André Luiz da Silva *
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Nesta semana, celebramos São Lucas Evangelista, uma figura que atravessa séculos como símbolo de dedicação à cura e à arte. Segundo a tradição, Lucas nasceu em Antioquia, e se destacou como médico. Sua história, contada entre cristãos orientais, traz um detalhe curioso: é conhecido como “médico pintor”, Lucas teria diversas representações da Virgem Maria. Seu Evangelho, escrito em grego, oferece uma das mais belas narrativas sobre a infância de Jesus e a vida de Maria. Hoje, ele é considerado o padroeiro dos médicos, pintores e vidraceiros
Ao falar de São Lucas, isso nos vem à mente a importância da medicina, uma ciência tão antiga quanto a humanidade. No Brasil, nossos primeiros médicos foram os pajés indígenas, que cuidavam de suas comunidades com saberes ancestrais. Com a chegada dos portugueses, vieram novos profissionais, mas também doenças até então desconhecidas por aqui. A medicina, uma das profissões mais almejadas no país, passou por grandes transformações. Entre 2000 e 2023, o número de médicos por mil habitantes praticamente dobrou.
Segundo dados da Universidade de São Paulo (USP) e da Associação Médica Brasileira (AMB), em 2020 o perfil típico do estudante de medicina no Brasil era predominantemente feminino, branco, com idade entre 19 e 24 anos, e cursando graduação em instituições privadas. Além disso, a maioria dos estudantes vem de escolas particulares. O crescimento da presença feminina na profissão é notável: o Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta que, de cada 10 novos médicos, 6 são mulheres.
Se olharmos para números absolutos, o Brasil possui um dos maiores contingentes de médicos do mundo. Contudo, o que deveria ser motivo de orgulho acabou em um problema persistente: a desigualdade na distribuição desses profissionais. Embora haja médicos em quantidade suficiente, eles estão concentrados, em sua maioria, nas regiões Sul e Sudeste, especialmente nas capitais e grandes cidades. Para se ter uma ideia, 62% dos médicos brasileiros atendem 32% da população. Já nas regiões Norte e Nordeste, onde vivem mais de 65 milhões de pessoas, há apenas 8% dos médicos, cerca de 42 mil profissionais. A conta não fecha. Por outro lado, se aqui temos tantos médicos, qual a razão de tamanhas filas e demoras nos atendimentos? Enquanto não encontram respostas e atendimentos, milhões recorrem à fé e lotam igrejas das mais variadas denominações buscando a cura através da intervenção divina.
Outro ponto crucial é o número de escolas médicas no Brasil. Atualmente, há 390 instituições em 250 municípios, das quais apenas 121 são públicas. Juntas, elas oferecem cerca de 42 mil vagas por ano. Contudo, a maior parte dessas escolas também está nas regiões mais privilegiadas, o que reforça a necessidade de ampliar a formação de novos médicos em áreas com maior carência de profissionais.
Vale lembrar que a saúde não depende apenas dos médicos. A atenção básica, um dos pilares do sistema de saúde, também precisa de investimentos. O Brasil criou a Estratégia de Saúde da Família (ESF), composta por equipes multidisciplinares que incluem médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde, dentistas, auxiliares e técnicos em saúde bucal. Porém, para que essa estratégia funcione, é necessário garantir que haja investimentos e profissionais suficientes em todo o território nacional.
Entre as 463 mil pessoas que pediram registro para concorrer aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador nestas eleições, a maioria esmagadora prometeu melhorar a saúde e, principalmente contratar mais médicos, mas poucos demonstraram realmente dominar o tema e apresentaram propostas efetivas.
Ao celebrar o Dia do Médico, homenageamos esses profissionais essenciais e reforçamos a importância dos investimentos em saúde. O Brasil precisa não apenas formar mais médicos, mas também os distribuir de maneira equilibrada e garantir boas condições de trabalho. Enquanto isso, não custa pedir: São Lucas, intercedei por nós!
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista