Tribuna Ribeirão
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A conveniência tem preferência sobre a consciência

José Eugenio Kaça *
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Para viver a sua jornada na Terra, o ser humano precisa do antagonismo, pois é ele que alicerça o conhecimento, o desconhecimento, o bem e o mal, o amor e o ódio, a felicidade e a infelicidade, a luz e as trevas, a riqueza e a pobreza, a bondade e a maldade, e este antagonismo criou um modo de vida que define as pessoas de acordo com a sua origem social, e o local de nascimento define o seu futuro. A figura do mal é estigmatizada na imagem do diabo, que pra variar é uma criação humana, assim como o bem é a imagem de Deus, outra criação humana. E este primitivismo ainda habita no âmago da maioria dos seres humanos, que vê no embate entre a razão e o sentimento o sentido da vida.

A conveniência é um sentimento que tem preferência sobre a consciência, embora os otimistas achem que a consciência seja o freio das condutas humanas, mas a realidade mostra que a conveniência ganha de goleada. A solidariedade é um sentimento que deveria pautar a vida humana, no entanto, a conveniência associada ao egoísmo cria um caldo cultural que não prepara o ser humano para ser realmente um ser humano, e com isso os conflitos que deveriam ter soluções através dos diálogos, acabam terminando em guerras sangrentas por conta das conveniências.

O antagonismo é a principal ferramenta usada pelo capitalismo para confirmar a teoria da meritocracia, que vê como coisa natural, que a riqueza e a pobreza, permitindo que cerca de dois mil bilionários tenham riquezas equivalentes a 60% da população mundial, estimada em quatro bilhões e meio de pessoas. Como podemos achar normal essas aberrações? Em algum momento ao longo da nossa jornada histórica, uma parcela da humanidade sonhou com um mundo onde a solidariedade nos conduziria para a evolução, pois a parte do celebro responsável pelos sonhos é a mesma da solidariedade, mas ultimamente falar em ciência é jogar pérolas aos porcos.

E esta luta insana entre conveniência, consciência e o bem e o mal criou dois tipos de seres humanos, os superiores, que foram ungidos por Deus, e têm direitos incontestáveis e podem fazer tudo que lhes provier para atingir seus objetivos, e os seres humanos inferiores, que têm seus direitos limitados pela vontade suprema dos seres humanos superiores. E essa gente que nutre esta suposta superioridade, vem cometendo através dos séculos crimes contra a humanidade. É histórico nas relações humanas, de que em algum momento os oprimidos vão se rebelar e tomar o que é seu por direito.

Este antagonismo histórico produziu dois lados bem definidos: a direita, que é composta por uma maioria qualificada dessa gente “bem nascida”, no entanto há um fenômeno na estrutura social, em que uma minoria de pobres que defendem as teorias e ideologias da direita. Do outro lado a esquerda, composta por uma minoria que luta contra a opressão produzida pela direita. No Brasil, a força do eurocentrismo, criou e deu poder a uma classe, que deveria ser uma elite, que no entanto vive há séculos lambendo as botas dos europeus e do Império do Norte, enfraquecendo e esfacelando a vida do povo pobre.

As maiores atrocidades produzidas contra outros seres humanos teve a direita como protagonista, e o advento da extrema-direita aprofundou em todas as áreas essas atrocidades. A escravização dos povos africanos, a destruição dos povos indígenas e a favelização dos pobres – tudo obra de uma ideologia que se julga superior.

No entanto, essa gente “superior” não sobrevive sem a mão do pobre, pois são as mãos dos pobres que estão presentes em todas as atividades humanas, mas a abdução do conhecimento a que são submetidos, não permite que a venda de seus olhos sejam retiradas, e assim se conformam com a sua situação miserável, e a extrema-direita que usa o fundamentalismo religioso como ferramenta de opressão, cuida para que tudo permaneça como sempre foi.  Não há mal que sempre dure, todos os impérios poderosos que já existiram tiveram seu fim. O relógio das mudanças já começou a marcar o tempo!

* Pedagogo, líder comunitário e ex- conselheiro da Educação  

 

 

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