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A caixa do correio

As casas do bairro onde morei nos Estados Unidos, quando jovem intercambiário, tinham todas caixas de correio cravadas em sua entrada. Levavam o nome do morador e tinham uma alavanca que, quando levantada, indicava que havia correspon­dência dentro. Achava aquilo muito prático e sempre pensei em implantar seu uso em minha casa, já no Brasil.

Numa ocasião, fui alertado por um colaborador de que os Correios estavam leiloando aquelas antigas caixas de coleta, enormes, de ferro, pintadas de verde, com o brasão da República, que eram colocadas em pontos estratégicos da cidade. Consegui arrematar uma delas, que coloquei na frente de minha casa. Esperei por muito tempo que ela se enchesse de correspondência, mas, apesar de instruir o distribuidor de cartas, elas eram deixadas no vão do portão de entrada. Infe­lizmente, a caixa desapareceu e apesar de todos os esforços, não conseguimos recuperá-la.

Muitos anos depois, vi com alegria que a administração do condomínio onde moro espalhou caixas de correio em frente às nossas casas. Ao contrário das americanas, que eram de madeira ou alumínio, as nossas são de ferro e a alavanca porta uma ban­deira nacional. A caixa do correio é meu caminho para as notícias dos jornais, das revistas, da escassa propaganda escrita que ainda persiste. É um dos meus caminhos para o mundo externo.

Logo cedo, procuro pela bandeira levantada. Até alguns dias atrás, era fácil visualizá-la pelo vidro da porta de entrada. Mas, agora, uma trepadeira perfumada e bonita teima em se enroscar nela, fazendo com que eu tenha de sair da casa para observá-la. Aliás, esta trepadeira de nome engraçado – quais­qualis – dá bouquês de flores brancas que se transformam em rosa ao cair da tarde e tem um perfume muito agradável. Quando me aproximo da caixa do correio, seu cheiro me transporta para um momento mágico. É como se fosse uma preparação para o dia que se inicia.

Assino vários jornais e revistas online, mas, ainda gosto muito de os ler em forma impressa. De manhã, antes do café, tenho o hábito de ler os jornais de São Paulo que recebo, bem como curto o Tribuna Ribeirão na sua versão digital. Fico muito feliz quando acho na caixa uma das revistas que assino. Mas, não há mais cartas.

É impressionante como a forma das comunicações mudaram rapidamente. Quando estudante na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, bem como meu período como intercambiário nos Estados Unidos, a única maneira de comunicação era por carta. Quando meus filhos foram morar no exterior, toda segunda à noite ficava horas colocando em cartas as novidades da família e do Brasil.

Havia uma quantidade enorme de papéis de carta, enve­lopes variados, muitas vezes personalizados. Em viagens ao exterior, me abastecia de novos modelos.

O advento e a popularização da internet revolucionaram as comunicações, agora muito mais rápidas e dinâmicas. Passamos a falar online via Skype, logo substituído pelo Face Time e pelo WhatsApp. O e-mail é o grande meio para textos mais longos. Hoje, não há limite para contatos com o mundo, através de voz ou imagem.

Não sinto falta do método antigo, embora seja uma agra­dável surpresa encontrar, ainda que raramente, uma carta em minha caixa do correio, carta que me permito sempre respon­der via internet.

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