Há uma semana fomos surpreendidos pelo retrocesso da região de Ribeirão Preto para a fase laranja do Plano São Paulo depois de quase 26 dias seguidos na fase amarela. Queria eu que este fato significasse apenas uma preferência de uma cor em detrimento da outra, ou que fosse consequência de duas cores primárias que sendo misturadas formam a outra. Mas o significado disso é muito sério. Não se trata de uma dança das cores em uma aquarela. São vidas que estão em jogo.
O prefeito Duarte Nogueira foi muito criticado desde o início da pandemia por boa parte da população, principalmente pela classe empresarial, na qual eu me incluo, por seguir à risca as determinações do Governo Estadual, mantendo as medidas rígidas de isolamento social, fiscalizando com rigor os estabelecimentos que estavam descumprindo os decretos. Neste período, Ribeirão Preto chegou a ensaiar uma flexibilização, em maio/junho, mérito do esforço da administração, que acabou vencida na Justiça.
Depois, amargou mais de um mês na fase vermelha. A Prefeitura não parou de trabalhar, abriu leitos, contratou pessoal, reestruturou o sistema de saúde, conversou com todos os segmentos e contou com o respaldo de uma equipe técnica invejável, formada por profissionais competentes e reconhecidos em suas áreas de atuação. Fez a lição de casa com responsabilidade e estava colhendo frutos deste trabalho, com a melhora de todos os índices avaliados pelo Comitê de Contingenciamento. Mesmo assim, o prefeito continuou a receber críticas e teve até seu carro danificado por manifestantes que exigiam a abertura do comércio.
Ao receber a notícia do novo retrocesso, de cara o prefeito contestou porque estava seguro de que a pandemia na cidade está sob controle e com índices importantes em queda e outros dentro dos parâmetros condizentes com a fase amarela. O único que não estava dentro era o número de mortes, que cresceu devido às comorbidades dos pacientes internados, e não por falta de preparo ou assistência do município. A prefeitura pediu revisão de parecer ao Estado, o que foi negado. Recorreu à Justiça e teve sentença desfavorável.
Não satisfeito, o prefeito foi pessoalmente a São Paulo reunir-se com os técnicos do Comitê para explicar a sua posição com documentos e dados comprovados em mãos. Voltou com o compromisso do Estado de manter Ribeirão na fase amarela a partir desta sexta-feira. Mesmo assim, continua a ser criticado por boa parte da população.
Desde o início desta pandemia tenho batido na tecla de que conseguimos contabilizar a quantidade de mortes em razão da doença covid-19 e a essas pessoas e seus familiares deixo as minhas condolências, mesmo porque elas não são números. Eu também perdi amigos e conhecidos e sei o tamanho da dor. Mas difícil está sendo contabilizar os mortos-vivos. Aqueles que estão sofrendo de outro mal, que se dá em consequência das medidas que foram necessárias para conter a pandemia. Empresas fechando, pessoas desempregadas, pais de família sem ter o que colocar na mesa para os filhos.
Para muitos, o remédio fez mais mal que a doença. Tenho certeza de que a prefeitura tem consciência disso e por este motivo está lutando com todas as suas armas para manter a flexibilização em Ribeirão Preto, com toda a responsabilidade e as medidas higiênicas e sanitárias adotadas. Aguardemos para ver qual cor Ribeirão merece.
Espero que o Governo do Estado chancele mesmo esta revisão, que o prefeito, de forma corajosa, defendeu. A única certeza que tenho é que independentemente da fase que vamos seguir daqui para frente o prefeito será criticado, infelizmente. Tem gente que só sabe jogar pedras e nunca se coloca no lugar da vidraça. Isso me faz lembrar do velho e conhecido ditado popular: em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão.