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A Colômbia e sua Literatura (15): Tomás Carrasquilla 

Rosemary Conceição dos Santos* 

De acordo com especialistas, Tomás Carrasquilla foi um romancista e contista colombiano que surgiu no panorama cultural de seu país como o primeiro escritor a dedicar inteiramente a vida ao ofício da literatura. Neste contexto, sua extensa obra literária aplicou certos princípios formulados por ele mesmo, que demonstram clara e firmemente a concepção que tinha sobre o que um romance e uma história deveriam ser. Merece destaque, por exemplo, a absoluta honestidade da sua obra literária e a correspondência entre ela e as suas crenças e atitudes face aos acontecimentos políticos, sociais e culturais da época, bem como aos outros seres humanos, a si próprio, ao que esperava da literatura e, por fim, ao que expôs em muitos textos como seu credo estilístico e poético. A este respeito, ele diz: “A verdade do sentimento que uma articulação lhes imprime é comovente; Move uma alma que se manifesta”.Tudo isso é o estilo, é a forma” E ainda: “Não é a forma que faz o poeta: é o poeta quem faz a forma […] Um estilo é uma alma esvaziada em palavras ou letras. Tudo vem de dentro para fora, não de fora para dentro; tudo está na alma: não há bolinhas de gude, mas cinzéis.”. 

O elemento central de toda a sua obra, e que atingiu suas maiores conquistas, foi a criação de personagens. Em cada um se manifesta o profundo interesse que o ser humano despertava em Carrasquilla. Tinha predileção pelas crianças, pelas pessoas da classe média e da cidade, pelos camponeses e trabalhadores. A classe social alta nunca o interessou. Em sua autobiografia ele diz: “As classes altas e civilizadas são mais ou menos as mesmas em todas as terras de grão-de-bico. Não constituem, portanto, o caráter diferencial de uma nação ou região específica. Esse expoente terá que ser buscado na classe média, se não no povo”. Seus romances e contos se passam em uma região específica da Colômbia, a Antioquia. Mas, partindo do regional, a sua obra adquire um interesse americano e universal, pois transcende o local para penetrar no essencialmente humano e recriá-lo através das personagens perfeitamente individualizadas. 

A sua visão é realista e crítica. O seu poder de observação e o seu grande conhecimento do mundo, recriado nas suas obras, permitiram-lhe captar com maestria, por exemplo, o ambiente mineiro e as personagens das diversas raças e culturas que ali trabalham e vivem, em “Ago tempo” e “La Marquesa de Yolombó”. Os costumes, crenças e tradições de todos os setores aparecem em sua narrativa, sem que este seja considerado um escritor de costumes, pois para ele o costume não é um fim em si mesmo, mas sim ele o incorpora no desenvolvimento da ação e no destino dos personagens. Carrasquilla não idealiza nem esconde defeitos individuais ou flagelos sociais. Ele não faz concessões na literatura, nem as fez na vida. Foi honesto, tolerante, justo, comedido, humano e essencialmente democrático. 

Ele acreditava na aristocracia do mérito e não na do nascimento ou do dinheiro. Na sua vida e na sua obra condenou as injustiças sociais, a hipocrisia, o carreirismo e a inautenticidade em todas as suas manifestações. Profundamente respeitoso com a religião, criticou qualquer forma de utilização dela para atingir outros fins, bem como atitudes falsas e padrões duplos. Ele admirava a devoção sincera e atacava a piedade e a intolerância religiosa. Seu interesse pelo espiritual aparece em obras como “En la diestra de Dios Padre”, “Salve”, “Regina”, “Semana Santa y Curas de almas”. Com simples franqueza exprimiu sempre os seus próprios critérios estéticos e, relativamente à função do escritor autêntico, opôs-se ao que considerava uma série de tendências importadas de França, Inglaterra e Itália, porque lhe pareciam artificiais: “Esta mercadoria de marca estrangeira não pode criar raízes na Colômbia”. 

Profundo conhecedor do discurso popular utilizado em seu meio, afirma: “Quando se trata de refletir num romance o personagem, a natureza de uma cidade ou de uma região específica, o diálogo escrito deve ajustar-se rigorosamente ao diálogo falado, reproduzindo-o na medida do possível […] O escritor tem ampla oportunidade, ao narrar, de exibir domínio gramatical e sintático, sem ter que ‘mexer’ no diálogo dos personagens. E quem consegue uma proveitosa mistura destes dois elementos, alternando a expressão típica das personagens com a pureza da dicção do autor consegue um sucesso muito gratificante em termos de força e variedade”. Na verdade, ele aplicou isso em suas histórias e conseguiu vitalidade, inteligência e muita graça. Ele era inimigo de todos os falsos ornamentos e afirmava que a natureza não precisa ser embelezada. Qualquer tentativa nesse sentido é tão boa quanto tentar falsificá-lo. A sobriedade da sua prosa, limpa de ornamentos, e a singularidade da sua obra são sustentadas pela sua própria posição teórica: “Imitar formas é como imitar temperamentos”. E quanto ao romance, ele o define como “um pedaço da vida refletido no coração e na cabeça de um escritor”. Depois acrescenta: “Esta fórmula recebe tudo, menos mentiras”. Com estas palavras, Carrasquilla resume o seu credo poético: o romance como reflexo da realidade, transformado pela inteligência e sensibilidade do escritor. 

Às vezes seu trabalho tem sido criticado por uma suposta dificuldade: a língua regional, um tanto complicada para quem não conhece a fala do povo de Antioquia. A este respeito, Dom Miguel de Unamuno afirmou: “Este não é um dialeto, mas um espanhol puro com algumas palavras arcaicas”. Com esta afirmação, Unamuno esclarece que não se trata de regionalismos, mas sim de um antigo castelhano que se preserva em algumas regiões da América. Sobre os seus antepassados, Don Tomás diz: “Os meus pais estavam entre pobres e ricos, entre camponeses e senhores e eram mais brancos que o rei de Espanha, segundo os meus quatro avós. Eles eram, todos, pessoas patriarcais, muito tementes a Deus e muito bons vizinhos”. 

 Professora Universitária* 

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