadas pela PF, principalmente em relação à sua família. Os objetivos são claros: impedir que os policiais cheguem até os seus filhos, responsáveis por vários crimes, e ter em mãos informações privilegiadas que lhe permitam manipular e até perseguir os seus adversários políticos.

Sérgio Moro, até a sua saída do Ministério, foi fiel escudeiro de Bolsona­ro. Entre outras coisas evitou que a PF localizasse e prendesse o Queiroz, o operador de “rachadinhas” do então deputado estadual Flavio Bolsonaro. Fez também vista grossa para as criminosas fake news que continuam invadindo as redes sociais, cujo ponto de partida é o chamado “gabinete do ódio”, insta­lado dentro do próprio Planalto. Por tudo isso e muito mais, Moro e Bolsona­ro são cara de um focinho do outro. E fico pasmo quando alguns conseguem tomar partido entre esses delinquentes.

O fato é que as acusações de Moro a Bolsonaro, que escandalizaram o país, podem servir não apenas para dar início a um processo de impeach­ment contra Bolsonaro mas, também, para levar o ex-juiz à cadeia. O esforço da Globo em transformar Moro em herói, como fez quando ele comandava a Lava-Jato, só funcionou num primeiro momento, ao impacto das gravíssimas acusações. Depois, já é possível perceber a extensão das responsabilidades do ex-juiz nas ações do Presidente. Fiquemos atentos. Ainda teremos fortes emoções com esses irmãos siameses.

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