O golpismo no Brasil começou a mostrar sua cara ditatorial. A intervenção no Estado do Rio de Janeiro é apenas um laboratório para a implantação do regime de exceção. A intervenção em um ente federativo é constitucional, mas intervir apenas na segurança pública, e colocar um general como interventor com poderes ilimitados é uma ofensa ao regime democrático.
Estamos vivendo tempos semelhantes aos vividos no final do ano de 1963 e inicio de 1964, quando a intervenção militar era cantada em verso e prosa pela elite e pela classe média deslumbrada como o único caminho para salvar o Brasil do perigo vermelho. Na época, o Tio Sam deu apoio financeiro, logístico e colocou o seu poderoso exército de prontidão na costa brasileira, para que qualquer insurreição contra o golpe militar fosse sufocada no seu nascedouro – e tudo saiu como o combinado.
Nos dias atuais a velha prática golpista voltou com força total. Como o Brasil tem a sua história oficial ancorada no golpismo, com o tempo foram aperfeiçoando o modus operandi criando expertise na modalidade. Mas nos dias atuais o país poderoso do norte não precisou usar a velha pressão armada, apenas usando o seu poder de convencimento cooptou os indivíduos aduladores, e fies ao seu estilo de dominar outros países.
No Brasil sempre foi encarado com naturalidade a cisão social, onde os ricos têm todos os direitos preservados, enquanto os mais pobres não têm direito ao mínimo necessário para ter uma vida digna. A intervenção no Rio de Janeiro é apenas um escopo para uma intervenção mais ampla, que na visão dos golpistas se faz necessário para consolidar o golpe jurídico-parlamentar e cumprir fielmente as ordens recebidas. A elite, e a classe média deslumbrada nunca aceitaram que os mais pobres mudassem o seu patamar de vida, e pudesse viver com mais dignidade.
Fazer uma intervenção militar apenas nas comunidades pobres, mostra que querem ampliar a aviltante segregação social, não se fala em intervir na roubalheira e no descontrole das finanças do Estado – isso nem pensar, pois mexe com o andar de cima. O movimento hippie dos anos 1960 trouxe para a elite carioca o lema: “paz e amor” que tinha no consumo da cannabis um dos pilares deste lema. Mas, sempre tem um “mas”. A cannabis já era conhecida – era tratada como erva do norte, porém o seu consumo era restrito a pequenos grupos.
Com a explosão do consumo entre a juventude “bem nascida” era preciso criar uma rede de distribuição para que esse novo consumidor pudesse comprar a matéria prima para o seu baseado, no entanto essa rede não poderia ser nos bairros nobres, e nem nas suas proximidades – a rede começou nos pontos dos jogos de bicho, e depois se alinhou no interior das favelas, mas tudo com a supervisão das “autoridades”, pois sabiam que estavam com uma mina de ouro inesgotável.
Agora sem mexer com os verdadeiros bandidos, querem carta branca para poder agir, sem respeitar as leis vigentes. Criaram uma figura jurídica que atenta contra a dignidade humana – o tal do mandato judicial coletivo, que só será cumprido nas comunidades pobres – vão entrar em todas as casas sem pedir licença, e para não ter nenhum problema com a justiça por eventuais excessos, o general comandante vai pedir habeas corpus preventivo – e que não se pode admitir outra Comissão da Verdade – querem carta branca para agir como se estivessem em pleno regime de exceção.
A população pobre sofre há muito tempo com a falta dos serviços públicos essências, como saneamento básico, saúde e educação e moradia. Como a comunidade não tem nenhum respaldo das autoridades – ficam a mercê das regras ditadas pelo dono do morro da vez, mas já se habituaram. Agora a situação é outra – a qualquer momento podem ter suas casas invadidas por policiais, que chegam metendo o pé na porta e enquadrando toda a família. Os golpistas estão rasgando de vez a nossa Carta Maior!