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A Colômbia e sua literatura (6): Juan de Castellanos 

Rosemary Conceição dos Santos* 

 

De acordo com especialistas, Juan de Castellanos (1522-1606) foi um poeta, cronista e sacerdote espanhol que, ainda muito jovem, viajou para a América como soldado de cavalaria, ali adquirindo algumas propriedades. Como militar, participou da conquista do Vice-Reino de Nova Granada junto com Jiménez de Quesada. Como um dos conquistadores pioneiros do lugar, conheceu pessoalmente quase todos os líderes proeminentes de sua época. Abandonou a carreira militar para se dedicar ao sacerdócio (1559) em Cartagena e, recusando as posições de cânone e tesoureiro, foi como clérigo para Tunja, cidade colombiana localizada na Cordilheira Oriental dos Andes, 130 km a nordeste de Bogotá. 

Na literatura, a obra que lhe deu notoriedade foi o poema histórico “Elegías de varones ilustres de Indias”, em quatro partes e com aproximadamente 113 600 versos endecassílabos agrupados em oitavas reais com rima. É o mais longo poema da língua espanhola. Sua primeira parte apareceu em Madrid em 1588, e as outras três em 1837. Os versos recontam sucessivamente os feitos de proeminentes espanhóis na América, começando com Cristóvão Colombo, constituindo-se uma interessante fonte da história colonial do norte da América do Sul, incluindo muitos detalhes de etnografia e etnologia. O poema é o segundo de uma série de composições épicas em espanhol que tratam dos primórdios da colonização da América, o mais antigo sendo “La Araucana” de Alonso de Ercilla y Zúñiga. Não obstante, Castellano é também considerado historiador, sendo sempre verídico e criterioso. Em seus textos desta perspectiva, condena os funcionários que se vendem, a desmoralização dos soldados e a injusta distribuição das conquistas, sendo sensatas suas ideias a respeito da conduta dos conquistadores com os índios. Sobre essa temática, o autor se dedicou à Arqueologia, à História Natural e aos costumes dos aborígenes. 

Os catálogos de passageiros com destino à América mantidos pelo Arquivo das Índias não nos permitem confirmar estes dados, pelo que só podemos assumir a data exata da viagem. Após estas entradas, Castellanos teria se estabelecido antes de 1536 na ilha de Cubagua, então famosa por sua rica pesca de pérolas. Lá ele teria feito parte do contingente militar que protegia os pesqueiros e os habitantes da colônia espanhola dos indígenas da ilha. Assim, estudiosos o identificam com um soldado que aparece em 1536 em uma expedição do capitão Antonio Sedeño ao interior da ilha, em busca de cativos para as pescarias, que custou a vida de muitos índios. Foi uma entrada muito dura, pois ao regressar as onças da selva, habituadas à carne humana fornecida pelos cadáveres dos infelizes índios, atacaram insistentemente os espanhóis, que perseguiam constantemente à saída dos acampamentos. Contudo, outros estudiosos não aceitam esta data antecipada da viagem de Castellanos à América, propondo em vez disso 1539 ou 1540. Após este ano, Castellanos teria ido para Santo Domingo, Curação e Aruba, chegando a Cubagua em 1541. Para tanto, se baseiam numa declaração de 1550 da mãe de Castellanos, que afirma que o seu filho “reside ali nas Índias há mais de nove anos”. 

“Elegías de varones ilustres de Indias”, que publicou em quatro partes entre 1589 e 1601, foi uma obra colossal – que permaneceu incompleta – seguiu um modelo de crônicas biográficas que Castellanos poderia ter tirado de Hernando del Pulgar, ou talvez diretamente do clássico de Plutarco. A obra monumental sofreu vários infelizes acidentes editoriais que a interromperam. Entre eles, os problemas de censura que se destacaram com o “Discurso do Capitão Francisco Drake” que Castellanos incluiu na terceira parte de suas Elegias , e que narrou o ataque de Drake a Cartagena em 1586. Talvez por tocar em um tema tão polêmico de história americana recente, o discurso foi excluído do volume a pedido do censor e marinheiro Pedro Sarmiento de Gamboa e só foi publicado em 1847 na Biblioteca de Autores Espanhóis a partir de um manuscrito inédito. Da mesma forma, permaneceu inédita a quarta parte, que em 1666 estava pronta para ser impressa em Madrid, incluindo as devidas licenças, e que hoje se encontra preservada em manuscrito pela Biblioteca Nacional de Madrid.  

Utilizando diversas fontes para escrever suas famosas Elegias, além das notícias que ele mesmo coletou, Castellanos contou com a colaboração de outros conquistadores em seu esforço, os quais lhe forneceram diversos documentos sobre entradas que ele não havia testemunhado pessoalmente. Por exemplo, Juan de Avendaño deu-lhe um relato verbal da expedição à Dominica, o residente de Tunja Francisco Soler desenhou-lhe um mapa do Lago Maracaibo, o capitão Nuño de Arteaga deu-lhe um relato escrito da expedição de Pedro de Limpies ao Cabo de la Vela , Francisco de Orellana deu-lhe outro sobre a viagem amazônica, Gonzalo Fernández e Juan de Orozco forneceram-lhe relatórios sobre os acontecimentos em Cartagena até a chegada de Castellanos à cidade, seu amigo e benfeitor Domingo Aguirre deixou-lhe seus relatórios de viagem, e até mesmo Gonzalo Fernández de Oviedo emprestou-lhe a parte publicada da sua História Geral das Índias. Graças a essas contribuições, à sua nomenclatura poética própria e à condição de testemunha ocular de muitos dos acontecimentos que narra, Castellanos conseguiu compor uma obra divertida e interessante, muito apreciada pelos historiadores da colônia. 

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