Tribuna Ribeirão
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A complexidade da educação básica 

José Eugenio Kaça *  
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O cotidiano brasileiro está repleto de atitudes deploráveis, que desrespeitam a vida humana. As violentas abordagens policiais nas periferias pobres, que atingem principalmente a população negra, mostram que a nossa democracia é “relativa, pois as abordagens nos bairros nobres nem acontecem, e quando acontece é dentro da lei, com todo o respeito. Essa dicotomia é reflexo de uma educação básica, que não educa para a cidadania. Uma educação de qualidade não pode se reduzir apenas aos conteúdos escolares, tem que contribuir para a construção de uma sociedade igualitária, onde a solidariedade, o respeito e as relações humanas sejam a marca de uma Nação, mas no Brasil, a maioria das escolas continua sentada no velho estigma, no qual a escola passa conteúdo, e as famílias educam. 
 
A construção da cidadania foi explicitada na Constituição de 1988, e não é por acaso que é conhecida como a Constituição cidadã. Acontece que a raiz escravocrata no Brasil é profunda e resiste ao tempo, e a chamada elite ancorada na aristocracia luta com todas as armas expondo suas excrecências morais, perpetuando o estigma da casa grande e senzala. Quando o ex-presidente José Sarney, em outubro de 1988 Promulgou a nova Constituição, fez questão de enfatizar as dificuldades que o governo iria encontrar para cumprir a nova Carta Magna, pois era moderna demais, segundo suas palavras era uma lei para a Suíça, e não para o Brasil, e essa foi à deixa para que os inescrupulosos começassem a desrespeita-la no nascedouro, e as Emendas ao longo do tempo trataram de colocar os sonhos dos pobres no seu devido lugar. 
 
Voltando a questão educacional, o artigo 205 da Constituição brasileira determina que a educação é dever do Estado, com a participação da família e da sociedade, mas ao longo destes trinta e cinco anos não saiu do papel. Acontece que a maioria das escolas púbicas não permite que as famílias participem efetivamente destes espaços, onde manda quem pode e obedece quem tem juízo, já na rede privada é a ideologia escravocrata que determina como vai ser a formação dos herdeiros dos “donos do poder”, deixando de lado qualquer pedagogia que seja inclusiva e igualitária. 
 
Não existe democracia sem cidadania, e o espaço onde essa aprendizagem se materializa é o chão da escola. O ideal de uma sociedade começa a se materializar no espaço escolar, e a escola pública básica é o alicerce que vai reproduzir a vida em sociedade–é o pilar da democracia. Enquanto a escola básica pública patina tentando colocar em prática novos projetos, os defensores da ideologia da exclusão, como criminosos trabalham para aniquilar as conquistas exitosas. A ideologia da extrema direita, luta para perpetuar a velha política da Casa Grande e Senzala, e fazem isso com maestria em algumas escolas da rede privada, onde são disseminados o preconceito, a intolerância política, sexual e moral, e com isso deixam de lado a pedagogia da inclusão, promovem está ideologia para criar cidadãos inescrupulosos, que são preparados para deixar tudo como sempre foi, mas não se enganem – estão sempre de olho nas políticas públicas que elevam as condições da educação básica. O excremento produzido pela tacanha ideia da “escola sem partido”, que tem a função de criticar e perseguir os novos projetos de uma educação básica pública libertadora e inclusiva. Essa gente criminosa e inescrupulosa tenta perseguir e humilhar os educadores que com todas as dificuldades tentam levar um pouco de luz aos educandos da rede pública. 

Um projeto de País evoluído passa indubitavelmente pela educação básica pública, no entanto não se produz uma educação de qualidade e cidadã, com criminosos sendo os artífices destes projetos. Ter ética é fazer as coisas certas, quando estamos em lugares solitários, quando precisamos de placas de trânsito pedindo para se respeitar as placas já existentes, fica evidente que a cidadania não faz parte do cotidiano. 
 
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação  
 

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